terça-feira, 13 de maio de 2008
Pascoal
Pascoal desde cedo se mostrou maldito, na freguesia de nossa senhora dos degolados era desprezado. Aos 4 anos matou e comeu o irmão de berço. Foi expulso. Vivia na mata, à espera. Descalço e nu, crescia com os restos de carcaças de animais e bagas e frutos, evitava os aglomerados humanos, dormia nas árvores e descia as aldeias em busca da sua próxima vitima. Degolava alguns e trazia os que à força de braços conseguia puxar para cima dos ramos. Os mais novos eram tenros, as mulheres mais saborosas e os velhos mais secos e elásticos e custava-lhe a deglutição. Vivia na noite, durante o dia acoitava-se do sol, e costumava sonhar em ser um animal selvagem doutro continente, poder viver e correr nas grandes e largas savanas sem horizonte. Um dia souberam onde se escondia, toda a gente se juntou no adro da Igreja, com armas e fogo, subiram a encosta. Pelo cimo da copas das árvores fugiu até ao cume mais longínquo. Aguardou quase um mês de atalaia que o pior passasse. Nessa mesma noite, antes do raiar, desceu á aldeia, com gentileza e subtilmente, fechou todas as saídas de portas e janelas. Em seguida pegou fogo a tudo. Esperou que os gritos findassem, aguardou que o cheiro a carne queimada desaparecesse. Retirou-se. Do cimo das árvores olhou para baixo e sorriu. Era tudo dele finalmente.
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