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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Uma história do Homem




Na alvorada da Humanidade num passado não muito distante fez-se luz. O Homem desceu das árvores. E depois de alguns experiências falhadas no laboratório natural, ergueu-se:


Deu os primeiros passos como bípede, com visão binocular e polegar oponível. Condicionantes estas fundamentais para a sua evolução cognitiva. Era uma fraca figura,de constituição frágil, com uma grande cabeça, tinha um maxilar atrofiado, sem uma dentição poderosa, e em vez de garras possuía nas pontas dos dedos umas unhas quase residuais sem grande uso, com o corpo desprovido de pelagem, e longe de estar no topo da cadeia alimentar. Saiu da floresta para as estepes, colheu bagas e frutos, dedicou-se à caça em grupo.
Escondeu-se dos seus predadores em grutas, cavernas,e nas primeiras construções para habitação.
O tempo passou e especializou-se. Armou-se de ferramentas, dominou o fogo, cultivou os primeiros cereais, domesticou animais, e adaptou-se às várias zonas climáticas, espalhou-se pela Terra na sua Diáspora, e sedentarizou-se estando ainda em perfeita harmonia com a natureza.
Depois(não terá sido certamente ao 7º dia) sentou-se e descansou.Mostrou-se pela primeira vez ao Mundo, reclamando para si o lugar cimeiro como espécie dominante. Ciente que agora os seus predadores tornar-se-iam agora presas.
Criou e desenvolveu os seus mitos e ritos e a sua espiritualidade. Teve o primeiro tempo de ócio, de lazer, para socializar, e estreitar laços entre si, desenvolver a comunicação oral, organizar-se, hierarquizar-se, nas primeiras tribos, nos primeiros clãs,e nas primeiras cidades . Com as trocas comerciais e/ou interacção com outras tribos, desenvolveu novas técnicas de comunicação. A linguagem tornou-se mais complexa, não só era capaz de filosofar sobre a sua própria existência, como se interrogou certamente sobre o meio que o rodeava e o seu lugar no Globo.Não sabendo porém explicar certos fenómenos delegou-os para os deuses.

A Fauna e a Flora existentes, são exemplos duma perfeita harmonia com a Natureza e ainda nos fascinam com a sua beleza e riqueza de cores e formas, numa estratégia de perpetuação das espécies que criou estratagemas para e evitar a extinção e assim singrar. O Homem, e ao contrário dos restantes seres, desenvolveu outras técnicas de disfarce ou camuflagem mas utilizando a mente e não o físico. Tornou-se perito na arte do uso das sensações e percepção. Transforma e usa os sentidos dos outros com o intuito de criar a ilusão,levar ao engano, sugestionar, simular, seduzir, de manipular, e de liderar. Levando a melhor sobre o seu semelhante e além de acabar com a concorrência de outras espécies predatórias. No caso destas últimas sendo mais pargmático e cruel: Exterminando-as. São exemplo disso as extinções que levou a cabo na parte oriental da Ásia( Russia) e em grande parte da América do Norte.


O seu objectivo ultimo foi conseguido, e tornou-se quase um ser de excepção na natureza, com o condão de modificar o meio conforme as suas necessidades, e transformando-se num deus na terra, acima de qualquer outro, pois não tinha rival a não ser ele próprio.

Sempre foi gregário, vivia em comunidade. O número, ou seja, a quantidade de população de uma tribo, aldeia ou cidade, era um modo de segurança, de protecção e de manutenção do seu modo de vida.Na actual sociedade, tornou-se sectário, já não precisa de se juntar aos outros para levar a sua avante. Depende antes de mais da inteligência, da capacidade de comunicar, da retórica, e da sua eloquência. Sendo o lema: "A pena é mais forte que a espada" não levado literalmente pois onde chegou destruiu pela força tudo o que se intrometia no seu caminho.

