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sexta-feira, 24 de abril de 2009

segunda parte

Martinho sentia-se preso. Tornava-se sem margem para dúvida s naquilo que mais o incomodava solenemente. No aparente, no gigantesco baile de máscaras planetário. Na fachada da casa pintada de fresco e renovada, de alicerces obsoletos, caducos, gastos e à beira da derrocada. Numa simples observação superficial estava ciente que era mais um prego na estrutura, um ladrilho do pavimento e embora inconscientemente ou não, tivesse lá chegado por um trilho mais sinuoso e apartado, do usual e do sendo comum, sentia-o principalmente nos métodos utilizados por terceiros para fugirem à rotina, usando de escapismos socialmente aceitáveis e até recomendáveis, não passando de subterfúgios que a sociedade (im)punha ao dispor, para os iludir e fazer desviar do que supostamente seria o real. Para servir o domínio sobre os demais, escamoteando-os da verdade, afastando-os da luz, acenando-lhes a bandeira do caos ,da ausência da lei e da ordem, e assim contentando e entretendo as massas com a televisão, o novo ópio do povo e hobbies tais como o futebol, verdadeiro paradigma do fair play para miudos e graudos, e os mais variadíssimos desportos que promovessem a vida salutar e providenciassem o bem estar. Embora a acção levasse ao entendimento e o apaziguamento momentâneo do colectivo, não servia o individual, que por sua vez se mostrava mais egoísta, agressivo e violento. Intolerante ao que lhe era estranho e adverso à diferença , fosse de algo que não correspondesse ao socialmente aceitavel, doutra cultura ou que não procedesse de igual forma a determinada situação. Criam-se portanto rotinas dentro da rotina, num ciclo vicioso como se,e num exemplo absurdo, pusesse uma roda para um ratinho doméstico poder infinitamente andar, como se corresse ad eterno, confinado porém ao espaço exíguo da sua gaiola dourada. Era no fundo uma espécie de bulimia social de resultado inconsequente. Numa forma de estar e de ser banal, redutora de sentimentos reduzidos a futilidades. Limitando a capacidade do pensamento, do livre arbitrio e raciocinio. Métodos estes que não passam duma servidão das tendências, e fazendo dos seres, escravos da moda, uma constante nesta sociedade, sinal dos tempos e da tensão imposta quase geneticamente e transmitida ao longo de gerações, construindo uma civilização futura de seres inferiores, castrados, e sem vontade própria.
Levado por estes pensamentos e cheio de sentimentos contraditórios e na encruzilhada que se seguiu, correu por montes e vales, percorreu o deserto, entregou-se à solidão, perdeu a sanidade e encontrou por fim a loucura. O caminho que traçou era um destino malfadado, uma sina famigerada, um fado na mais triste
acepção literal da palavra. Para fugir ao real perscrutava a salvação na surrealidade dum mundo perfeito mas inatingível. Desejara um mundo mítico, distante ou mesmo antigo, impossível. O seu espirito carregava o mundo qual Atlas, no seu toque possuía o dom de Midas, um final trágico como o de Prometeu, abrira dentro de si a caixa de Pandora, além de carregar o mesmo fardo de Sisifo. Nada que o mundo lhe providenciava era suficiente, nem se contentava com o próprio contentamento de ser alguém que possuia a fortuna de nascer livre e dono de si mesmo. Talvez fosse isso que o atormentava, o facto de ter tempo para pensar, de lhe ser providenciado os bens essenciais para a sobrevivência e até ser possuidor de riquezas para além das materiais, a de espirito, isso só por si transtornava-o, e fazia-o almejar mais, contudo queria ser mais do que o próprio ser, e o desconhecimento ou ausência de um objectivo transcendia-o, deixando-o frustrado, faltava-lhe apenas o que não podia ter. Estava perdido sim, e sem coordenadas, tanto no espaço, um outro ,o imaginário, e um tempo, já há muito esquecido.

6 comentários:

alfabeta disse...

Já pensaste em escrever um livro?

Escreves bem, pensa nisso.
;)

as velas ardem ate ao fim disse...

sim já pensaste??

um bjo

Su disse...

vim cá ter atraves da boneca de porcelana......o pouco que vi /li gostei


mas voltarei com mais tempo

jocas maradas

Porcelain disse...

Martinho... somos todos nós... magistralmente escrito... tudo dito... adorei...

:-))

Cruztáceo disse...

os livros estão aqui...

Anónimo disse...

Eu estou farta de lhe dizer para escrever livros :X mas ele não me liga nenhuma :(