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quinta-feira, 10 de julho de 2008

Não!


Viajo em movimento continuo pelo carril. Desviam-no. Cortam-no. Os Ratos chiam! Páro numa aceleração estonteante! Parte de mim avança, esborracha-se! Tento sair, puxam-me, empurram-me, agarram-me, debicam-me. Fujo! As paredes cercam-me, fecham-me. A escuridão abarca tudo! No talho, despedaçam-me. Cortam-me a retalho, os cães salivam, e roem-me os ossos. Partem-me a alma, desfiguram-me o ser, deixo de estar. Já não sinto! Doem-me as pessoas! um sufoco! Derretem-me os ouvidos! Não acordo, arranco os olhos e vejo-me recordar, longe estou em paz. Num aperto contra a multidão surda estou incapaz...

2 comentários:

Porcelain disse...

Porque quando paramos e realmente percebemos que paramos, paramos sempre numa aceleração estonteante... se avançamos, esborrachamo-nos, mas se paramos, puxam-nos e empurram-nos... e tentamos sair, mas a escuridão de quando se pára abarca tudo...

Porque nos despedaçam, se estamos ali sem acção? Sim, doem-me as pessoas... derretem-me os ouvidos, pois nada entendem sobre mim... balbuciam baboseiras sem nexo... e não me podem ajudar... que bom é não acordar, que bom é arrancar os olhos... que paz!!

Parar é bom... para reflectir... é muito bom... só que às vezes fica-se preso nessa paragem e em vez da luz da reflexão, vem a agonia da prisão...

A multidão é sempre surda... a multidão aperta-nos sempre... a multidão deixa-nos sempre incapazes...

Susana Júlio disse...

Entre tanto parar, e violência do silêncio, e atrofio da mente, e cotoveladas dos outros só consegui escutar pink floyd entre as tuas palavras...ainda com Roger Waters...claro...