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terça-feira, 29 de setembro de 2009

Um Lugar no Cosmos


Segundo dizem,cada pessoa nasce com um Karma.Outros dizem que nascemos já com uma sina.Ainda há quem diga que temos o destino traçado (esta será similar à primeira e à segunda, embora estas ultimas soem mais a sabedoria popular ocidental)
Somos iguais no sentido que todos possuímos os mesmos sentidos, e diferentes uma vez que cada um é único, e tem a sua forma de pensar, ser e estar.
Reagimos diferentemente a situações iguais, consequência das experiências passadas, aos reflexos condicionados, aos impulsos, ao património genético e memético. Uma reacção a uma qualquer acção pode ser motivada de diferente forma segundo a carga hormonal de cada um.
Na Psicologia diz-se que todos temos as seguintes componentes comportamentais e sociais: assertiva, manipuladora, agressiva e passiva.Reduzir o ser humano a estas funções é ser redutor( passo a redundância).
Não seremos mais que isso? Deveremos ser, pois temos uma mente rica cheia de sinapses,neurónios e dendrites nervosas, ligadas de forma aleatória (ou não!). Além dessas componentes há pessoas mais emocionais, mais racionais, etc e etc, e ao tentar explicar uma acção de alguém, com o exemplo de outras pessoas,ou tentar explicar com as nossas próprias convicções é fazer de nós máquinas que reagem roboticamente, que respondem por impulsos binários. e que reagirão sempre de igual forma.
Somos mais que zeros e uns, que sim e que não.Mas estarão as formas de ser relacionadas com o passado de cada um, com a faixa etária, a classe, o sexo, o credo e até a cor? Justificarmo-nos com padrões previamente estudados é simplificar o pensamento humano e reduzi-lo a matrizes matemáticas.
O problema é que a matemática e ou informática é baseada em conceitos antagónicos, por oposição, por contrários e pelas combinações dos mesmos. O ser humano vai mais longe, funciona com o talvez, e trabalha com a imaginação e a criatividade. Que transcende qualquer equação matemática.
Há pessoas que se integram bem na sociedade. Há outras que não se revêem nesta. Há outras ainda que buscam mais que a sociedade e que viviam bem sem ela. Aliás, há mesmo aquelas que não sabem que esta existe.
O problema de viver é complexo, seria simples se nos dedicarmos à caça e à recolecção, mesmo assim suponho que tenham tido as suas crise existencialistas. O problema de se aceitar o que se tem também. AS formas de estar são milhentas, e as justificações para tais atitudes muitas vezes são condenações e julgamentos dum pensamento ou de um sentir diferente, se não diferente pelo menos particular, ou sui generis, ou especial. Cada um vive como sabe, e muitos como querem, outros passarão a vida à procura do que são.
As ambições esgotam-se quando já nada de novo existe.
Tem de se conviver com o que se possui.
Falta-nos sempre tudo, quando não nos lembramos do que possuímos.
Quanto mais se tem, mais frustrados ficamos,e em chegando a um zénite emocional racional ou material, a tendência é para estagnar, ou procurar algo mais que ainda não exista ou que não seja convencional, muitas vezes refugiando-nos no que já transcende a ética e a moral, para que a fasquia seja novamente elevada.
Quando os nossos princípios não nos permitem ultrapassar essa barreira, atingimos um pico, e a essa curva ascensional, que é a vida, e que tendia para o infinito, tende agora para se aproximar do zero. Pois nada mais há nas coordenadas do sentir e do ser.
Leva-nos a questionar o nosso papel aqui, o porquê de continuar, a indagar método de resistir, a procurar nos outros um objectivo que nos falte, a buscar fora de nós um motivo para prosseguir, um apoio externo que anule a nossa fútil condição humana.
A nossa evolução passada, que culmina com este cenário, conduz-nos a uma sensação de servidão humana. Em que nada nos surpreende, nada nos fascina, nada puxa pela nossa inteligência, a função cognitiva torna-se nula, a criatividade inexistente, a visão da beleza universal é enevoada e descabida de fundamento pela nossa situação de termos chegado a um ponto em que já é deja vu. Os sonhos, memórias e recordações de bons momentos são guardados no mais profundo fosso mental, ficando a mente entregue às lembranças de tudo o que é nefasto e desagradável. Um sentimento de espera se apodera do nosso corpo e alma, acções auto-destrutivas preenchem os espaços que antes eram ocupados pelo vibrar do existir, pela felicidade que o tempo inibiu, pela vontade de rumar sem destino. O caminho outrora desconhecido, é agora mais que recalcado, e já não há lugar a continuar por ele, ou prosseguir por se mostrar entediante e monótono.
Chega-se portanto a um abismo forçado, muitas vezes por falta de auto-estima ou insegurança interna, quiçá também sinal dos tempos, em que tudo nos é dado de mão beijada e que a informação é transmitida, absorvida e dissecada a uma velocidade avassaladora, tornando-nos consequentemente mais vazios, e sentindo-nos mais fúteis e banais, numa sociedade que nos torna mais iguais, que nos normaliza, e contudo impõe e mostra as diferenças a outras culturas, mais antigas até,mas que não vivem de acordo aos padrões impostos por esta sociedade que tem como pilares a igualdade e tolerância,e no entanto tende a tornar-se mais adversa à diferença, criando assim estigmas, provocando atritos e conflitos, numa tentativa de absorver e abafar, sufocando, as sociedades culturais antigas que ainda se regem sem a máquina da propaganda e da publicidade por trás.
Assim sendo somos vitimas duma sociedade de consumo imediato que tudo nos impõe. Tem regras até pra nos fazer felizes,com quem estar, com quem casar, como viajar, como passear, com quem dormir, como ser melhor que o outro, como lixar melhor o outro...
E assim vamos andando, cantando e rindo, muitas vezes com excesso de estímulos exteriores e deficit de estímulos interiores, que é como quem diz, um pouco mais de amor e carinho, e um dialogo interpessoal mais construtivo, virado mais para nós, para o nosso intimo em vez de julgamentos de personalidade, e conversas de afirmação pessoal,e de se tentar provar algo a alguém. Pois acho não temos de justificar a nossa forma de ser perante os outros como forma de desculpar as nossas omissões ou falhas.As coisas acontecem por si, não por serem provocadas. E isso era ter o condão e o requinte de prever todo um modus vivendi desde o nascimento. E não seria necessário muito auto-controle e uma capacidade de auto-analise sobre-humana e coerência muito eficaz para viver segundo esses moldes? Na volta não...Infelizmente eu não possuo tais caracteristicas. Sou um ser longe da perfeição, cheio de incongruências e inépcia. Ou talvez toda a minha vida seja uma justificação. OU então toda a justificação seja uma vida. Ou será que devo-me deixar de existencialismos e estar quietinho e ser carneirinho? Deixar de me sensibilizar, de mostrar afecto, de me expôr, de gostar de carinho e amor, de alimentar-me de paixão? Talvez seja melhor mudar. Ser alguém indiferente, rígido, inabalável, curto e grosso, sem expressão, lívido, apóstata, frio e calculista? Seria decerto muito mais feliz!

1 comentário:

Freyja disse...

"Seria decerto muito mais"... morto.

Regards,