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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Naquele dia de inverno Parte II



Um bizarro peixe abissal olha para aquela estranha criatura, sentindo que a mesma não pertence àquele meio e empurra-a das profundezas até dar à beira-mar.


Acorda, sem saber quanto tempo passou desde aquele mergulho, sente-se estranho, diferente. Volta para casa. adormece e descansa uns dias. Talvez não passasse tudo dum sonho... Levanta-se e sai. Anda erraticamente. A cidades e as ruas, o céu e as gentes como que o desaprovam, rejeitam-no, olhavam-no com um misto de desconfiança e desdém. Estará a ser preconceituoso?


O tempo e os dias pareciam repetições e reposições. Não conhece já nada nem ninguém. Sente-se um proscrito, regressado dum espaço e dum tempo há muito apagados. Não comunicava com ninguém mas recebia sinais visuais de todas as direcções:de desaprovação, outros de nojo e ainda de ignorância.O repúdio uma constante. Sentia-se perseguido e complexado . Estranhou tudo. E nada entendia.


Questionava-se sobre quando e como é que deixaram de ver as cores, de observar as formas de analisar os conteúdos. E todos o avaliavam, mediam,julgavam e condenavam. Juizos de valor estes sem fundamento, baseados em conceitos duma moral antiga e rudimentar. Ninguém falava com o outro, ninguém se tocava, havia o medo de os olhares se cruzarem, e uma desconfiança no próximo primária. Os objectivos individuais baseados no interesse, no egoismo, no engano e na mentira enquanto todos trabalhavam para um colectivo que desconheciam, impessoal e abstracto.


As sensações mais básicas e primárias desapareceram.Como o amor que era inexistente, o desejo que esmorecia, a vontade que definhava, as liberdades individuais e o livre arbítrio que se extinguiam. Olhos vazios, os rostos frios e fechados, a mente estéril e formatada,em corpos mecanizados.


Saiu dali, daquela sociedade, desta nova civilização, e foi ao encontro do Mar. Entra nele e segue ao sabor da maré, sem forçar a corrente e afunda-se novamente. Definitavamente.

2 comentários:

as velas ardem ate ao fim disse...

Tu andas a escrever fantasticamente!

bjo

Carla disse...

Adorei.
Fez-me lembrar a historia do livro do Miguel Sousa Tavares "O Segredo do Rio" ele conta para crianças e tua contas uma versão parecida para adultos.
Gosto muito de passear junto ao mar num dia lindo de Inverno e é optimo para refletir