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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sonho


A escuridão abarcou o seu universo, e na monotonia de mais um dia passado, esforçou-se por adormecer. Sonhou que estava rodeado de gente, que era estimado, que amava alguém,, vivia em comunidade, tinha alguém que dividi-se as tarefas, tinha quem o escutasse!...Ouve um trovão, um ruído enorme, as personagens e o cenário definham até se perderem nos meandros da sua mente, transportando-o de novo à realidade. O que escutava não era mais que uma rocha que se desprendia lá fora da sua caverna,e que rebolou com estrondo até ao vale fundo. Acordava mais um dia não abriu os olhos tentando voltar ao seu belo sonho, era tarde. Acorda com a luz da aurora, chega-lhe aos sentidos um cheiro neutro duma paisagem amorfa em mais um dia pardacento. Não se levanta, de costas pra cima suspira, e chora desesperadamente. A tristeza assola-lhe a alma, ataca-o fisicamente retirando-lhe as restantes forças.
Sabe que tem de continuar. Sem uma réstia de esperança sabe que não pode desistir, mas fraqueja, e quase por momentos sente-se tentado a saltar e ir mais longe que a rocha lá ao fundo, no chão cinzento do solo.
Sente a energia a esgotar-se, o seu estado normal é a angustia, a sua expressão pesada, e com os passos arrastados prossegue caminho, sem destino geográfico mas com um objectivo. Está sem força anímica, sem fé, porém a ânsia de encontrar alguém é mais forte que ele. Move-o a solidão, a necessidade do contacto com um seu semelhante. Querendo encontrar a novidade, num mundo já sem surpresa, que sem saber já percorre desde tempos imemoriais, mais que séculos, uma eternidade. Percorre trilhos ainda marcados pelas suas pegadas quase fossilizadas. Caminhos que já esqueceu, paisagens agora recordadas em memórias difusas e gastas. Um eterno dejá vu. Caminha na mesma estéril paisagem indefinidamente. Continua, mesmo assim. No entanto com desalento, sem esperança, e sem descobrir nada que o fascine. Repetem-se as passadas, os gestos, os momentos, instantes infinitos.
Dirige-se para o horizonte, de dias iguais, noites semelhantes, desde o início dos tempos. Não vive para a auto-preservação do seu Eu, sobrevive sim para encontrar um alguém. O objectivo não é ser...Existe com o fito de se encontrar. Não consigo mas com um seu semelhante, alguém para ver, para falar, abraçar e perguntar o porquê de simplesmente estar, questionar o porquê. Onde está e quem é. Viajou por todo o espaço, num tempo infinito, e vive agora esperando o fim. Desiste e fecha os olhos. Esperando que o sangue pare de circular, o coração sem bater, e o cérebro sem impulsos. Cessa o corpo, extingue-se a alma, e o Globo continua a girar sem ele. Eternamente.

1 comentário:

Carla disse...

Pensa que a vida é bonita e a espera nem sempre é vã, para aquele que acredita na surpresa do amanhã. Coitado, neste caso tudo cessou.
gostei bastante deste "Sonho" é bom para a ideia que tens