A população, com a revolução agrícola, aumentou substancialmente, ocupou os quatro cantos do mundo, do Árctico ao Sahara. E na época que precede a antiguidade clássica, passando pela Idade Média e o Renascimento, evoluiu de forma a necessitar de se expandir para além do mundo conhecido. Enquanto isso, houve populações que ficaram a um nível tecnológico aproximado da Idade do Ferro, não necessitando de evoluir para além disso pois viviam completamente adaptadas ao meio, em harmonia com ele, não caçando mais do que o estritamente necessário nem destruindo florestas para pastagens de gado, ou explorações agrícolas. Em total equilíbrio. Veio o Homem do "Velho Mundo", que dependia do comércio, do mercantilismo, da acumulação da riqueza, e extinguiu os seus semelhantes, ou levou-os a adoptarem o seu estilo de vida. O leque de culturas, línguas e ideologias que havia então, foi absorvido. Civilizações inteiras levadas à beira da extinção, ou obrigadas a aceitar este novo método de existência, em que se esgotavam os recursos de um local e avançava-se para outro, numa época em que se olhava o mundo como infinito e os recursos ilimitados.

Chegou à Revolução Industrial, o aumento populacional foi exponencial, domina sobre a terra em todo o seu esplendor, daqui à actualidade foi um pequeno passo contudo um grande salto para adulteração total e completa da paisagem.

Após a conquista de todo o território o homem virou-se para a conquista das mentalidades. Para a propaganda. Na Idade Média espalhou a palavra do Senhor, daqui em diante espalhava a sua, não admitindo outras, a opinião contrária era castrada, e a razão só uma, e imposta a toda a sociedade.

Vive num meio completamente adulterado da natureza e adaptado ao seu modo de vida actual, é sobretudo urbano e cosmopolita, orgulha-se da sua sapiência mas perdeu os seus instintos. Incapaz de criar algo para a sua sobrevivência, como um arco, um machado, ou um simples agasalho, especializou-se em demasia. Se perdido numa floresta, longe da civilização, a sua capacidade de sobrevivência aproxima-se do zero. O que obteve em conhecimento e cultura, em princípios e valores, perdeu em integração no meio donde veio, dum mundo que já desconhece, que despreza, esquecendo rapidamente as origens.


À evolução tecnológica do Homem, segue-se (ou é acompanhada) a evolução social e cultural. Desde a descoberta do fogo, a sua ascenção foi metéorica, passando os seus conhecimentos, pela mecanica quantica à Exploração Espacial, da microbiologia à nanotecnologia. O Homem quase que se deificou, passando as religiões a terem um papel secundário, fragmentando-se em várias seitas ou ideologias bizarras, até ao fundamentalismo.
Os meios de transmissão da mensagem, estão longe dos tambores e dos sinais de fumo, ou do pombo-correio e já transcendem a imprensa escrita, são veiculadas pela Televisão e Internet à velocidade da Luz.
Vivendo agora num mundo real composto do virtual e do surreal...Da máscara,da trama, do drama, do ardil. A informação já não é passada pelos Bardos, nem de boca em boca, as lendas estão esquecidas, as estórias e a história são adulteradas. As leis já não são do homem para o homem, mas de um grupo restrito para a maioria da população. A democracia, tão apregoada, transforma-se em Oligarquia. Há a obsessão pelo modelo ocidental de vivência. O Modus operandi e Modus Vivendi do ser humano torna-se igual para toda a gente. Sufocando outras formas de estar e de ser. Os exemplos chegam-nos através da TV e da Net. Imitam-se as estrelas de cinema e a gente da alta sociedade. A criação artística, musical e cinematografica estagnam.Pois já está tudo inventado, e as inovações são recriações, fazem-se filmes que são remakes, fazem-se musicas que são remixes, palavras estas que são anglicismos, e a cultura que marca o Século XX e XXI é a anglo-saxónica. Aos novos estilos dão-lhe o nome de "retro", de "neo", etc, etc. O pós-modernismo já está demodé.
O cidadão que fuja deste ideal, da norma, do standartizado, é marginalizado, e ostracizado. Embora as democracias preconizem o direito à liberdade de expressão e ao livre arbítrio, a sociedade é dominada por regras e normas rígidas de comportamento que limitam e proíbem, que oprimem as ideologias contrárias à predominante.

