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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Memórias da Recordação dum esquecimento

Vai e lança-te dali. Não! Parte! Vai e lança-te ali naquele charco imundo translucido e transcendente. Sim! Cuidado! Deslizas nos pedaços de terra bolorenta e dum chão aveludado. Deixa-te ir, Salta e cai. Tomba na tumba e derrete. Desfaz-te em pedaços, deixa a matéria decompor-se, mescla-te à turfa e sente o tempo a destruir-te, sente os olhos a secarem, a pele a esvaziar-se do seu conteúdo. A vida a esvair-se. Vai e prova os sabores de mil e um horrores de corpos decompostos desde o terciário. A fundirem-se e a misturarem-se num gigantesco cadinho cósmico. Vai sim. Sente a matéria orgânica a transformar-se em pedra. Torce-te. Sem dó, deixa a tectónica desmontar-te, carrega o peso da Crosta sobre ti, enterra-te na mais profunda das catacumbas celestes. Vai e esmaga-te contra o Manto, dilui-te nele. vai com o negro do cobalto junta-te ao níquel e ao ferro.Vai e sente a pressão levar-te. Decompõe-te em fragmentos Transforma-te. Transtorna-te como a matéria em fissão, de mil cores, sem odores, que te ultrapassam e levam ao espectro da luz e a nenhures. sente a radiação e o magnetismo em todas as direcções. Separa-te e vai, leva-te com a cinza, a lava, o plasma. Vai e derrete-te, sente o Núcleo a pressionar-te, a queimar-te a alma, a cremá-la. vai e perde a direcção e o sentido, a sensação e um tímido gemido. Vai e serás esquecido, tanto no espaço como no tempo. Vai e perde a dimensão. Parte e larga o peso, vai e sente a massa, viscosa, outrora lamacenta. vai e recorda o corpo putrefacto. vai e deixa a lembrança duma epiderme esquentada e pardacenta. Perde-te e descobre as emoções da descida decadente. vai e perde o fulgor, segue e cria o ardor. Vai e enche-te de ardente matéria, explode por dentro, implode sem espaço. sente toda a gravidade do Planeta e cruza-te com um criador. A esmagar-te num abraço. O que era o corpo, converte-se em dura carapaça, um viscoso cimento e a temperatura aumenta. Dum lado brilhas em tons laranja. bizarro acontecimento, do outro destilas num tormento. E vai amorfo em tons de cinzento. Vai e cose, estica-te até ao infinito, alarga-te! Vai e expande-te! Vai apenas em radiação que escorre para o centro e se expande demais para o negro firmamento. Entra e penetra na Esfera dum astro e sai pela forma duma partícula, dum neutrino, isento de massa e de qualquer sentimento. vai e deixa de ser. Vai e sente a máxima densidade e desfaz-te no vácuo frio que te cobre sem pudor e piedade. Observa agora a tua essência e exala-te de ti , vai na tua ausência. Sim! vai e esquece-te de ti. Vai e viaja sem pensamento. Segue em espiral e escravo duma qualquer excêntrica órbita, numa velocidade centrifuga, que não te larga, que te tortura e puxa intemporalmente. Fica no centro, isolado de qualquer elemento, decomposto num electrão, em eterna fusão, choca e salta como um fotão, numa aterradora visão, e tentadora ilusão, percorre o universo, sozinho e eternamente

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