Deu os primeiros passos como bípede, com visão binocular e polegar oponível. Condicionantes estas fundamentais para a sua evolução cognitiva. Era uma fraca figura,de constituição frágil, com uma grande cabeça, tinha um maxilar atrofiado, sem uma dentição poderosa, e em vez de garras possuía nas pontas dos dedos umas unhas quase residuais sem grande uso, com o corpo desprovido de pelagem, e longe de estar no topo da cadeia alimentar. Saiu da floresta para as estepes, colheu bagas e frutos, dedicou-se à caça em grupo.
Depois(não terá sido certamente ao 7º dia) sentou-se e descansou.Mostrou-se pela primeira vez ao Mundo, reclamando para si o lugar cimeiro como espécie dominante. Ciente que agora os seus predadores tornar-se-iam agora presas.
Sempre foi gregário, vivia em comunidade. O número, ou seja, a quantidade de população de uma tribo, aldeia ou cidade, era um modo de segurança, de protecção e de manutenção do seu modo de vida.Na actual sociedade, tornou-se sectário, já não precisa de se juntar aos outros para levar a sua avante. Depende antes de mais da inteligência, da capacidade de comunicar, da retórica, e da sua eloquência. Sendo o lema: "A pena é mais forte que a espada" não levado literalmente pois onde chegou destruiu pela força tudo o que se intrometia no seu caminho.
Chegou à Revolução Industrial, o aumento populacional foi exponencial, domina sobre a terra em todo o seu esplendor, daqui à actualidade foi um pequeno passo contudo um grande salto para adulteração total e completa da paisagem.
Vive num meio completamente adulterado da natureza e adaptado ao seu modo de vida actual, é sobretudo urbano e cosmopolita, orgulha-se da sua sapiência mas perdeu os seus instintos. Incapaz de criar algo para a sua sobrevivência, como um arco, um machado, ou um simples agasalho, especializou-se em demasia. Se perdido numa floresta, longe da civilização, a sua capacidade de sobrevivência aproxima-se do zero. O que obteve em conhecimento e cultura, em princípios e valores, perdeu em integração no meio donde veio, dum mundo que já desconhece, que despreza, esquecendo rapidamente as origens.
À evolução tecnológica do Homem, segue-se (ou é acompanhada) a evolução social e cultural. Desde a descoberta do fogo, a sua ascenção foi metéorica, passando os seus conhecimentos, pela mecanica quantica à Exploração Espacial, da microbiologia à nanotecnologia. O Homem quase que se deificou, passando as religiões a terem um papel secundário, fragmentando-se em várias seitas ou ideologias bizarras, até ao fundamentalismo.
Os meios de transmissão da mensagem, estão longe dos tambores e dos sinais de fumo, ou do pombo-correio e já transcendem a imprensa escrita, são veiculadas pela Televisão e Internet à velocidade da Luz.Vivendo agora num mundo real composto do virtual e do surreal...Da máscara,da trama, do drama, do ardil. A informação já não é passada pelos Bardos, nem de boca em boca, as lendas estão esquecidas, as estórias e a história são adulteradas. As leis já não são do homem para o homem, mas de um grupo restrito para a maioria da população. A democracia, tão apregoada, transforma-se em Oligarquia. Há a obsessão pelo modelo ocidental de vivência. O Modus operandi e Modus Vivendi do ser humano torna-se igual para toda a gente. Sufocando outras formas de estar e de ser. Os exemplos chegam-nos através da TV e da Net. Imitam-se as estrelas de cinema e a gente da alta sociedade. A criação artística, musical e cinematografica estagnam.Pois já está tudo inventado, e as inovações são recriações, fazem-se filmes que são remakes, fazem-se musicas que são remixes, palavras estas que são anglicismos, e a cultura que marca o Século XX e XXI é a anglo-saxónica. Aos novos estilos dão-lhe o nome de "retro", de "neo", etc, etc. O pós-modernismo já está demodé.