O direito à diferença não passa do papel e quem é diferente é etiquetado de dissidente, indigente de doente ou de anormal. Combate-se o Terrorismo dum lado e usam-se politicas de Terror para dominar as pessoas.
Para controlar
instala-se o medo, do diferente, aponta-se o dedo a quem tem ideologia divergente, ou duma outra religião. Com o receio de um ataque terrorista retiram-se aos cidadãos a sua privacidade. O Patriot Act no EUA, permite ao governo ter acesso às chamadas telefónicas dos cidadãos, aos registos da biblioteca local, aos livros e filmes que vê, às viagens que efectua. No fundo, o terrorismo serve para criar receio na população e para a controlar, tiram-se direitos ao homem com o objectivo de o proteger,e acabam por controlar o que pensa, eventualmente transformando o homem num ser amorfo,que crê em tudo o que o Poder instituído lhe diz. Comporta-se como um autómato, inclusivamente já não questiona a informação que lhe prestam, toma tudo como verdadeiro, não raciocina, nem sequer repensa, discute ou refuta nada, e deixa, inconscientemente que o façam por ele. É de salientar que nas livrarias tem tendência a comprar os livros best-sellers, e acaba por ficar limitado, não por não ter escolha, mas por omissão na informação prestada.Nas rádios passam o que as editoras querem vender, etiquetando de musicas alternativas/independentes ou musicas do mundo as edições que não são das grandes multinacionais. O pensamento artístico, a criatividade humana deixa de ter expressão.
Dão a ideia de que o homem é livre de optar, mas está preso às normas de conduta que a sociedade lhe impõe. O homem pode escolher, mas a escolha é pré-seleccionada.

O homem, distingue-se dos outros animais pela sua capacidade de filosofar, de questionar a sua própria existência e de ser capaz de perdoar, de se mostrar clemente, misericordioso, e com espírito de inter-ajuda, de dar a mão ao próximo, mesmo que este esteja distante. Acontece que o homem não só não evoluiu neste campo como demonstra também uma faceta auto-destrutiva, agressiva e devido à sua prepotência, é capaz de actos de horror, e requintes de malvadez que não lembram ao mais cruel dos predadores que connosco vivem nesta bolha Azul. O homem fa-lo pela simples razão de o poder fazer, talvez uma demonstração de poder, ou então por ter chegado a um ponto onde tudo deixa de ser novidade, e para inovar ou fugir ao tédio e à monotonia da rotina, passa para o campo do bizarro, do invulgar, do mórbido e do perverso.
Tornou-se intolerante, despreza a diferença e contudo quer-se destacar dos outros. A opinião dos outros é levada com desdém, os que não caminham no mesmo sentido são marginalizados, até considerados doentes, anormais, embora a normalidade seja hoje um conceito em extinção (ou sem definição). O altruísmo não é praticado para ajudar alguém mas sim como moda, pois fica bem. A moral e princípios éticos não são dele mas sim imitados e copiados, quem sabe se não o são só como forma de se inserir num grupo? E apesar de não pertencer a uma tribo, precisa de se sentir integrado. As pessoas colectivamente formam associações e cooperativas com os mais diversos fins e existem para todos os gostos e feitios, mas individualmente o Homem, põe de lado o seu semelhante, marginaliza, discrimina, segrega, sectariza e ostraciza.


O homem sofreu uma evolução, talvez precisasse de passar por uma revolução.
Talvez a solução seja voltar às origens, deixar por momentos de olhar o céu como o seu destino futuro, de pensar em tranformar Marte num planeta habitável e dedicar-se primeiro a fazer o mesmo à Terra.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Reaberto para liquidação total!


