Um porquinho vivia com os seus amiguinhos em comunidade, plena de luz, harmonia e alegria. Ia para todas as festividades da pocilga, saia e ia procurar alimentos na mata, e iam laurear a pluma até às tantas e tinha uma vida social e animal muito intensa. Não precisava de mais nada pois sentia-se completo. Chegou uma altura em que começa a ficar saturado dessa vida, questionou-se sobre a sua existência, tornou-se niilista, mais tarde existencialista e tentou o humanismo como corrente filosófica. Pois havia algo que carecia e o enchia de paisagens mundanas e inconsequentes. Uma vida cheia e preenchida mas uma entidade vazia. A agenda continuava agitada e muito preenchida. Mas sabia a pouco. Ambicionava a novidade, a objectividade e até uma corrente que o ligasse ao chão. Num dos seus périplos a sós, pois apesar de ser extremamente gregário, tinha momentos introspectivos e retrospectivos, em que fazia uma revisão mental de sim mesmo.
Caminhava de erva na boca e...
- caiu-lhe a queixada
- roncou de espanto
- aparvalhando-se
De repente e eis que senão quando, vinda duma planície a norte e num vale Verdejante e cintilante, aparece alguém que o ofusca e fascina: Uma Joaninha! indescritível, que torna horrível o mais belo por-do-sol e arrepia as auroras boreais e o próprio Universo é escuro e triste. O dia torna-se rico, belo e de brisa quente, perfumado a primavera e polvilhado de luminosidade e de polens, com botões de rosa a crescerem à sua volta, abelhas a circum-navegarem-nas, pardalitos a quebrarem os ovitos e a chilrearem nos seus ninhos. Assistia ao aparecimento das cores vivas do arco-íris e o nascimento de inúmeras vidas que enriqueciam a sua visão Esfrega os olhos e volta a si com o coração palpitante. Passado esse encontro, começaram a combinar ver-se por ali numa base quase diária, e tinham longas conversas e davam grandes passeatas. Até que começaram a namorar.
A vida em conjunto era muito difícil para o porquinho, pois não estava habituado a certas rotinas e deveres, pois até aqui tudo era posto à sua disposição. Porém chegando este novo amor, teve de se adaptar, teve imensas dificuldades pois, a sua querida e amada companheira, não podia acartar com todas as vicissitudes da existência, e o porquinho ficava confuso, pois tal nunca lhe tinha sido exigido, passou então por uma fase de transição e de mudança, em que era imprescindível que não falhasse pois poderia por em causa o seu amor, e isso era coisa que para ele era impensável. Afastou-se da sua antiga vara e vivia em comunhão total com a sua paixão e eventualmente esquecera os amigos, que o chamavam à pedra por não lhes prestar cartucho. Estava assoberbado de funções novas que desconhecia.Uma vez por outra falhava por desconhecimento, inépcia ou alienação. O que causava uma grande decepção na sua apaixonada, e aos poucos fez por se organizar, e aumentou os seus tais períodos apelidados de introspecção/ retrospecção( uma espécie de estado zen suíno), pois procurava adaptar-se na perfeição. Ia mudando aos poucos, tornando-se num melhor ser, ou não só parecê-lo como sê-lo. Tinha dificuldades pois como veio a descobrir, não era um porquinho mas um Javali e tinha dentro de si um grito selvagem a chama-lo. Contudo esse grito ,ou esse chamamento, ia esmorecendo, e o javali tomando como seu o Vale verdejante e por ali assentando arraiais. Ainda desconhecia certas zonas, e fazia reconhecimentos para se ambientar. Mostrou-lhe o seu mundo, o seu modo de fazer e de estar. A páginas tantas, viviam em estado de graça, mas a estória não acaba aqui. Decorre neste instante! E posso-vos garantir que não há um segundo que passa, em que o Javali não pensa na sua Joaninha.
2 comentários:
O porquinho quido :)
Caminha para lá...
Mas sei de uma Joaninha que é mais que quida, docita, linda e coisinha boa.
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