O cidadão que fuja deste ideal, da norma, do standartizado, é marginalizado, e ostracizado. Embora as democracias preconizem o direito à liberdade de expressão e ao livre arbítrio, a sociedade é dominada por regras e normas rígidas de comportamento que limitam e proíbem, que oprimem as ideologias contrárias à predominante.
O direito à diferença não passa do papel e quem é diferente é etiquetado de dissidente, indigente de doente ou de anormal. Combate-se o Terrorismo dum lado e usam-se politicas de Terror para dominar as pessoas.
Para controlar instala-se o medo, do diferente, aponta-se o dedo a quem tem ideologia divergente, ou duma outra religião. Com o receio de um ataque terrorista retiram-se aos cidadãos a sua privacidade. O Patriot Act no EUA, permite ao governo ter acesso às chamadas telefónicas dos cidadãos, aos registos da biblioteca local, aos livros e filmes que vê, às viagens que efectua. No fundo, o terrorismo serve para criar receio na população e para a controlar, tiram-se direitos ao homem com o objectivo de o proteger,e acabam por controlar o que pensa, eventualmente transformando o homem num ser amorfo,que crê em tudo o que o Poder instituído lhe diz. Comporta-se como um autómato, inclusivamente já não questiona a informação que lhe prestam, toma tudo como verdadeiro, não raciocina, nem sequer repensa, discute ou refuta nada, e deixa, inconscientemente que o façam por ele. É de salientar que nas livrarias tem tendência a comprar os livros best-sellers, e acaba por ficar limitado, não por não ter escolha, mas por omissão na informação prestada.Nas rádios passam o que as editoras querem vender, etiquetando de musicas alternativas/independentes ou musicas do mundo as edições que não são das grandes multinacionais. O pensamento artístico, a criatividade humana deixa de ter expressão.
Dão a ideia de que o homem é livre de optar, mas está preso às normas de conduta que a sociedade lhe impõe. O homem pode escolher, mas a escolha é pré-seleccionada.
O homem, distingue-se dos outros animais pela sua capacidade de filosofar, de questionar a sua própria existência e de ser capaz de perdoar, de se mostrar clemente, misericordioso, e com espírito de inter-ajuda, de dar a mão ao próximo, mesmo que este esteja distante. Acontece que o homem não só não evoluiu neste campo como demonstra também uma faceta auto-destrutiva, agressiva e devido à sua prepotência, é capaz de actos de horror, e requintes de malvadez que não lembram ao mais cruel dos predadores que connosco vivem nesta bolha Azul. O homem fa-lo pela simples razão de o poder fazer, talvez uma demonstração de poder, ou então por ter chegado a um ponto onde tudo deixa de ser novidade, e para inovar ou fugir ao tédio e à monotonia da rotina, passa para o campo do bizarro, do invulgar, do mórbido e do perverso.
Tornou-se intolerante, despreza a diferença e contudo quer-se destacar dos outros. A opinião dos outros é levada com desdém, os que não caminham no mesmo sentido são marginalizados, até considerados doentes, anormais, embora a normalidade seja hoje um conceito em extinção (ou sem definição). O altruísmo não é praticado para ajudar alguém mas sim como moda, pois fica bem. A moral e princípios éticos não são dele mas sim imitados e copiados, quem sabe se não o são só como forma de se inserir num grupo? E apesar de não pertencer a uma tribo, precisa de se sentir integrado. As pessoas colectivamente formam associações e cooperativas com os mais diversos fins e existem para todos os gostos e feitios, mas individualmente o Homem, põe de lado o seu semelhante, marginaliza, discrimina, segrega, sectariza e ostraciza.
O homem sofreu uma evolução, talvez precisasse de passar por uma revolução.
Talvez a solução seja voltar às origens, deixar por momentos de olhar o céu como o seu destino futuro, de pensar em tranformar Marte num planeta habitável e dedicar-se primeiro a fazer o mesmo à Terra.
1 comentário:
Eu acho que o Homem precisa de uma revolução!
bjo
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