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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Tensão por detrás das grades

O tempo passava lentamente, naquele qualquer dia de uma verão em um qualquer lugar campestre. A situação era incontornável e inadiável. Todos estavam reunidos numa pequena parcela daquela que era uma gaiola gigante. Em grande agitação mas num silêncio sepulcral. Esperando um outro elemento que todos desconheciam mas que iria revolucionar as suas vidas. O sol que apesar de se estar a pôr e terminando mais um dia, era quente e tornava a paisagem ainda mais silenciosa, com ondas de calor que irradiavam do solo e que pareciam que abafavam as sonoras, esbatendo as cores e variando o tamanho das Iris. Ninguém tugia nem mugia, os olhares cruzavam-se como que comprometidos, desviando-o logo em seguida e fitando o infinito, simulando todos um ar pensativo e de mentes distantes. Parecia que o mundo tinha parado, nada se mexia naquela tarde soalheira de céu muito azul, tal era a tensão. Embora num quadro quase idilico, pareciam estar todos às portas do Inferno. A comunicação além da visual era inexistente, um esgravatava o chão, outro andava de um lado para o outro, outro ainda subia e descia ao que aparentava ser um poleiro, logo descendo tanto era o desconforto da situação. Um ambiente de cortar à faca, as gargantas secas, as vistas cansadas da poeira que voava no ar provocado pelo movimento dos corpos naquele chão arenoso. De súbito, ao longe, bem perto da linha do horizonte surge uma figura humana que se dirige para eles, vem apressado com algo nas mãos, tentam focá-lo para terem a certeza que era o contacto pretendido, estava distante e a contra-luz apenas podiam supôr quem era pela forma e maneira de andar. A agitação era enorme, andavam agoar dum lado para o outro, presos dentro daquela cerca metálica, todos queriam ver melhor, aproximando-se da rede e atropelando-se uns aos outros, chegavam a degladiar-se para serem os primeiros a obterem algo dele, o que aparentava ser um grupo homogeneo, provou ser um aglomerado caotico de seres, cada um por si não olhando a meios para atingir os seus fins. Magoavam-se tentando voar pela cerca, alguns sangravam mas ninguém desistia.A figura humana longinqua aproximava-se rápidamente, e sem mais demoras abre a cancela, parece dizer algo para os acalmar, calça as botas e entra, todos se afastam à sua passagem dando-lhe espaço. Em poucos segundos chega aos gamelos, despeja o farelo e deixa que todos se aproximem e comecem a alimentar-se. E assim mais um dia termina na capoeira.

2 comentários:

quanto pesa o vento? disse...

intenso.

Carla disse...

Adorei, a principio achei um pouco macabro mas com o desenrolar do texto achei perfeito. Afinal toda a historia foi pensada em torno de uma capoeira.