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26 fevereiro 2008

Odes duma existência sideral ( remake dum poema no Espaço)


Gaia cria a vida ao simplesmente girar.
Também a destroi se espirrar.
Um volta mais rápida e está tudo no ar.
Uma paragem repentina e vai tudo voar.
Divaga com o sol e entre as outras estrelas,
desloca-se na galáxia e afasta-se do centro do Universo,
mas sem nunca o deixar.
Fazemos cálculos para tentar compreender,
esquemas para nos enquadrar,
tabelas para a saber ler,
e quadros para o demonstrar.

Apesar da ciência, apesar da técnica, sabemos pouco e nem sabemos quem nos vá ensinar. Apenas podemos agarrar-nos firmes e sorrir, estarmos presentes e testemunhar,
e apesar da nossa ganância não podemos ignorar, que em qualquer instante, em qualquer momento, com ou sem a nossa aquiescência, podemos expirar.
Assim é o Big Bang, assim se faz a criação, como num mecanismo automático que não requer a nossa compreensão, perante a nossa existência o tornamos axiomático, mas também, como num pequeno soluço, presenciamos a destruição.

20 fevereiro 2008

A Ilha


Viviam na Ilha. Uma população imensa de gente nobre e educada. Com todos os bens primordiais à civilização. A paz, com pão, em saúde, educação e habitação. Trabalhava-se para o bem comum, sem atritos, nem choques ideológicos. Nada faltava naquela sociedade perfeita. Passavam os dias, os anos, as décadas, e prosperavam. Sem aviso, o nivel das águas começou a subir. Fizeram-se diques, construiram-se canais, organizaram as construções em altura. Houve o dia em que o espaço não chegava, as gentes acotovelavam-se, os bens escasseavam, a estrutura desabava. Chegou a altura de se reunirem e tomarem decisões. Numa grande assembleia juntaram-se os representantes das várias ordens, para deliberar quem deveria abandonar a Ilha, e quem merecia ficar:
" Meus amigos!Em representação da ordem militar proponho que sejamos nós a ficar uma vez que a paz deve ser mantida, e que é só assim seremos felizes."
"Perdão meu caro senhor, eu como representante da ordem do advogados, devo avisar que sem Leis haverá o caos, e a Ilha não terá a razão!"
" Lamento afirmar senhores mas sem os engenheiros a manter as edificações tudo se irá desmoronar"
" Perdoaí-lhes Senhor! Sem a Ordem dos bispos, os fieis ficarão sem pastor, andarão tresmalhados e entraremos em perdição"
" Queiram desculpar, porém sem os médicos, a saúde piorará e todos padecerão de várias maleitas"
" Nós como agricultores queremos protestar, sem as terras para lavrar que iremos comer?"
A discussão prolongou-se ad eternum, até que o mar desceu, as terras secaram, as leis prescreveram, a fé perdeu-se, a doença avançou, a sociedade estagnou. Desaprendeu-se a fala.
Ficaram apenas os filhos das cinzas, e às cavernas se recolheram, fogueiras faziam, saiam para a caça e recolecção entre as ruinas da cidade e num vasto território por explorar. Uma unica tribo sem leis nem ordem. Sem rei nem roque. Felizes para sempre na sua desordem.

E Porque não?


"Porque não,
sentir apenas o acordar
Sentir o cheiro autêntico de uma laranja
Ouvir o autêntico cantar de uma gaivota..."

e porque não?
Porque não estender o braço e tocar as estrelas?
Porque não esticar o pescoço e brincar com as nuvens?
Porque não elevar o nariz e sentir toda a maresia do Oceano?
Porque não olhar para além da curvatura da Terra e seguirmos em frente?
Porque não abrir os braços e abraçar toda a Humanidade?
Porque não sorrir duma ponta a outra do Mundo?
Porque não correr pela praia e sentir a vida a fluir?
Porque não mergulhar, tocar o fundo e saber flutuar?
Porque não sentir o vento frio, abrir as narinas, respirar e a montanha aquecer?
Porque não ficar a ouvir o pássaro, as folhas e o insecto a voar?
Porque não ouvir as pessoas a passar?
Porque não deixar ser e estar?
Porque não?

