João Cruz Oeiras de Portugal adesão a portal.membros@spautores.pt

Nome

Email *

Mensagem *

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Um Lugar no Cosmos


Segundo dizem,cada pessoa nasce com um Karma.Outros dizem que nascemos já com uma sina.Ainda há quem diga que temos o destino traçado (esta será similar à primeira e à segunda, embora estas ultimas soem mais a sabedoria popular ocidental)
Somos iguais no sentido que todos possuímos os mesmos sentidos, e diferentes uma vez que cada um é único, e tem a sua forma de pensar, ser e estar.
Reagimos diferentemente a situações iguais, consequência das experiências passadas, aos reflexos condicionados, aos impulsos, ao património genético e memético. Uma reacção a uma qualquer acção pode ser motivada de diferente forma segundo a carga hormonal de cada um.
Na Psicologia diz-se que todos temos as seguintes componentes comportamentais e sociais: assertiva, manipuladora, agressiva e passiva.Reduzir o ser humano a estas funções é ser redutor( passo a redundância).
Não seremos mais que isso? Deveremos ser, pois temos uma mente rica cheia de sinapses,neurónios e dendrites nervosas, ligadas de forma aleatória (ou não!). Além dessas componentes há pessoas mais emocionais, mais racionais, etc e etc, e ao tentar explicar uma acção de alguém, com o exemplo de outras pessoas,ou tentar explicar com as nossas próprias convicções é fazer de nós máquinas que reagem roboticamente, que respondem por impulsos binários. e que reagirão sempre de igual forma.
Somos mais que zeros e uns, que sim e que não.Mas estarão as formas de ser relacionadas com o passado de cada um, com a faixa etária, a classe, o sexo, o credo e até a cor? Justificarmo-nos com padrões previamente estudados é simplificar o pensamento humano e reduzi-lo a matrizes matemáticas.
O problema é que a matemática e ou informática é baseada em conceitos antagónicos, por oposição, por contrários e pelas combinações dos mesmos. O ser humano vai mais longe, funciona com o talvez, e trabalha com a imaginação e a criatividade. Que transcende qualquer equação matemática.
Há pessoas que se integram bem na sociedade. Há outras que não se revêem nesta. Há outras ainda que buscam mais que a sociedade e que viviam bem sem ela. Aliás, há mesmo aquelas que não sabem que esta existe.
O problema de viver é complexo, seria simples se nos dedicarmos à caça e à recolecção, mesmo assim suponho que tenham tido as suas crise existencialistas. O problema de se aceitar o que se tem também. AS formas de estar são milhentas, e as justificações para tais atitudes muitas vezes são condenações e julgamentos dum pensamento ou de um sentir diferente, se não diferente pelo menos particular, ou sui generis, ou especial. Cada um vive como sabe, e muitos como querem, outros passarão a vida à procura do que são.
As ambições esgotam-se quando já nada de novo existe.
Tem de se conviver com o que se possui.
Falta-nos sempre tudo, quando não nos lembramos do que possuímos.
Quanto mais se tem, mais frustrados ficamos,e em chegando a um zénite emocional racional ou material, a tendência é para estagnar, ou procurar algo mais que ainda não exista ou que não seja convencional, muitas vezes refugiando-nos no que já transcende a ética e a moral, para que a fasquia seja novamente elevada.
Quando os nossos princípios não nos permitem ultrapassar essa barreira, atingimos um pico, e a essa curva ascensional, que é a vida, e que tendia para o infinito, tende agora para se aproximar do zero. Pois nada mais há nas coordenadas do sentir e do ser.
Leva-nos a questionar o nosso papel aqui, o porquê de continuar, a indagar método de resistir, a procurar nos outros um objectivo que nos falte, a buscar fora de nós um motivo para prosseguir, um apoio externo que anule a nossa fútil condição humana.
A nossa evolução passada, que culmina com este cenário, conduz-nos a uma sensação de servidão humana. Em que nada nos surpreende, nada nos fascina, nada puxa pela nossa inteligência, a função cognitiva torna-se nula, a criatividade inexistente, a visão da beleza universal é enevoada e descabida de fundamento pela nossa situação de termos chegado a um ponto em que já é deja vu. Os sonhos, memórias e recordações de bons momentos são guardados no mais profundo fosso mental, ficando a mente entregue às lembranças de tudo o que é nefasto e desagradável. Um sentimento de espera se apodera do nosso corpo e alma, acções auto-destrutivas preenchem os espaços que antes eram ocupados pelo vibrar do existir, pela felicidade que o tempo inibiu, pela vontade de rumar sem destino. O caminho outrora desconhecido, é agora mais que recalcado, e já não há lugar a continuar por ele, ou prosseguir por se mostrar entediante e monótono.
Chega-se portanto a um abismo forçado, muitas vezes por falta de auto-estima ou insegurança interna, quiçá também sinal dos tempos, em que tudo nos é dado de mão beijada e que a informação é transmitida, absorvida e dissecada a uma velocidade avassaladora, tornando-nos consequentemente mais vazios, e sentindo-nos mais fúteis e banais, numa sociedade que nos torna mais iguais, que nos normaliza, e contudo impõe e mostra as diferenças a outras culturas, mais antigas até,mas que não vivem de acordo aos padrões impostos por esta sociedade que tem como pilares a igualdade e tolerância,e no entanto tende a tornar-se mais adversa à diferença, criando assim estigmas, provocando atritos e conflitos, numa tentativa de absorver e abafar, sufocando, as sociedades culturais antigas que ainda se regem sem a máquina da propaganda e da publicidade por trás.
Assim sendo somos vitimas duma sociedade de consumo imediato que tudo nos impõe. Tem regras até pra nos fazer felizes,com quem estar, com quem casar, como viajar, como passear, com quem dormir, como ser melhor que o outro, como lixar melhor o outro...
E assim vamos andando, cantando e rindo, muitas vezes com excesso de estímulos exteriores e deficit de estímulos interiores, que é como quem diz, um pouco mais de amor e carinho, e um dialogo interpessoal mais construtivo, virado mais para nós, para o nosso intimo em vez de julgamentos de personalidade, e conversas de afirmação pessoal,e de se tentar provar algo a alguém. Pois acho não temos de justificar a nossa forma de ser perante os outros como forma de desculpar as nossas omissões ou falhas.As coisas acontecem por si, não por serem provocadas. E isso era ter o condão e o requinte de prever todo um modus vivendi desde o nascimento. E não seria necessário muito auto-controle e uma capacidade de auto-analise sobre-humana e coerência muito eficaz para viver segundo esses moldes? Na volta não...Infelizmente eu não possuo tais caracteristicas. Sou um ser longe da perfeição, cheio de incongruências e inépcia. Ou talvez toda a minha vida seja uma justificação. OU então toda a justificação seja uma vida. Ou será que devo-me deixar de existencialismos e estar quietinho e ser carneirinho? Deixar de me sensibilizar, de mostrar afecto, de me expôr, de gostar de carinho e amor, de alimentar-me de paixão? Talvez seja melhor mudar. Ser alguém indiferente, rígido, inabalável, curto e grosso, sem expressão, lívido, apóstata, frio e calculista? Seria decerto muito mais feliz!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

