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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Uma descrição Antagónica





Havia um homem aqui. Numa qualquer altura. A acção era dramática. Era na época das revoluções. Em suma: Houve um incêndio no armazém que era uma espécie de arca de Noé, e o que para ali ia! Um banzé. As galinhas pegaram fogo e saíram disparadas. O céu em brasa com tanta sardinha ou peixe-gato com mais de uma asa. Passava-se no Rossio, no centro um pombo recordava-se e assim descrevia:Era a confusão, os gritos estridentes causaram uma explosão! Viam-se aviões e ratos pelo ar. As estrelas perguntavam que luz era aquela. A lua espantada zangou-se e deixo de me falar. Eu irritado deixei de girar. Larguei o chão e segui viagem. As fadas não cantavam. Os camarotes reais perguntavam se eram virtuais. O auditório celestial cheio aplaudia. O maestro tossia. A compasso marcava a arritmia. As bailarinas sofriam e dançavam ao som duma musa que tropeçava em cada verso. O gajo seguia pasmado em sentido inverso. Na rua o povo ria com cada pintainho siamês que punha um ovo ora quente ora escaldado. Havia uns que até os punham escalfados. O pároco dizia o terço sem fazer uma fracção. Num segundo ou num quarto deste tormento o armazém desabava. Não do calor mas com desalento. Não há fumo sem fogo. Aumentava o pânico e o vento. As vagas galgavam. Havia dois galgos que pendurados num galho vagueavam. No Pelourinho da aldeia lia-se a causa e açoitavam um condenado a ser testemunha deste parco testemunho. Dado por alguém que não tinha emprego. Vivia do subsidio e de sossego. Pela manha chegou a calma e com ela partiu-se em dois perdendo tanta a alma como o espírito. Fosse o santo ou beato todos esperavam o desfecho. Pronunciaram-se contra as chamas. Clamaram aos céus. Proclamaram-se inocentes. Havia tantos tormentos no meio das gentes. Um raio caiu, rachou um carvalho lamentou e saiu em liberdade. Nunca mais se soube de ninguém nem de nada. Apenas uma flor ornamentada. Uma cara retratada. E a cidade cansada...
In Epidemia semântica, Kayam Sonedra, Agosto de 88, Caminha

Fotos: Augusto Cabral, 1988

3 comentários:

alfabeta disse...

O Augusto Cabral és tu?

E o da foto és tu aos bocadinhos?! :)

Cruztáceo disse...

é um pseudónimo. mas não digas a ninguém!

alfabeta disse...

Combinado, fica só entre nós!