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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Da crítica ao social sem políticamente e correcto

Sou filho de Abril, nascido antes do PREC, criado no após. Não passei pela ditadura, era demasiado imberbe, não a vivi e não posso expor factos na primeira pessoa apenas considerações póstumas com epilogo duma estado de coisas. Considero-me um subproduto duma sociedade em evolução, com as suas devidas limitações(A sociedade bem entendido! E eu também obviamente...) e as suas dificuldades. Sou alguém que padece também de ausência de ideais, e ideologias, num mundo que hoje em dia nada trás de novo a quem viveu, intensamente e em consciência, os ´80 e ´90. Tenho formação em Ciências exactas, e algumas sociais, embora com estudos académicos, não tenho o epiteto de DR. ou ENG., além de ficar mal, soa a heráldica ou a titulo nobiliárquico, e prepotência. Sou de esquerda, embora não me reveja em nenhum partido do vasto leque à disposição, descrente da religião, por deformação académica, entre o ateu e o agnóstico, embora catalogar algo como isto seja redutor, e quiçá remeta também para a prepotência que referi atrás. Sou Impulsivo e emocional, numa incredibilidade constante do sistema, sou também pessimista, realista e existencialista q.b. com as minhas incongruências, incoerências e vitima deste mesmo sistema e acima de tudo de mim e das minhas convicções sejam elas, endógenas e/ou exógenas. vivo devorando os dias, as vezes sem esperar o amanhã, Vibro com o nascer do sol, comovo-me com o abandono de animais que criei desde a infância, com a fruta que comi das árvores, com a vindima de setembro/outubro, com as férias grandes passadas entre miudos da mesma idade e de outras classes, renasço com um mergulho no mar, e contento-me com as poucas ambições que tenho. Sou uma pessoa difícil, talvez mimada pela revolução, sem ter nunca de passar privações e nunca sofrer na pele a ausência de algo inerente ao crescimento ou desenvolvimento, com acesso total às diversões próprias duma criança, e também à cultura, fazendo da minha adolescência um passeio no parque.



Hoje fala-se muito da tal ausência de ideais, em que esta geração está meio perdida no mundo, sem qualquer motivação, por ter tudo ao dispor, ou pelos menos ter acesso à informação e estar consciente dela, embora muitas vezes não esteja informada nem esclarecida.



No "antigamente" dentro do meu referencial, havia senhas de racionamento durante a guerra, as crianças andavam descalças, o único doce era o açúcar, e as brincadeiras eram caseiras, assim como os brinquedos. Falo da população em geral, nomeadamente a maioria, uma população rural, sem rendimentos pecuniários, que vivia de e para a terra, excluindo daqui uma população urbana, uma elite, latifundiários, gente brasonada, herdeiros e gentes com posses. Uma minoria, quer se queira quer não. Basta comparar os censos, de 1970 com os de 2001...Para não recuar até 1900...



Como dizia, a população, maioritariamente analfabeta, vivia sem acesso à educação, saúde e à cultura, desta última tinha apenas, a popular, não de desprezar por ser a nossa raiz etnográfica e antropológica e o que torna um pais numa nação, o que nos define como povo, e que nos distingue dos demais.
Fala-se(alguns) do Salazar como um heroi, , e as gentes instruidas do litoral, os que o relembram, ou padecem de saudosismo, esquecem-se desta imensa "minoria", em que, o lapis azul, não chegava às aldeias nem às pessoas de classe elevada, não tendo por isso influencia na vida do dia-à-dia das pesssoas, por um lado, pela vida estar reduzida a uma cultura de subsistência quase autonoma e muito longe do poder politico, por outro, por uma posição privilegiada com os centros de poder e decisão, onde a politica andava de mãos dadas com estes ultimos( coisa que não mudou muito nos ultimos anos, mas isso é outra estória). Naturalmente também o crime era muito menor, de dois tipos principalmente, passional e territorial, morria-se e matava-se de cacadeira, por causa da traição dentro do casal, ou pela couve plantada no lado errado do terreno. (Como tudo mudou!....)