dedicado a ti

Tensão por detrás das grades

O tempo passava lentamente, naquele qualquer dia de uma verão em um qualquer lugar campestre. A situação era incontornável e inadiável. Todos estavam reunidos numa pequena parcela daquela que era uma gaiola gigante. Em grande agitação mas num silêncio sepulcral. Esperando um outro elemento que todos desconheciam mas que iria revolucionar as suas vidas. O sol que apesar de se estar a pôr e terminando mais um dia, era quente e tornava a paisagem ainda mais silenciosa, com ondas de calor que irradiavam do solo e que pareciam que abafavam as sonoras, esbatendo as cores e variando o tamanho das Iris. Ninguém tugia nem mugia, os olhares cruzavam-se como que comprometidos, desviando-o logo em seguida e fitando o infinito, simulando todos um ar pensativo e de mentes distantes. Parecia que o mundo tinha parado, nada se mexia naquela tarde soalheira de céu muito azul, tal era a tensão. Embora num quadro quase idilico, pareciam estar todos às portas do Inferno. A comunicação além da visual era inexistente, um esgravatava o chão, outro andava de um lado para o outro, outro ainda subia e descia ao que aparentava ser um poleiro, logo descendo tanto era o desconforto da situação. Um ambiente de cortar à faca, as gargantas secas, as vistas cansadas da poeira que voava no ar provocado pelo movimento dos corpos naquele chão arenoso. De súbito, ao longe, bem perto da linha do horizonte surge uma figura humana que se dirige para eles, vem apressado com algo nas mãos, tentam focá-lo para terem a certeza que era o contacto pretendido, estava distante e a contra-luz apenas podiam supôr quem era pela forma e maneira de andar. A agitação era enorme, andavam agoar dum lado para o outro, presos dentro daquela cerca metálica, todos queriam ver melhor, aproximando-se da rede e atropelando-se uns aos outros, chegavam a degladiar-se para serem os primeiros a obterem algo dele, o que aparentava ser um grupo homogeneo, provou ser um aglomerado caotico de seres, cada um por si não olhando a meios para atingir os seus fins. Magoavam-se tentando voar pela cerca, alguns sangravam mas ninguém desistia.A figura humana longinqua aproximava-se rápidamente, e sem mais demoras abre a cancela, parece dizer algo para os acalmar, calça as botas e entra, todos se afastam à sua passagem dando-lhe espaço. Em poucos segundos chega aos gamelos, despeja o farelo e deixa que todos se aproximem e comecem a alimentar-se. E assim mais um dia termina na capoeira.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A ingovernabilidade,a procriação, o "momento de dizer verdade", os cabo-verdeanos e ucranianos no Aeroporto, e as cabalas pré-fabricadas