Voltei a escrever e tinha saudades, mas é tão dificil e por vezes tão frustrante...Porque no fundo quando se escreve num lugar publico é para que haja publico, se o há, queremos que nos leiam, se nos lê queremos que nos entenda, se nos entende queremos partilhar com ele as nossas motivações, angustias, alegrias, ets etcs etc, mas não é esse o objectivo deste post. É tão somente dizer que voltei, mas voltei mal pelos vistos, pois entrei à Leão. Sem pedir licença, e aos trambolhões.

Avante!

Para melhor entender a razão detrás da publicação dos 2 ultimos posts há que colocar a emoção ao barulho. Foi no meu regresso à escrita deste meu blog que estava parado por razões variadas, fiz uma leitura em diagonal por blogs amigos e associados. E andei a saltitar dum para o outro. Na ansia de me por a par, de reatar legações de reavivar contactos, e com o meu carácter impetuoso, impulsivo e ganancioso. E com uma imensa ganãncia de tudo absorver rápidamente, saltei, atropelei e passei por cima de tudo e todos. A minha curiosidade será sem dúvida a minha morte e o meu desejo de omnisciência bizarro e até patético porque fútil e certamente impossível, mas move-me o sonho...Adiante. Foi com esse fito que os produzi e reproduzi. Ou seja, o que refiro é à falta de comunicação. Entre dois inerlocutores, sejam colectivos ou individuais. Não por carecer informação, mas sim de entendimento. A comunicação em si existe, as palavras carregadas de sentidos, as frases cheias de beleza gramatical até, e textos plenos de retórica. Todavia duas entidades podem comunicar entre si, sem chegarem a dizer nada uma à outra.
Todos nós falamos, todos dialogamos, mas muitas vezes são monólogos. É dificil expressar um sentimento a outrém e conseguir passar a imagem a cem por cento. Todos nó svivemos numa bolha, sendo cada vez mais dificil penetrar nela. veja-se casais que estão juntos há 20 anos e há um dia que um chega a casa, olha para o parceiro, não o reconhece, ou não se revê, como queiram, e dá a volta e desaparece. Passando do individual para o colectivo, veja-se o exemplo de Quioto, e agora de Copenhaga, muito se falou, todos disseram, porém nada se acordou.
A transmissão é cada vez mais complexa, e embora o mundo esteja mais próximo, e as redes sociais virtuais a alastrarem-se que nem epidemia, as pessoas não se reconhecem umas nas outras, cada um acha-se superior ao demais, detentor da razão, e não passando dum opiniático, sem desprimor. Cada um vê o seu mundo, como se tivessemos todos óculos com lentes de cores diferentes( e aqui retiro a ideia do Pessoa. è somente necessário para comunicar - acto que por si só necessita apenas dum receptor-emissor, uma linguagem comum e canais, de assimilação e transformação da mensagem para a sua descodificação, em boas condições - que haja vontade para isso. A simples adulteração duma letra numa palavra, duma virgula numa frase, ou de um texto interpretado anacronicamente para dar origem a um tratado, a quase um mestrado em semantica, retorica, ou mesmo dum postulado em Valores morais e conduta. Sem querer ter pretensões a enveredar por esse caminho, porque a páginas tantas o que se escreve em epigrafe seja fruto de uma semente estéril e que para outros redundará apenas num virar de página venho então remeter-vos para textos que já escrevi, e fases por que já passei e momentos que soam a deja vu, acabando por achar eu que, no fundo, o que está aqui descrito será considerado, até por mim, como um ensaio em branco. Contudo e para não sair de mãos a abanar, como daqueles filmes que vamos ver e a unica coisa que retemos são as pipocas no bucho, peço que leiam o que escrevi ali em baixo, o primeiro um daqueles tratados que falei aqui, o segundo um desabafo, um sentir, um pesar, um lamento, um latir, na primeira pessoa:


