A principio não via nada, estava escuro, a chuva caia a potes, a estrada escorregadia. Encostou na berma. As palavras não saiam e demoravam a passar-lhe pela cabeça. Não que tivesse dificuldades de dicção, apenas não possuía boca. Saiu e vagueava pela beira rio. Os peixes saltavam e brilhavam à luz fosca da fosforescência natural do dia. Não pescava nada. Os anzóis rombos prendiam-se na calçada. Pesavam-lhe. Demoravam-lhe a caminhada. Descansava à sombra, a árvore tapava-lhe os horizontes verticais. Tremia de frio e de medo. De falhar, de não conseguir. Atirou a primeira pedra, saltou na água até ao infinito, Tentou segui~la com a vista, mas perdeu-se na densa floresta. a humidade era tremenda, cheia de mosquitos e ruídos estranhos. Receava encontrar algo medonho.Trancou-se por dentro da mente. Não conseguia sair mais tarde e chegou atrasado. Já o comboio tinha partido assim como o serviço de chá, tomou apenas um café, seguiu de metro para casa e ligou-se na TVI e passava a novela Filhos do Firmamento, história que conta a passagem de dois irmãos gémeos que separados à nascença vieram a saber mais tarde que eram siameses e sempre estiveram juntos, fez zapping e vegetou.Um dia assim se passou.
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