Pensamentos confusos Parte I

O dec. Lei 122 de 21 de maio dá competências às conservatórias do Registo Comercial para transmitirem oficiosamente e a nível informático, todos os actos das empresas à DGCI e à Seg. Social, tal como aconteceu com as empresas on-line e empresas na Hora. Assim sendo as Lojas da Empresa criadas, para facilitarem os contribuintes, não carecem da presença de funcionários destas duas entidades. Passará a ser da exclusiva responsabilidade das conservatórias comunicar todos os actos administrativos e burocráticos às outras entidades para a formalização de todo e qualquer inscrição ou alteração das sociedades constituidas, e perde-se um organismo que era invejado por esse mundo fora, a dita cuja Loja da Empresa.

Quer isto dizer que a Empresa X, quando quer alterar a denominação, a sede e a gerência, basta deslocar-se à conservatória dentro ou fora duma Loja da Empresa. E se por ventura os dados que constarem da base de dados das outras entidades não forem coincidentes com as que estão averbadas na Certidão permanente da Empresa, aquando do cruzamento de dados, terão que as outras entidades pedir ao contribuinte todos os dados referentes à empresa X, fazendo com que um processo que virtualmente demoraria meia-hora, passe demorar quase um mês, o que na pratica faz com que sejam sempre necessários os funcionários da DCGI e da SS, para o bom desenvolvimento e seguimento dos procedimentos administrativos, voltando à maneira antiga, e muitas vezes duplicando dados, fazendo crescer o número de papeis e tornando ainda mais kafkiano o sistema.
Serve portanto este diploma para dispensar funcionários desses serviços, e ao invés de se simplificar o processo, simplifica-se o número de colaboradores, e acto contínuo, reduzir a despesa do estado.
Esta Geração de políticos, que agora está e esteve no poder e que na altura do 25 de abril tinham pouco mais de 30 anos, e nacionalizou tudo o que havia para nacionalizar, foi mudando de partido para continuar no poder, para liderar e poder cuidar principalmente de si. Entretanto privatizaram essas mesmas empresas, arrecadando milhões, que foram distribuidos não pelos cofres do estado mas pelas suas bolsas. Anos depois, veio a União europeia que deu mundos e fundos, e as bolsas engordaram. Chegaram perto da idade da reforma, e puseram-se a fazer contas: e nos ultimos 5 anos em actividade contribuíram para a seg social somas exorbitantes, para usufruírem de pensões milionárias. Mas antes de saírem, mudaram as regras do jogo e impuseram que o cálculo da reforma fosse todo período contributivo, ao contrário do que com eles aconteceu, pondo em cheque o futuro de milhões de beneficiá rios que não vão ter nem um décimo das suas reformas nem uma ninharia das suas regalias, esse senhores apregoam que "tem de ser, que o país não está para luxos", mas entretanto tratam de si e dos seus, comprometendo as gerações vindouras.

Os mesmos senhores que através das negociatas, controlam agora as grandes empresas, e detêm o monopólio politico económico e social do país, os mesmos que agora são contra TGV`s Aeroportos, Pontes e outras obras publicas, pois são os mesmos que têm o dinheiro aplicado em off-shores, e os mesmos senhores que quando estão na oposição têm que contrariar as politicas dos seus opositores, sendo quase uma condição axiomática para ser oposição, O ser do contra. Mas tudo vai bem, porque felizmente para eles as reformas são em média de 12000 euros ao contrario da média dos salários em Portugal que não ultrapassa os 700 euros.