1 - http://crostaceo.blogspot.com/2009/09/diario-de-bordo-dum-qualquer-lugar-no.html

2 - http://crostaceo.blogspot.com/2009/07/opiniao-sem-razao-nova-edicao.html


Abraços

(Continuação)Como arma de primeira linha para produzir ou atiçar motins

"Esta operação nada tem de místico. Os efeitos sonoros de um motim podem criar um motim verdadeiro em situação de tumulto. Apitos de polícia gravados atrairão os chuis, Disparos gravados e fá-los-á puxar pelas armas.
"MEU DEUS, ESTÃO A MATAR-NOS"
Mais tarde um guarda disse:« Ouvi tiros e vi cair o meu colega, com o rosto coberto de sangue( veio a saber-se que tinha sido atingido por uma pedra atirada com uma fisga) e pensei: " Agora é que é!"» QUARTA-FEIRA SANGRENTA. UMA AMÉRICA ESTUPEFACTA CONTOU 23 MORTOS E 32 FERIDOS, 6 DELES EM ESTADO CRÍTICO. Eis uma situação pré-motim perfeitamente banal. pediu-se aos manifestantes que se mantivessem pacíficos, aos polícias e aos guardas que agissem com calma. Dez gravadores presos debaixo de casacos com playback e gravação, controlados por distintivos na botoeira. Têm efeitos sonoros de motins pré-gravados em Chigago, Paris, Cidade do México, Kent/Ohio. Se Ajustarem a altura d gravação de acordo com os níveis sonoros circundantes, passarão despercebidos. A polícia envolve-se em luta com os manifestantes. Os técnicos acorrem. Transmitem a gravação de Chicago, voltam a transmiti-la, passam os motins seguintes gravam, voltam a transmitir, continuam a movimentar-se As coisas estão a aquecer, está um chui a gemer por terra, Um coro estridente de guincho de porco e gemidos parodiados em gravação.
Poderíamos apaziguar um motim gravando o chui mais calmo e o manifestante mais sensato? Talvez! É contudo muito mais fácil desencadear sarilhos do que pôr-lhe termo. apenas se sublinha que se pode utilizar cut-ups no gravador como arma. Verificar-se-á que os técnicos vão fazendo cut-ups continuamente. estão a intercalar ao acaso Chigago, Paris, Cidade do México, Kent/Ohio com os actuais efeitos sonoros e temos um cut-up."

Tirado de W.S.Burroughs, Revolução Electronica 1971

e em seguida:

Laurie Anderson do LP Home of The Brave 1984

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Amargura infinita - citação


" - Ah! meu caro Lúcio, acredite-me! nada me encanta já; tudo me aborrece, me nauseia. Os meus próprios raros entusiasmos, se me lembro deles, logo se me esvaem - pois , ao medi-los , encontro-os tão mesquinhos, tão de pacotilha...Quer saber? Outrora, à noite, no meu leito, antes de dormir, eu punha-me a divagar. E era feliz por momentos, entressonhando a glória, o amor, os êxtases...Mas hoje já não sei com que sonhos me robustecer. Acastelei os maiores...eles próprios me fartaram: são sempre os mesmos - e é impossível achar outros...Depois, não me saciam apenas as coisas que possuo - aborrecem-me também as que não tenho, porque, na vida, como nos sonhos são sempre as mesmas. De resto, se às vezes posso sofrer por não possuir certas coisas que ainda não conheço inteiramente, a verdade é que, descendo-me melhor, logo averiguo isto: Meu Deus, se as tivera, ainda maior seria a minha dor, o meu tédio...De forma que gastar tempo é hoje o único fim da minha existência deserta. Se viajo- se vivo, numa palavra, creia-me: é para consumir instantes. Mas dentro em pouco(já o pressinto) isto mesmo me saciará. E que fazer então? Não sei...não sei... Ah!, que amargura infinita..."

