Meu nome é Tó, mas todos me tratam por Cajó, nasci em Cabinda, quando ainda era Portugal, e cresci na Metrópole, perto da base aérea do Montijo, tendo em pequenito desenvolvido o interesse pela observação de pássaros e outras aeronaves.
Fui expulso de casa pelo meu pai aos 13 anos, achou que era a idade certa para começar a trabalhar, e ao contrário dos meus vizinhos, não conhecia ninguém na autarquia e nem tão-pouco tinha conhecimentos como o meu Tio que conseguiu por o seu filho como Arquitecto na Câmara municipal, por ter um afilhado, que por sua vez, tinha sido deputado, e cuja mulher exercia funções executivas numa faculdade privada. Tive portanto de me fazer à vida, construindo a minha casa, com barrotes de madeira e placas de zinco, junto às salinas do Samouco.Os meu primeiros camaradas de quarto foram dois pombos, o Quico e o Treco. Tentei ensina-los a voar, o que não foi difícil, e ao mês e meio de idade já esvoaçavam pela sala. Acabaram por sair para a rua, e passados 30 anos ainda me saúdam, quando no meio do bando, lhes dou milho na Praça da Figueira.
Falo-lhes em pleno Séc XXI, a minha zona cresceu muito e desenvolveu-se, e apesar da crise e do desemprego, consegui meter-me na pesca artesanal, em part-time, tendo para o efeito uma pequena embarcação de 5 metros e um motor de 18 cavalos. Uma das minhas primeiras proezas e os meus 15 minutos de fama,foi ter feito, naquele pequeno bote, a viagem Montijo-Cais do Sodré, numa hora e meia, com o vento e a maré de feição! Há quem diga que vai ser o transporte do futuro, pois com a nova ponte, o transito vai aumentar, além de saber que por causa disto do aquecimento central e da subida das águas, o barco vai-me ser muito útil.
O negócio da pesca vai de vento em popa, chega a haver dias que se apanha mais de 10 quilos de tainhas, e quase uma dúzia de fataças, porém o futuro é incerto. Depois de ter visto o reclame , meti-me nas novas oportunidades. Não que vá seguir as pisadas da Vanessa Fernandes, porque não tenho queda, para o desporto, por isso optei por ser canalizador-estudante, numa escola nocturna. Com esta via profissionalizante, posso entrar para o mundo da construção civil, e constou-me que vou conhecer muitos patos-bravos, sendo portanto um estimulo para continuar os estudos, pois permite-me continuar, o meu sonho de criança com a sua observação. Não percebo contudo como é que estas aves vão viver, paredes meias ,com nas novas urbanizações e lotes de terreno que estão há muito vendidos à volta do novo aeroporto, mas pelos menos se não os vir sempre me distraio com os aviões. Parece que aqui perto também vai haver um novo comboio que anda com muita velocidade, dizem até que chega a Madrid em menos de 3 horas, não percebo como, se ainda noutro dia numa excursão da escola fomos ao Algarve e o comboio do Barreiro às 6h43 da manhã, só chegou por volta das 11 a Faro. Fala-se muito nas energias alternativas, talvez esta locomotiva não ande a energia eléctrica, e utilize outro género. Quem sabe se a solar. Ouvi dizer, numa das aulas de físico-química, que o Sol demora só 8 minutos a chegar à Terra e tenho a certeza que ele está muito mais longe que a Espanha.
Outra coisa de que se fala muito aqui na vizinhança é daquele bonito centro comercial ,o Freeport. Parece que foi aprovado sem respeitar o ambiente. Sinceramente nem percebo o porquê, se tem espalhados tantos contentores do lixo. Só se for da quantidade de gente que ali vai, mas todos têm muito bom aspecto e há até lojas muito chiques(daquelas que se vê no estrangeiro), e que causam muito bom ambiente ao lugar. Eu nunca lá comprei nada, pois é tudo muito caro, mas se vejo tanta gente a fazer compras, é porque aquilo deve ter muita qualidade.
Amigos meus da pesca, falam dos preços da gasolina da Galp, da BP e doutras ; Que está cara e a mais de um Euro o litro. Não percebo o alarido, ora se falam naqueles telejornais da economia, que o Barril Brent desceu outra vez e está a 53 Euros e tendo aquilo mais de 100 litros, não sei porque não vendem cá dessa.
