Hoje ao almoço passei mais uma vez por um pedinte que deve ter a minha idade. Fico sempre na dúvida para que quererá o dinheiro. Fiquei a matutar se lhe desse 20 ou 30 cent, o que iria fazer? Iria encher o copo de vinho ou iria encher os estômago? Terei eu culpa da conjuntura económica e serei eu o salvador deste rapaz? Pensei também que com os cêntimos que lhe faltava iria encher as veias do produto que ressacava. Poderei eu terminar com o problema das drogas a nível mundial e com todos os problemas que isso acarreta? Divaguei se essa quantia seria o suficiente para uma dormida no meio de lençois em vez de pernoitar no meio de cartões no mármore de um qualquer lance de escadas? Poderei eu substituir-me à acção social?
Certo é que o meu copo está meio cheio e o dele está vazio.
Certo é que o meu copo está meio cheio e o dele está vazio.
Tempos havia em que trabalhava numa junta de freguesia, alimentava e vestia um rapaz chamado Carlos. Vivia no Seixal, mas tal como o seu irmão,preferia dormir nas ruas de Lisboa para fugir ao ambiente de violência familiar. Estava entre outros iguais e parecia relativamente feliz entre brincadeiras de putos na Praça da Figueira e os momentos de seriedade em que perseguiam os tóxicos que lhes causavam repulsa. Esperava-me no Cais do Sodré pontual com um relógio, sempre que me via sair do metro em direcção ao comboio. Uma vez não apareceu. Passou-se um tempo.Vi-o noutra ocasião com uma cara chupada, sujo a fazer choradinho e quase a humilhar-se perante as gentes que viajavam no metro. Dei-lhe uma reprimenda, desculpou-se dizendo que assim não tinha fome. Enfim.
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