Mário de Sá Carneiro - A confissão de Lúcio(1914)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

E ao enésimo dia descansou para sempre...


e Ana viviam num mundo idílico. Tinham tudo à disposição. Um cenário fabuloso, com montanhas cobertas de neve a norte, um planície verdejante onde habitavam, o mar calmo e azul a sul, a poente um pequeno deserto em forma de tundra, a nascente um rio que desaguava juntamente com uma floresta secular. Uma quinta com animazitos que cuidavam, sobreviviam da caça/pesca de recolecção de bagas e frutos. Cresciam assim, qual casal modelo num mundo fabricado para eles. E um deus em cima num ceu doirado e esmeralda, conforme a hora do dia. ia à pesca, Ana alimentava os animais e sentava-se ao final da tarde, preparando uma fogueira com o seu companheiro para assar um peixito fresquinho. Os dias passaram, e não envelheciam. Eram felizes, viam o nascer e o pôr do sol, as marés, o degelo, os ventos a dobrar as copas das árvores...Mas aborreceram-se. Não havia uma cobra nem tão pouco uma maçã. O tédio apoderou-se deles. Chamaram o deus, que apareceu com toda a pompa e circunstancia, com direito a trovões e tudo, numa cena digna duma pintura duma capela Cistina. perguntou-lhes que mais queriam, eles retorquíram: "Nada!". Nada??? - repetiu o deus, escurecendo os céus e tolhendo-lhes a visão, criando um cenário oposto ao primeiro e até Dantesco. "Sim nada!"- repetiram. Ana apagou o cigarro, levantou-se tirou a manta das pernas, pediu uma flecha a , pegando em seguida no arco, e arremessando-a certeira a deus, matando-o de súbito.
A maré continuava a descer, o sol acabava de por-se, as montanhas imóveis como sempre e cobertas com neves eternas e uma brisa vinha do deserto. Fizeram o check out. Arrumaram as malas no carro, deram à chave, entraram na via rápida, e deram por findas mais umas férias de verão.
Pro Ano haverá mais, lembrou Ana que não voltariam aqui, o serviço era péssimo.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

um ano novo

Introdução:
o ano de 2010 entra. Na Era de Aquário o Ano do Tigre, o tempo do virus!
sou um virus. transportando em mim todo e qualquer conhecimento humano, endogeno ou exogeno, aprendido ou apreendido, genético ou memético. binário

Fervilho, num frémito de expectativa, num torpor de receio pelo salto no desconhecido mas previsivelmente peculiar mas vulgar e banal. Cheio de tempestade. Não climatérica, antes social, e até emocional. Não há tempo para amar, esclarecer, informar e iluminar., só para obedecer
ao sistema maquinal. sintético. Ódio, intolerância e preconceito, num conceito mais cómodo e mais facil porque carece de razão. Oco e vazio.

Sentado no futuro,num banco de jardim, a noite a crescer, com a chuva a cair;

Tudo tão calmo...

uma serenidade apaziguante

vejo um deserto estender-se pela civilização, extenso e plano
sem horizonte,bonito..este futuro.
Paradoxal
Um deserto virtual de ideias, de ideais, de ideologias e outros que tais.
isento de emoções, sensações, sentimentos, só os 5 sentidos, muito breves e resumidos. Chegam em cápsulas sintéticas, uma toma diária. Geração do drive-in, fast-food, google e facebook e informação na wikipédia. Anorética e estética.


os sentidos apurados de repente! Brrr que susto! Suicídios, assassínios, psicopatas, prozac e xanax, ginásio com esteroides e anabolizantes. Corpo são em mentes adormecidas.
Mas e o que são os sentidos?... Como são?
A que sabe?
como sentir?
E que devir?

Ouvido.
a audição numa calma tranquila e como fundo sonoro, o silêncio. Que tem de ser preenchido pelo electro, retro, tecno. Ninguém escuta apenas ouve. Para acalmar sai-se da praia e fecha-se em casa com o som do cd de golfinhos entretanto extintos.