19 fevereiro 2008

para Ti!


If you are my true friend
Then you'll listen
You see, I've been dreaming again
Looking for something
That's been lost
And these eyes have been a camera
They hold memories clear and fine
I'm turning away And I remember
The way it was to live
Inside a small girl
To cast no shadow on the ground
But there is someone here with me
And he is tying
A red, red ribbon to a tree
Oh my mother
My good friend
I knew you so little then
And my sister
And my two brothers
We can still talk to each other In the dark
So if today Is such a long, lonely time away
Then I'll remember
The sound of snow
And I'll remember
The forest
And I'll remember
The Mountain

Heidi Berry - The mountain

Vitamina C


Num campo havia um poço, e perto deste crescia uma alta e viçosa laranjeira. Nesta havia pendurado um baloiço e nele um menino. O menino viva numa quinta longe dali, e todos os dias vinha brincar perto do poço. Baloiçava enquanto se banqueteava a comer laranjas, cor-de-laranja grandes e sumarentas. Um dia caiu lá dentro e por lá ficou. Tinha saudades do baloiço. Das laranjas não. Caiam frequentemente lá dentro. E assim cresceu e tornou-se homem. A laranjeira nunca parou de dar fruto e alimentava-se dela. Um dia fartou-se e saiu. A laranjeira estava gigante e rasgou as cordas do baloiço que se encontrava gasto no chão pelo uso doutros meninos. O tamanho da laranjeira impressionou-o e subiu até ao mais alto dos ramos. Pelo menos aquele que lhe sustentava o peso. Por lá ficou. Os pardais incautos habituaram-se a ele, e o homem alimentava-se deles. A laranjeira crescia, o homem envelhecia. A laranjeira ficou.O poço também, e o homem morreu.

Sonho


Estando firme aqui neste penhasco, peço que não me acordem deste lindo pesadelo! Agarro-me às palavras com medo que as tirem. O vento circula à minha volta e arrefece-me a face, as folhas voam em circulos, assim como as frases que me aconchegavam, deixam de ser minhas e puxam-nas. As vozes longinquas falam mais de perto, aproximam-se de mim, e falam. Dizem lindas coisas. Contam belas intrigas, circundam e apertam-me. Brasas que se reacendem e me acertam no peito, rasgando-me a carne. As belas conversas rodopiam e elevam-me. Apontam-me e dizem que fui eu. Contam que sou eu. Falam que fiz eu. e Subo, subo mais, chegando aos céus. Condenado e julgado, e o corpo atirado ao circo é brevemente devorado, rapidamente desaparecido. E dizem que fui eu. E Apontam-me dividem os despojos, todos juntos à fogueira. Cantam e dançam.

18 fevereiro 2008

transcendencias

na noite, saiam as estrelas ao nosso encontro, a fuga impossível, uma velocidade que nos transcende! fugiamos pelas ruas escuras do bairro escuro, iluminado pelos archotes apagados, saíamos de casa com os cães cheios de raiva, a dentada poderosa num manto de alguém embriagado, gritavamos com medo, sufocavamos no nosso vómito! A maré puxava para o levante, a mente enviava-nos avante! sem sentido e com direcção perdemo-nos no deserto, levados pelo berbére que nos falava que era perto. a saida estava longe, a entrada era aqui. onde? não sabemos. a areia entrava pelos poros e afogava todos os esforços. Navegavamos em esforço e o troço sem rota, sempre em frente, adiante...