Fala-se também que os empresários estão a passar mal, mas isso percebe-se bem porquê !Pois constou-me que um senhor que é sócio-gerente do café, só declara 450 euros por mês, e se isso é o salário mínimo, passa dificuldades! Deve ser por isso que há senhores que têm mais de uma empresa, e constituem mais, para assim conseguirem facturar mais dinheiro até ficando excluídos de pagar contribuições à segurança social pelas outras! Isto de facto é uma injustiça! social !Depois admiram-se que essa gente tenha de despedir os trabalhadores. Como é que alguém, que dedica uma vida a trabalhar para constituir empresas, consegue sustentar a sua família? Nestas condições é natural que o país não ande prá frente. Muitos destes empresários conscientes de que há países que vivem com mais dificuldades, colocam os seus rendimentos em bancos estrangeiros e nos chamados off-shores, para assim ajudarem aqueles povos que passam privações, são exemplo disso: as Ilhas Caimão, Trinidad Y Tobago, etc
Nestes tempos conturbados é de se tirar o chapéu e saudar os nossos estadistas.Houve agora uma obra de construção civil para um edifício publico que necessitava de recrutar pessoal e não se inscreveu nenhum português! Dando lugar a cerca de 100 moldavos! Sabendo eles que na Moldávia se vive bem pior, apoiam-se assim os imigrantes. Além de ser uma prova que este pais combate a xenofobia e as assimetrias, demonstra também como evoluiu, nestes últimos anos, a qualificação da mão de obra nacional, que com as novas oportunidades, já têm habilitações para sonhar com cargos de cariz mais intelectual, havendo uma nova geração de desempregados portugueses que se contentam com o rendimento mínimo, esperando pacientemente um lugar num cargo de chefia, de técnico superior ou o seu lugar como autarca, administrador ou presidente duma qualquer companhia publica ou privada, e que embora saiba que não vai ganhar mais que o salário mínimo nacional( embora possa almoçar de graça no refeitório), cumpriu o seu dever cívico, salientando assim o seu espírito empreendedor e prova uma vez mais, possuir uma ética e moralidade exemplares e ser duma sensibilidade e humildade impecável e sem mácula!
parabéns Portugal!
Fui expulso de casa pelo meu pai aos 13 anos, achou que era a idade certa para começar a trabalhar, e ao contrário dos meus vizinhos, não conhecia ninguém na autarquia e nem tão-pouco tinha conhecimentos como o meu Tio que conseguiu por o seu filho como Arquitecto na Câmara municipal, por ter um afilhado, que por sua vez, tinha sido deputado, e cuja mulher exercia funções executivas numa faculdade privada. Tive portanto de me fazer à vida, construindo a minha casa, com barrotes de madeira e placas de zinco, junto às salinas do Samouco.Os meu primeiros camaradas de quarto foram dois pombos, o Quico e o Treco. Tentei ensina-los a voar, o que não foi difícil, e ao mês e meio de idade já esvoaçavam pela sala. Acabaram por sair para a rua, e passados 30 anos ainda me saúdam, quando no meio do bando, lhes dou milho na Praça da Figueira.
Falo-lhes em pleno Séc XXI, a minha zona cresceu muito e desenvolveu-se, e apesar da crise e do desemprego, consegui meter-me na pesca artesanal, em part-time, tendo para o efeito uma pequena embarcação de 5 metros e um motor de 18 cavalos. Uma das minhas primeiras proezas e os meus 15 minutos de fama,foi ter feito, naquele pequeno bote, a viagem Montijo-Cais do Sodré, numa hora e meia, com o vento e a maré de feição! Há quem diga que vai ser o transporte do futuro, pois com a nova ponte, o transito vai aumentar, além de saber que por causa disto do aquecimento central e da subida das águas, o barco vai-me ser muito útil.
O negócio da pesca vai de vento em popa, chega a haver dias que se apanha mais de 10 quilos de tainhas, e quase uma dúzia de fataças, porém o futuro é incerto. Depois de ter visto o reclame , meti-me nas novas oportunidades. Não que vá seguir as pisadas da Vanessa Fernandes, porque não tenho queda, para o desporto, por isso optei por ser canalizador-estudante, numa escola nocturna. Com esta via profissionalizante, posso entrar para o mundo da construção civil, e constou-me que vou conhecer muitos patos-bravos, sendo portanto um estimulo para continuar os estudos, pois permite-me continuar, o meu sonho de criança com a sua observação. Não percebo contudo como é que estas aves vão viver, paredes meias ,com nas novas urbanizações e lotes de terreno que estão há muito vendidos à volta do novo aeroporto, mas pelos menos se não os vir sempre me distraio com os aviões. Parece que aqui perto também vai haver um novo comboio que anda com muita velocidade, dizem até que chega a Madrid em menos de 3 horas, não percebo como, se ainda noutro dia numa excursão da escola fomos ao Algarve e o comboio do Barreiro às 6h43 da manhã, só chegou por volta das 11 a Faro. Fala-se muito nas energias alternativas, talvez esta locomotiva não ande a energia eléctrica, e utilize outro género. Quem sabe se a solar. Ouvi dizer, numa das aulas de físico-química, que o Sol demora só 8 minutos a chegar à Terra e tenho a certeza que ele está muito mais longe que a Espanha.
