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terça-feira, 6 de novembro de 2007

tédio animal

Por vezes dá-me vontade de nada fazer, então escrevo linhas, quem sabe para fazer um novelo e tricotar um pouco. Um comportamento humano. É aquela sensação que talvez se tenha quando se dá milho aos pombos. Vê-los correr pelos ares e a debicar aqui e ali. É um passatempo sui generis. Noutro dia vi um homem que o fazia, parecia empenhado!Como se a tarefa fosse honrosa e honrada. E é decerto, são conceitos. Há quem dê aos patos nos lagos do parque, ou até ao peixes no rio. Mas estes gostam de se amontoar junto a pequenos riachos de esgoto e ali deglutir pequenos manjares, falo das tainhas que também observei no domingo. Divertiam-se imenso e estavam a atarefadas a galgar-se mutuamente e de quando em vez giravam em torno de si mesmas e dava pra ver o brilho prata do fundo escuro da água. Um efeito bonito. são dias assim de national geographic ao vivo e em directo. Até os cães participam nisso! Quando andam juntos a cheirar os cantos e esquinas obscuras com cheiros nauseabundos, outros mesmo imperceptiveis para nós, mas decerto que levam ou trazem com eles notícias doutros lados. Os actos sociais caninos são interessantes para quem se encontra aborrecido, correm atrás dos gatos, cheiram o rabo uns aos outros, rosnam-se, ladram às gentes, levantam a pata na roda do carro, dormem ao sol,e roem o osso gigante dum fémur de bovideo, que deve ser o correspondente canino ao nosso sudoku. Os pardais são caricatos, quando o sol se põe juntam-se todos na mesma árvore e fazem uma barrulheira descomunal, são tantos que se confundem com as folhas, esvoaçam, e marcam lugar e presença, ocupam um galho para adormeçer mas logo em seguida são incomodados pelo vizinho e dão mais uma voltinha pela copa. De todas as direcções chegam mais, e é dificil imaginar como cabem todos ali naquele espaço. é a teoria do caos em aplicação natural. Uma comunidade alada similar aos peregrinos em meca que rodam e rodam! Engraçados os bichos. Os bichanos(gatos) também, com os seus bizarros afazeres, entre dormidas, perseguem osgas e lagartixas, fazem esperas a passaros incautos e divertem-se arrancando patas a gafanhotos. Crueldade? nahh...Natureza. Será o equivalente ao nosso tricot. Pensando bem o nosso ócio é bem mais futil, conversas infinitas à mesa de café, regadas a alcool e/ou cafeína, visitas a centros comerciais, tardes em que se desdenha o resto do povo mas acabamos sempre por nos juntar todos. Natural também, somos gregários, vive-se assim então.
cada macaco no seu galho, o Pombo com o seu grão, a tainha com o seu pedaço personalizado de esterco, o cão espoja-se, o pato pavoneia-se, o gato embeleza-se. os pardalitos poisam por cá, e nós, aqueles que falam, invejam-nos. E passa-se o dia.

3 comentários:

Anónimo disse...

E passa-se um dia bem agradável. Poder observar tudo isso, absorver esses momentos e passá-los para um teclado, é bom. Muito bom. Porque afinal não foram momentos em vão... Foram momentos de curiosidade e de partilha :)

Elfa disse...

Diria que só é tédio se nós assim o permitirmos...
Há que contrariar esse tédio e viver!
Mas adorei ler-te... continua! pois parece que paráste... 8(
Beijinho*

Cruztáceo disse...

Não parei, "encontrámo-nos" e da escrita passei a tentar "sentir" e a viver o "poder do agora" contudo tento...e enquanto não consigo espero por ti e pelos teus sábios conselhos e pela tua excelsa companhia, com a qual, e embora mal, tento aperfeiçoar-me...