Nunca vos contei a tenra idade passada na Quinta da Machada em Viseu. De 1971 a 1985 mas só contarei o que me parece ser minha memória e sentimento ou emoção e não memórias fragmentadas que nos são contadas e fazemos como nossas e parte da realidade porém é uma realidade alheia que foi vivida por terceiros. Assim a chegada era de madrugada ou à tardinha de automotora e à espera o Sr Virgílio tirava um João adormecido dentro da carruagem e leva-o ao colo cerca de 10 minutos até casa. Pois os Pais colocavam-me em Santa Apolónia e Sete horas depois estava na Estação da CP de Viseu! Sim! Viseu já teve um comboio! Não é como agora só em Nelas e Mangualde. E noutro dia já desperto dava um beijo à minha avó Cacilda e ao meu avô Virgílio( que odiava beijos) mas eu adorava meus queridos avós! E às sete ou pouco mais tarde, era acordado, empurrado para a casa de banho e vinha tomar o pequeno-almoço! Finalmente estava de férias e num sítio onde estava lovre de ir pra todo o lado( desde que "ao por-do-sol com os cotos em casa" regra da Avó...) E que excitação para Sair e encontrar-me com o Serafim, o Tó( nativos) e o Pedrito, o Rui e a Sara, que como eu, eram lá deixados, os dois primeiros do Porto, e a Sara( o meu primeiro beijo no bate- pé) de Alcácer do Sal. Tudo netos de residentes...e o pequeno-almoço era devorado, para sair e ir bater-lhes à porta, muitas vezes em tronco nu, descalço( para não dares cabo das sapatilhas à tua mãe-frase do avô Virgílio que não se queria meter em despesas), e la ia! Muitas vezes ligavamos antes,Sim! Havia telefone fixo! Para saber se já aqui estavam, se íamos ao lago, se à Cava do Viriato( estrutura que fazia uma parte do Muro da Quinta) de tempos mouriscos e que fazia parte duma fortificação Octogonal daqueles que agora chamam, no mei trabalho, de" cabeças entrapadas" ou lá o que é...enfim e adiante! Decidimos onde ir após ponto de encontro no mesmo Sítio, junto à fonte e ao Tanque, de 4 metros por 2 de Água, onde se lavava a roupa. Mas nós, sem que ninguém soubesse, tomavamos banho, e fazíamos vários jogos actividades e parvoíces:
Saltos pra água das videiras
Atirar Gatos lá pra dentro
apanhar rãs e fazer competições olímpicas com Elas
Afogar ratazanas... é assim mesmo...
E jogo do Bate pé com a Sara, a Fátima e a Cláudia( respectivamente veraneante, irmã do Serafim e minha Prima) que não! Nunca beijei (nem anos mais tarde quando a adolescência começou forniquei! Juro por tudo o que me é sagrado, embora o lado inverso tivesse laivos incestuosos que sempre repudiei e até achava bizarro!) A manhã terminava connosco à procura de cachos maduros, e outra fruta pois a fominha era muita! De tarde íamos muitas vezes para a Cava que tinha árvores viçosas de vários tamanhos desde eucaliptos,pinheiros, plátanos e uma espécie que não me recordo o nome, mas que era perfeita para fazer os Arco e flechas, que colocavamos um fio de arame e as flechas eram muitas vezes varetas de chapéu de chuva! E posso dizer que bem afiados não havia ciganos, putos adolescentes do Centro ou gente mal intencionada que se metesse com estes putos ricos ou de Lisboa, como eramos apelidados por causa do sotaque!
Os dias eram infindáveis e normalmente andava com o meu melhor amigo o Serafim, e ou íamos roubar moedas aos cotas, 5 escudos( recordo que 100 escudos, para nós, era a sorte grande, e quando tínhamos uma nota de vinte, íamos comer viriatos e pirolitos!)para irmos jogar nas máquinas dos cafés, fosse flippers, matrecos, ou cafés mais para adultos, mas que nos deixavam estar e perdiamo-nos a ouvir música que nem conhecíamos, só pra verva maquina a pôr o disco sozinha! Era algo fascinante aquela tecnologia avançada! E o auge do dia, era quando conseguiamos entrar, já a meio do filme, para a sala de cinema, pois só no início cortavam os bilhetes e depois ou iam pro café, para a sala das máquinas ou para a rua fazer não sei o quê! E a gente punha-se a jeito, dentro do cinema, dois putos a ver os cartazes das próximas estreias e ninguém nos ligava!
É lógico que a Altura da Feira de São Mateus era mais cativante, pois no recinto havia senpre tanto para ver, fosse comer farturas, andar os dois nos carrinhos de choque, e ver as miúdas que chegam nas canionetas de excursão, fosse de Tondela, Águeda, Lamego, Guarda etc, haviam sempre diferentes para lavar a vista... depois... chegava o fim de Setembro e ia embora pois chegava a altura da odiada escola, mas eram tempos divinais e memórias que nunca esquecerei.....
Quando lá voltei, depois de quase uma década após o falecimento dos meus avós; Meu Avô Virgílio faleceu em 1997 e a minha avó Cacilda com o desgosto, pouco mais durou.... Mas dizia Eu, que voltei para mostrar a Quinta à namorada e mostrar os sítios onde na infância brincava, tivevum choque... Casas ardidas ou meio destruídas por vandalismo ou apenas a passagem do Tempo, caminhos cheios de silvas e intrasitaveis. O Tanque e a fonte por debaixo de entulho e matagal, a casa dos avós semi destruída e o choro foi inevitável e inusitado por tal visão Dantesca! Um paraíso lúdico em pequenino e Caos e destruição em Adulto, não aguentei a tremenda desilusão,tristesa e quase um apagar das memórias felizes que ali tive, vivi e passei toda a minha infância e de repente soterradas em Silvas, silêncio e abandono....
Esta narrativa pode não ter ponta por onde se lhe pegue, sem romantismo, cadência, descrição e pormenores vários, diversas testemunhas em partilha duma memória, e uma visão geral unida por uma forma de contar emocionada e bem delineada. Porém fui escrevendo o que ia recordando, como juntando partes da minha memória e somando ao texto, e é apenas uma recordação sumida disponível dos momentos que ali vivi e passei, e assim fui por aí em diante, como a mostrar pessoalmente a Quinta a alguém e não a descreve-la como um vendedor de sonhos, apenas um capricho meu que saiu e se espalhou...
Nem sei se é isto que quis explicar a desculpar-me da mesma lenga lenga em catadupa... não sei que quis, só me aconteceu reviver! E sim gostei de lá voltar! Adoro-vos a todos que aqui estão descritos!
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