Outra coisa de que se fala muito aqui na vizinhança é daquele bonito centro comercial ,o Freeport. Parece que foi aprovado sem respeitar o ambiente. Sinceramente nem percebo o porquê, se tem espalhados tantos contentores do lixo. Só se for da quantidade de gente que ali vai, mas todos têm muito bom aspecto e há até lojas muito chiques(daquelas que se vê no estrangeiro), e que causam muito bom ambiente ao lugar. Eu nunca lá comprei nada, pois é tudo muito caro, mas se vejo tanta gente a fazer compras, é porque aquilo deve ter muita qualidade.
Amigos meus da pesca, falam dos preços da gasolina da Galp, da BP e doutras ; Que está cara e a mais de um Euro o litro. Não percebo o alarido, ora se falam naqueles telejornais da economia, que o Barril Brent desceu outra vez e está a 53 Euros e tendo aquilo mais de 100 litros, não sei porque não vendem cá dessa.
Fala-se também que os empresários estão a passar mal, mas isso percebe-se bem porquê !Pois constou-me que um senhor que é sócio-gerente do café, só declara 450 euros por mês, e se isso é o salário mínimo, passa dificuldades! Deve ser por isso que há senhores que têm mais de uma empresa, e constituem mais, para assim conseguirem facturar mais dinheiro até ficando excluídos de pagar contribuições à segurança social pelas outras! Isto de facto é uma injustiça! social !Depois admiram-se que essa gente tenha de despedir os trabalhadores. Como é que alguém, que dedica uma vida a trabalhar para constituir empresas, consegue sustentar a sua família? Nestas condições é natural que o país não ande prá frente. Muitos destes empresários conscientes de que há países que vivem com mais dificuldades, colocam os seus rendimentos em bancos estrangeiros e nos chamados off-shores, para assim ajudarem aqueles povos que passam privações, são exemplo disso: as Ilhas Caimão, Trinidad Y Tobago, etc
Nestes tempos conturbados é de se tirar o chapéu e saudar os nossos estadistas.Houve agora uma obra de construção civil para um edifício publico que necessitava de recrutar pessoal e não se inscreveu nenhum português! Dando lugar a cerca de 100 moldavos! Sabendo eles que na Moldávia se vive bem pior, apoiam-se assim os imigrantes. Além de ser uma prova que este pais combate a xenofobia e as assimetrias, demonstra também como evoluiu, nestes últimos anos, a qualificação da mão de obra nacional, que com as novas oportunidades, já têm habilitações para sonhar com cargos de cariz mais intelectual, havendo uma nova geração de desempregados portugueses que se contentam com o rendimento mínimo, esperando pacientemente um lugar num cargo de chefia, de técnico superior ou o seu lugar como autarca, administrador ou presidente duma qualquer companhia publica ou privada, e que embora saiba que não vai ganhar mais que o salário mínimo nacional( embora possa almoçar de graça no refeitório), cumpriu o seu dever cívico, salientando assim o seu espírito empreendedor e prova uma vez mais, possuir uma ética e moralidade exemplares e ser duma sensibilidade e humildade impecável e sem mácula!
parabéns Portugal!
Texto retirado da autobiografia de António Manuel Carlos Beira, 57 anos, Técnico da construção civil e Residente no Samouco, a 4/01/2009.
n.a: ver comentários
3 comentários:
nota: o texto é da minha exclusiva responsabilidade, o nome é fictico, infelizmente os factos não!
Eh, pá, Cajó não era Carlos Jorge? :-D
Eh, pá, quanto ao Quico e ao Treco, teve sorte, afinal ele gostava de aeronaves, não era?
O Cajó é um gaijo deveras informado; de facto, o aquecimento central é dos problemas ambientais mais graves, sobretudo quando avaria e anda tudo de sobretudo a ensinar meninos, como aconteceu a uns caramelos que eu cá sei, eheheh :-D
Opá, e quanto ao resto, abstenho-me de comentários... ou melhor, só o seguinte: ahahahahahaahahahahahahahahahaah!!
:-D
Impossível não comentar um texto desses, mesmo não havendo muito a dizer. Está magnífica a critica-jocosa, fez-me lembrar as crónicas do velho seringador e da tia Brízida. Incrivel é a forma como me fazes rir com assuntos tão tristes. Parabéns, uma escrita fantástica!
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