blah


Virgin mary was tired
So tired Tired of listening to gossip
Gossip and complaints
They came from next door
And a bewildered stream of chatter
From all sorts ofAll sorts of
Untidy whores
Came from next door
Came from next door
But some men are chosen from the rest
But their disappointment runs with their guests
Never would be invited to the funeral rosegarden
But their choice dont seem to matter
They got swollen breasts and lips that putter
And their choice of matter and their scream of chatter
Is just a little parasitic scream of whores
Screaming whores
In the rosegarden funeral of sores
Virgin mary was tired
So tired of listening to gossip
Gossip and complaints
In the

In the Rosegarden
Rosegarden funeral of sores


Rosegarden Funeral of Sores - Bauhaus "Press the eject and give me the tape"82

livre


livre! Livre para descer no buraco como alice
descer no país das maravilhas! tocar na sarjeta e subir alto
cavalgar nas estepes num cavalo turco e voar!
Aspirar o pó das pampas, ter como heroína uma das amazonas, carregar-me de tetra-hidro-canabinol e beber o a poção mágica que me inspira!
Livre para carregar a sela com Ketamina e partir!
Livre para em cada selo lamber uma carta!
Livre para selar o destino com lsd como remetente e rir!
Partir e dividir-me em Md
chegar e não parar de consumir-me em etanol
o cérebro em colapso o corpo em explosão sem nunca o sentir!
livre!

palavras

do alto do zigurate todos observam
do alto da torre todos vêem
de cima do observatório comentam
mas alguém interpreta?
será que ninguém descodifica?
haverá outrém que descomplica?
a linguagem um virus que se espalha
a mensagem uma cadeia que encalha
Todos a leem
mas quem é capaz de a sentir?
todos a vêem
será alguém capaz de a resumir?
Será que um dia descerão da torre de babel?
será que algum dia vão crer?
haverá alguém capaz de conseguir?
pelo menos de querer?...

Não ser


Fecho-me e impeço a luz de chegar, esqueço as cores e as imagens que me trespassam a memória apagando de vez todos os instantes e momentos vividos. Tapo os tímpanos e deixo de ouvir, rasgo as notas, os sons, as vozes e os tons constantes da recordação. Ponho as mãos sobre o corpo, inclino-me para trás, deixo de sentir, sentimentos queimados, emoções trituradas, sensações esmagadas. Pára a corrente sanguínea. A respiração inconstante, sem oxigénio. Aguardo a escuridão cardíaca. Deixo de ser. Os pensamentos não surgem, as vontades dissipam-se. Uma vertigem súbita, uma tontura tremenda, atiro-me. Fui.

Ser #2

Nunca saber com estar com alguém. Fabricação de gestos, invenção de estado, actuar por reacções pré-concebidas. Não saber amar ninguém. Realizar desejos, conviver de alma ausente, sentir de corpo inexistente. Socializar com uma máscara de acordo a ocasião, um sorriso trazido e ensaiado, uma catálogo de emoções idealizadas.
Um catavento, um papagaio, um girassol. Estar apenas para ser. Ser somente o que se exige. Passar subrepticiamente, correr o tempo, esperar por nada. Acordar para viver a fábula criada anteriormente, viver a encenação do egoísmo reeinterpretado. Sem objectivos nem tão-pouco almejar nada.Alimentarmo-nos porque surge a fome, agasalharmo-nos para tirar o frio, darmo-nos quando vem o cio. Nada saber, a mente vazia, qual insecto a bater na vidraça, não há mais caminho, secar e definhar no parapeito.