A informação e a vivência que nos chega hoje em dia, é deveras diferente e bem mais enriquecedora, a população evoluiu, embora ainda haja focos de pobreza de espirito, paises como Brasil e França(p.eg), o emigrante ainda é visto e conotado como um pacóvio, um bimbo, um ignorante. Com a "Maria" e o "Manel", ambos de bigode e vivendo no bairro de lata.



A Intolerância em vez de se diluir e dissipar, aumenta pelo maior contacto ou "contagio" interracial. Sinal da cada vez maior interacção entre povos, da movimentação e migração das pessoas pelo mundo, pela maior eficácia e eficiência das transportadoras mundiais e o seu mais fácil acesso.
Neste País culpa-se os governos pela crise, os imigrantes pelo desemprego, a ineficacia de instituições ou serviços pela inepcia dos seus funcionários, e desculpam-se as frustrações pessoais delegando nos outros a culpa, sem a atribuirem a si proprios.



Neste Pais está tudo mal segundo os empresários e gestores de pequenas médias e grandes empresas. Contudo são os primeiros a fugir aos impostos como e quando podem, a guardar as suas poupanças em off-shores e a investir em negócios duma economia paralela e extremamente poderosa neste pais à beira-mar plantado.



Neste País, os brasileiros, cabo-verdianos, ucranianos e seus derivados são acusados de roubar os empregos, mas nos centros de emprego continuam à disposição lugares que ninguém quer ocupar, como se o português fosse bom demais para isso e como se ainda vivessemos sobre a Alçada de D.Fernando que tinha uma relação privilegiada com os senhores feudais, descurando o povo...




Interesses que se adivinham obscuros, e estamos predestinados a uma vivência no meio duma corja que só cuida de si mesmo, sem preocupações sociais, como entidades empregadoras que são e como força motriz de desenvolvimento.




As negociatas na coincineração, nas empresas de esgotos e águas, nas obras publicas combinadas pelo bloco central para retirar dividendos, nos futebois, nos jobs for the boys, nos lucros milionários dos gestores de todos os quadrantes, nos prédios devolutos em especulação imobiliária, nos "patos bravos", nas empresas fantasma, etc etc.


Lá atrás quando referi a predestinação, não falo dum destino como o diz a tarologa Maya ou o mestre Mamadu, mas sim de um plano preconcebido para assegurar o futuro duns(poucos) em desprimor dos outros(muitos). O simplex implementado pelos dirigentes de topo, que não sabem se as bases, que é quem de facto efectiva e assegura o seu funcionamento, têm capacidades para o seu desempenho, tornando-o bastante complex... Desmotivando e desmoralizando-os.



Fala-se ainda da descolonização com amargura e mágoa. De quem deixou tudo para trás. Só tenho pena de quem foi forçado a guerrear numa terra estranha e por motivos que desconhecia. Os que lá viviam e que possuiam latifundios, apregoam que até tratavam bem os "Pretos", pois claro, mas é uma questão relativa e se recuarmos algumas gerações, os mesmos pretos andavam agrilhoados, e eram mercadoria...Lembra-me na história de D. Manuel( Ou D. JOão V??) que trouxe duas Bestas( Elefante e Rinoceronte) para o terreiro do paço e divertia-se o povo e a nobreza com apostas de quem matava quem. Era uma novidade...não existia o wrestling... Nem mundo virtual, era tudo bem real...



Em suma, a culpa do mal do país, da intolerância, do atraso, do dito sub-desenvolvimento, que é aparente, pois a crise só chegou aos "outros",e tem unica e exclusivamente motivos nos comportamentos desviantes duma classe que olha para o umbigo, e a unica coisa que deveria fazer era culpabilizar-se pela ignorância, ou indiferença, e atribuir os defeitos a si mesma, fazendo uma introspecção, pois a revolução é já passado, foi feita há 30 anos. A evolução; a das mentalidades está em curso, mas infelizmente é marginal, tendo como consequência os problemas que se debatem e as assimetrias que todos conhecem e ninguém quer ver, fecham os olhos, Mas abrem-se de repente, pelo fascinio do marketing, pois saiu o novo Nokia 10225X e o BMW 7ZB e o guito não dá para tudo. Que miséria de facto...