Posto isto, e levando em consideração que muitas das empresa na hora, são feitas por motivos obscuros, que as grandes empresas nacionais estão nas mãos de administradores do bloco central, que os interesses das resoluções ministeriais, programas eleitorais e diplomas legais servem essas mesmas pessoas, e não servem o interesse nacional.
Não é preciso ser muito inteligente, e basta estar minimamente formado e devidamente esclarecido, com uma mente aberta para: Chegar-se à conclusão que independentemente da ideologia do governo que esteja no poder, nunca é para servir o povo, mas para servir um reduzido numero de famílias desses mesmo senhores.
Enfim...Votem neles pois vivemos no melhor dos mundos....





sábado, 19 de setembro de 2009

Quando voltar


Quem me dera ser dia.
Sábado ou Domingo.
Um só Dia. Um Verão.
Às sete da manhã por exemplo.
Um dia eterno e porque não?
Acordar dum longo sono e desfrutar. Gozar o calor, o Sol, os horizontes abertos, o espaço infinito num tempo ilimitado.
Sonhar.
Poder ter horas sem horários.
Poder ter caminhos sem indicações.
Partir sem destinos.
Andar fora dos trilhos.
Sair do curso, da rota, sem norte.
Observar tudo e o Todo ver.
Entregue à minha sorte.
Ser um ser diferente a cada instante, moldar-me a cada momento, adaptar-me instantaneamente.
Encontrar-me a cada esquina do mundo.
Descobrir-me numa qualquer praia que banha a Terra.
E talvez chegar lá atravessando o campo de flores amarelas e vermelhas, às centenas.
Deitar-me na areia branca; olhando o céu azul, contemplar-me no mar esmeralda, encandear-me com o sol, percorrer o arco-íris com a mente, esvaziar o corpo, e estar pleno.
Focar o mar, ver as ondas, rebentar de alegria e explodir de êxtase com elas.
Levantar-me com o sol a erguer-se, e com a aurora esquecer a eterna noite, e correr.
Saltar e voar até mergulhar e lá permanecer.
Sem nada escutar. Apenas sentir o oceano a envolver-me, fazer parte dele. Ficar por ali, apenas envolto no fluido e fluir com ele.
Ir ao sabor da maré qual cliché.
Perder o pé.
Nadar, nadar, andar até perder.me de vista.
Perder-me. Achar-me e fazê-lo novamente.
Sozinho entre a terra e o mar.
Acompanhado por tudo o que me é sagrado.
Esquecer os tons pardacentos, pintalgar tudo de verde e prateado.
Retocar os cinzentos e apagar o breu.
Iluminar o negro e brilhar.
Novamente o mar
e tocar da chão o céu
Secar ao sol para outra vez molhar
Criar essa outra rotina até me fartar.
Depois?
Sair da praia e entrar na floresta de cheiro a pinho.
Ver e ser como um pássaro, sem voar nem ter ninho mas desfrutar.
Caminhar pelo mato, os silvados, atravessa-los através dos espinhos
Sim. rasgam-me a pele, já nem sente ardor.
Nada rasga a alma com este recente torpor.
Nada é frio, nada nem ninguém está vazio.
E sim. Está calor e recomeçar, quiçá estar sempre em viagem, sem avião, sem malas, sem culturas e arquitecturas.
Viajar não para ir mas somente estar.
Não parar.
Um sábado que se inicia, um dia que não acaba, um sol que não se põe, uma vida que recomeça sem nunca acabar.
Sem nada findar, tudo está por iniciar.
E quem me dera ser...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Outono/Inverno naif



Com o Verão partem andorinhas

digerem-se sardinhas

há caracóis aos molhos

e alegria nos meus olhos


Em diante épocas estranhas
festividades

e feriados

regressam as castanhas

e há novidades

nos simples resfriados


Cria-se um torpor

no meio do outono frio

e na ausência do calor
fica o ser e a alma clamando pelo estio


Nem tudo é feito de dor

nem tão-pouco de uma dormência ou ardor

não hiberno nem padeço
pois fico com algo que não me esqueço
no entanto vibro e aqueço,

