O casco de madeira secular mergulha no oceano.As velas içadas. Ardem a toda a pressa e a nave vai. Sobe ondas e corta marés. O azul preenche todo o espaço, o cima e o baixo. Os mapas e cartas marítimas perdem a validade, em frente o desconhecido e o mistério absorvem tudo e todos. O fascínio e o frémito de ver a novidade. Um mundo novo e uma nova experiência que se perspectiva. Terra à vista! Os botes tocam o areal. Areal virgem, branco, prateado e dourado! quase angelical, divinal. Dizem uns! Na costa, ao longe,e escondidos na estranha vegetação, homens e mulheres semi-nus de tez queimada, timidamente aproximam-se. O andar demonstra a curiosidade e a desconfiança. Os marinheiros saúdam e perguntam se há comida que possam tirar e que se possam abastecer. Os aborígenes acedem ao gesto continuando o passo. Juntam-se. Sai o Padre, com a cruz, os índios com frutas e flores em dádiva. Começa a evangelização, obrigam-nos a ajoelhar-se e a baixar-se beijando aquela cruz de madeira bolorenta. A liberdade de amar a natureza, e de amar o Pai Sol e a Mãe Oceano é posta em causa. A vivência em plena harmonia com a natureza é destroçada. Uma existência milenar de simbiose com Gaia estilhaçada. Seres heréticos estes que fogem e com flechas e lanças atingem os nobres cristãos. Desaparecem, o areal fica vazio. Ficam as mãos cortadas segurando flores. A cor do chão muda para o vermelho. O amor como coisa inata e universal, passa a um ódio visceral, destila das armaduras, das velas, das baionetas. Nasce raiva e aparece a ruindade na caras dos homens que apelidam de bárbaros os sujos e desnudados pagãos, e que tomam de assalto aquela terra longe e afastada de Deus. Voltam ao barco, oram aos céus, e tudo está em Paz... A Ordem restaurada. Mais um novo território abençoado e finalmente limpo. Asséptico! Puro e virginal. Que comece a colonização. Que avance a evolução. O mundo já não é novo. É antigo, velho e gasto. Depois da limpeza étnica, o avanço da cultura Católica-apostólica- romana. Tudo renova, tudo purifica, e a todos traz a nova ordem.
Os séculos passam, as vidas mudam, e na praia paradisíaca, aparece o Time-sharing, o turismo sexual mesclado de pedofilia, o tráfico de mulheres, e as drogas exportadas, a bem do estado, a bem da nação.
Lá em cima, dizem eles, Deus finalmente descansa.
(continua!)
3 comentários:
Esse Deus é muito estranho!!!
Porque carga d'água esses povos virgens teriam de se submeter a uma cruz bolorenta? Que direito tinham os católicos em invadir terras para as quais não eram convidados?
A História tem muitas estórias destas: decadentes, humilhantes para nós... O Poder!! Este continua até aos dias de hoje. Imparável!
Não seja assim!
Não seja assim!
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