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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A Ilha


Viviam na Ilha. Uma população imensa de gente nobre e educada. Com todos os bens primordiais à civilização. A paz, com pão, em saúde, educação e habitação. Trabalhava-se para o bem comum, sem atritos, nem choques ideológicos. Nada faltava naquela sociedade perfeita. Passavam os dias, os anos, as décadas, e prosperavam. Sem aviso, o nivel das águas começou a subir. Fizeram-se diques, construiram-se canais, organizaram as construções em altura. Houve o dia em que o espaço não chegava, as gentes acotovelavam-se, os bens escasseavam, a estrutura desabava. Chegou a altura de se reunirem e tomarem decisões. Numa grande assembleia juntaram-se os representantes das várias ordens, para deliberar quem deveria abandonar a Ilha, e quem merecia ficar:
" Meus amigos!Em representação da ordem militar proponho que sejamos nós a ficar uma vez que a paz deve ser mantida, e que é só assim seremos felizes."
"Perdão meu caro senhor, eu como representante da ordem do advogados, devo avisar que sem Leis haverá o caos, e a Ilha não terá a razão!"
" Lamento afirmar senhores mas sem os engenheiros a manter as edificações tudo se irá desmoronar"
" Perdoaí-lhes Senhor! Sem a Ordem dos bispos, os fieis ficarão sem pastor, andarão tresmalhados e entraremos em perdição"
" Queiram desculpar, porém sem os médicos, a saúde piorará e todos padecerão de várias maleitas"
" Nós como agricultores queremos protestar, sem as terras para lavrar que iremos comer?"
A discussão prolongou-se ad eternum, até que o mar desceu, as terras secaram, as leis prescreveram, a fé perdeu-se, a doença avançou, a sociedade estagnou. Desaprendeu-se a fala.
Ficaram apenas os filhos das cinzas, e às cavernas se recolheram, fogueiras faziam, saiam para a caça e recolecção entre as ruinas da cidade e num vasto território por explorar. Uma unica tribo sem leis nem ordem. Sem rei nem roque. Felizes para sempre na sua desordem.

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