com o meu amor.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Quim

Quim (nome fictício), vivia no Seixal(localidade fictícia), da apanha de bivalves junto às salinas e da pesca de arrasto no Mar da Palha, fazia o seu dia-à-dia com o seu fiel amigo, e sempre em total secretismo, pois quim tinha uma 2ª vivência. Por detrás desta fachada de empresário em nome individual e da solidão do mar, na pacatez da sua casa isolada no sapal e escondida para lá dos canaviais, onde o ruído da cidade não chegava, nem a curiosidade das pessoas autoctones o perturbava, escondia outra profissão. Saia cedo com as redes, metia-se no barco de 3 metros com o seu motor fora de bordo de 15 cv, e rumava a Noroeste. Acostava na doca dos Olivais, e passando despercebido, vestia a sua indumentária e apetrechava-se da sua ferramenta, montando-a minunciosamente sem qualquer ruído, com uma destreza e celeridade capaz de impressionar qualquer profissional da sua área. Na manhã quente, juntava-se à multidão junto do ramal ferroviário e entrava na composição com rumo a santa apolónia, aí chegado consultava o horário e entrava noutro comboio na direcção oposto a que viera, saindo antes do Oriente, mudava rápidamente para o autocarro que o levava ao centro da cidade, procedimento este talvez descabido para o comum dos mortais, mas indicado para quem gostava de saber que não era seguido. A paragem onde saia encontrava-se deserta, podia então regressar ao ponto de origem. Tinha a morada consigo, no nº3 subiria ao 9ºAndar apenas transportando o que aparentava ser uma mochila de estudante. Tocou à campainha, demoraram a abrir, à porta um homem de figura esguia, num fato impecável e imaculado cor de cinza e uma gravata da mesma cor,com um sorriso disseram-lhe para entrar e esperar na sala. Pouca mobilia, uma estante de livros na parede oposta ao sofa onde se sentara, duas janelas do seu lado direito de persianas corridas, criando um ambiente escuro em que os olhos demoravam a adaptar-se, fixou cada pormenor da divisão, olhou para o relógio, e abria a mochila, ao perguntar-se se estaria na hora, outro homem avançou para a sala e disse-lhe para entrar, levantou-se cuidadosamente e seguiu-o para a casa de banho, correram as cortinas e apontaram para a banheira. Quim percebeu logo o que se tratava, sacou da ferramenta e ia iniciar o mais duro dos trabalhos. Quim era Canalizador, e trabalhava a recibos verdes...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sonho


A escuridão abarcou o seu universo, e na monotonia de mais um dia passado, esforçou-se por adormecer. Sonhou que estava rodeado de gente, que era estimado, que amava alguém,, vivia em comunidade, tinha alguém que dividi-se as tarefas, tinha quem o escutasse!...Ouve um trovão, um ruído enorme, as personagens e o cenário definham até se perderem nos meandros da sua mente, transportando-o de novo à realidade. O que escutava não era mais que uma rocha que se desprendia lá fora da sua caverna,e que rebolou com estrondo até ao vale fundo. Acordava mais um dia não abriu os olhos tentando voltar ao seu belo sonho, era tarde. Acorda com a luz da aurora, chega-lhe aos sentidos um cheiro neutro duma paisagem amorfa em mais um dia pardacento. Não se levanta, de costas pra cima suspira, e chora desesperadamente. A tristeza assola-lhe a alma, ataca-o fisicamente retirando-lhe as restantes forças.
Sabe que tem de continuar. Sem uma réstia de esperança sabe que não pode desistir, mas fraqueja, e quase por momentos sente-se tentado a saltar e ir mais longe que a rocha lá ao fundo, no chão cinzento do solo.
Sente a energia a esgotar-se, o seu estado normal é a angustia, a sua expressão pesada, e com os passos arrastados prossegue caminho, sem destino geográfico mas com um objectivo. Está sem força anímica, sem fé, porém a ânsia de encontrar alguém é mais forte que ele. Move-o a solidão, a necessidade do contacto com um seu semelhante. Querendo encontrar a novidade, num mundo já sem surpresa, que sem saber já percorre desde tempos imemoriais, mais que séculos, uma eternidade. Percorre trilhos ainda marcados pelas suas pegadas quase fossilizadas. Caminhos que já esqueceu, paisagens agora recordadas em memórias difusas e gastas. Um eterno dejá vu. Caminha na mesma estéril paisagem indefinidamente. Continua, mesmo assim. No entanto com desalento, sem esperança, e sem descobrir nada que o fascine. Repetem-se as passadas, os gestos, os momentos, instantes infinitos.
Dirige-se para o horizonte, de dias iguais, noites semelhantes, desde o início dos tempos. Não vive para a auto-preservação do seu Eu, sobrevive sim para encontrar um alguém. O objectivo não é ser...Existe com o fito de se encontrar. Não consigo mas com um seu semelhante, alguém para ver, para falar, abraçar e perguntar o porquê de simplesmente estar, questionar o porquê. Onde está e quem é. Viajou por todo o espaço, num tempo infinito, e vive agora esperando o fim. Desiste e fecha os olhos. Esperando que o sangue pare de circular, o coração sem bater, e o cérebro sem impulsos. Cessa o corpo, extingue-se a alma, e o Globo continua a girar sem ele. Eternamente.