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10 dezembro 2025

A saudade Lunática e cosmologica

 


  Na vastidão silenciosa da Lua, onde o pó cinzento era a única paisagem e a gravidade uma dança lenta, viviam dois seres improváveis: Luna, a papagaio de papel colorida, e Cosmo, o gato preto e branco.Eles eram os únicos habitantes do pequeno posto avançado de investigação, esquecidos depois de uma missão falhada há muitos anos. Todos os dias, faziam a mesma rotina. Cosmo sentava-se na vigia com o vidro em forma de cúpula, observando o negrume do espaço. Luna, presa por um fio fino a uma das antenas solares, ondulava suavemente na brisa ténue que a ventilação criava.Não era a escuridão do espaço que os atraía, nem a poeira lunar que cobria as suas patas e o seu papel. Era o ponto azul e branco suspenso no céu acima deles, a Terra."Olha, Cosmo", dizia Luna, a sua voz de papel farfalhando. "Hoje as nuvens estão sobre a Europa, e o Brasil está ensolarado. Imaginas a chuva?"Cosmo soltava um miado melancólico. Ele lembrava-se da chuva, do cheiro de terra molhada e da sensação da relva verde e húmida sob as suas patas. Na Lua, o ar era rarefeito e seco, e a água era apenas um vapor reciclado.Eles sentiam uma saudade profunda e constante da distância. Viu a Terra todos os dias, a flutuar tão perto e, ao mesmo tempo, tão inacessível. O amor deles não era o amor romântico dos humanos; era uma partilha de solidão e de memórias de um mundo que perderam.Cosmo amava o sol quente a bater na janela da cozinha. Luna amava a sensação de voar com o vento real, não apenas a brisa artificial da base.Uma noite lunar, que durava catorze dias terrestres, Cosmo miou baixinho para Luna: "Lembro-me de te ver voar no parque. Corria atrás do teu fio, e o vento levantava-te tão alto. Eras livre."Luna suspirou, o seu papel tremendo: "E tu, Cosmo? Eras tão rápido. Saltavas para cima do sofá e depois para a secretária. E o teu pelo, era tão macio. Aqui na Lua, estamos sempre sujos de pó."O que os unia era esta nostalgia silenciosa, este amor pela Terra que viam mas não podiam tocar. A distância tornava o seu amor pelo seu planeta mais forte, mais puro, desprovido das trivialidades da vida quotidiana.Eles não podiam beijar-se ou abraçar-se. Cosmo não podia afiar as garras nos móveis e Luna não podia mergulhar no céu.Um dia, uma cápsula de comunicação caiu perto deles. Tinha uma única mensagem: "Resgate a caminho. Em breve em casa."Luna e Cosmo olharam um para o outro. O amor e a saudade que sentiam ganhou uma nova urgência. A Terra, o seu amor distante, ia finalmente abraçá-los de novo. Naquele momento, o ponto azul no céu nunca pareceu tão belo nem tão perto.

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