Paladar.
um sabor neutro mas aveludado, não como o paladar do vinho mas como se se sentisse o toque suave dum céu sem nuvens e sabendo quase a azul eléctrico.

Tacto.
Sem toque, com luvas, antiseptico, pele macia, e fraldas dodot, Gillete não irritante, pensos confortáveis com abas, e abram alas, não se toca, digite-se na ausência de atrito.. e sentindo aquele deserto plano, deslizante e distante, quase ausente, muito ténue. Mas sempre presente e insistente em quem não sente.

Olfacto.
Apurado, e preparado para qualquer cheiro, com máscara. Odores artificiais no carro, cheire o Serengueti na Kawasaki.
sim.. e o cheiro é sempre algo..familiar, o que vai sendo raro.

Entra o ar pelas narinas e sinto o universo a entrar, aquele vácuo negro e escuro, mas sem morbidez para já.

Ao refinar a aspiração, inspiro-me, e agora quase se confundindo com um branco límpido, uma inspiração mais cuidada e quase se sente que se cheira o Mundo inteiro, sem caos nem desordem, e também sem qualquer ordem, mas puro, perfeito e original. um cheiro que não traz recordações que apenas nos faz pensar, em nada, em sorrir e lembrar de não esquecer o momento passado, e/ou que traga uma nova, um boa nova...Talvez futuro que à medida que nos aproximamos dele seja alternativo, real. Pouco provavel se não impossível.
Parentesis:
Divagação#1

E ao cheirá-lo, ao pressentir o futuro, através do passado, alargam-se as narinas, sentindo as entranhas da terra, entrando por mim as almas de dezenas de milhares de milhões de corpos moribundos.Que vagueiam desde que a humanidade foi criada. Transforma-se este odor em almas etéras, e em vez de serem sintetizadas pelo pulmão, vão ao cerne da razão para lá serem assimiladas e reinterpretadas. converte-se os sentimentos numa mescla de caos e confusão. Englobando num único corpo todas as vozes interiores do Mundo: sai um grito seguido duma explosão.

Emoções negras nas recordações que me entram nos pulmões e irradiam toda a dor, mágoa, angustia, rancor, doença e horror, sensação tão avassaladora que rebenta com o excedente de informação:

o excesso de emoção.

#2

e bang, bah...puf. transformação da mitocondria em cloroplasto e vegeto. Mas dentro da moda vigente vegeta-se em compostos de silicio. Troca-se o "fish and chips" pelos micro-chips



a terrível noção ou sensação de ter toda a dor da humanidade, desde que primeira pintura foi gravada na gruta, até ao último passo da Diáspora humana... e para além.

adiante então pois ia somente no olfacto. fechando parêntesis.

Visão:
mais à frente os olhos nada vislumbram, pois os anteriores sentidos já preenchem o vazio até demais, com sensações exacerbadas e exponenciadas. não dando lugar a mais nada. O que há para ver grava-se em Mp4, para mais tarde recordar, olha-se em slowmotion sente-se em fastforward. Pensa-se em pause.
Uma Conclusão:

Sou um virus, é o meu tempo, estou na moda, sou fashion, Freak-chic. Designações, descrições e concepções a metro e por encomenda. Em grande escala. Mega, Giga. Pague dois leve 3, que à dúzia já não é mais barato. daí que prefira não ver, já chega. Olho para o lado, depois de abrir os olhos, e desaparece o banco de jardim, viajava no comboio e a próxima estação é a terminal, sem correspondência qualquer lugar. Entretanto está-se em rede mas não se pesca nada e contudo faz-se um download do antivirus. Extingue-se. Extermina-se tudo.

Até já.

domingo, 3 de janeiro de 2010

mundo paralelo

No espaço e em estado diferentes o Eu se encontrou. Olharam-se mutuamente. Claro, escuridão. Antes um brilho...anularam-se um ao outro... desaparecendo em pouco mais que física pura.