Ser


Como conviver com alguém? As aproximações sempre falsas, meias-verdades, máscaras e sorrisos encobertos com sarcasmo. Nunca ter uma verdadeira relação, antes actuações fora de palco, ensaios em branco, encarnar personagens. Nunca viver realmente, antes seguir o guião, funcionar por imitação, proceeri como a maioria. Nunca sentir realmente, apenas estar presente, reagir de modo pré-condicionado. Não amar realmente, aproximar-me e observar que estimulos são pedidos, funcionar como uma máquina reveladora de desejos.
No fundo uma mal-formação, um defeito de fabrico. Um catavento, um girassol, um papagaio.
Ter principalmente as funções vitais, ter fome e ir à procura de alimento, ter o cio e seguir o chamamento, ter frio e procurar abrigo. Não ter alma e coração artificial. Viver à espera de adormecer. Acordar para poder olhar algo diferente, que nunca vem, nem nunca aparecerá, não estar aqui, fugir, não pertencer, conseguir contornar os obstáculos, as questões, as dúvidas, viver superficialmente, esquivar, contornar, e chegar ao fim sem nada, apenas a mente vazia, sem problemas, nem ideias, nem objectivos. Desejar não ser, e à passagem do tempo, não estar a desejar. Seguir pela linha subrepticiamente, reparam mas não nos vêem, ouvem mas não escutam, e assim passar...A morte à espreita. Não levar nada nem ninguém atrás. Quem fomos? Não interessa...

15 fevereiro 2008

noite branca

Saímos entre a noite
de encontro às estrelas pelo caminho.
Bebemos para além da exaustão
nem é hoje que chego ao ninho
e cansamo-nos do turbilhão
falamos com alguém
sentimos os deja vu e os clichés
alteramos a sensação
dá uma dormência nos pés
vivemos a emoção
gastamo-nos como se fosse a perdição
uma ansia de ir à frente
estoiramos com a nação
com um impeto tremendo
criamos uma canção
estoiramos o acontecimento
parimos um cão
estagna-se a mente
andas pelo barril
a cabeça dormente
mas estás baril
rebenta a bolha
continuas na moda
tiras a máscara
já ninguém olha
sei que o mundo anda à volta do sol mas não faço ideia para onde vai...
conversa que não interessa a ninguém
e este atrofio também

14 fevereiro 2008

para que não restem dúvidas.

"Não existe diferença significativa entre os vocábulos “estória” e “história”, que partilham a mesma etimologia (do grego ‘historía’).
Contudo, “estória” é a grafia antiga de “história” que, entretanto, caiu em desuso no português falado em Portugal.
Por conseguinte, este vocábulo não aparece registado nos mais recentes dicionários de língua portuguesa editados em português de Portugal.
Porém, ainda o podemos encontrar no Michaelis. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, editado em São Paulo (em 2002), com um significado diferente de “história”.
Estória (segundo Michaelis):
1) Narrativa de lendas, contos tradicionais de ficção.
*estória em quadradinhos = série de desenhos, em uma série de quadros, que representam uma estória, com legendas ou sem elas.
**estória da carochinha = conto da carochinha
*** estória do arco da velha = coisas inverosímeis, inacreditáveis.
**** estória para boi dormir = conversa enfadonha, com intuito de enganar.
***** deixar-se de estórias = evitar rodeios, indo logo ao ponto principal.
No que se refere aos dicionários mais recentes editados em Portugal, todas as acepções supra-referidas são parte integrante da entrada “história”.
História
1) Narração ordenada, escrita dos acontecimentos e actividades humanas ocorridas no passado.
2) Ramo da ciência que se ocupa de registar cronologicamente, apreciar e explicar os factos do passado da humanidade em geral, e das diversas nações, países e localidades em particular.
3) O futuro, considerado como juiz das acções humanas (ex: A história o julgará.)
4) Biografia de uma personagem célebre.
5) Exposição de factos, sucessos e particularidades relativas a determinado objecto digno de atenção pública.
6) Narração de uma aventura particular. "

In prontuário ortográfico da língua portuguesa

13 fevereiro 2008

Aborigenes

Foi comovente ver o pedido de desculpas de John Howard. O facto das desculpas terem sido aceites não invalida os actos anteriores, porém é um passo e uma atitude honrada e corajosa. Tomara que os paises colonizadores, fizessem o mesmo; Os Espanhois com os Maias, Incas e Astecas, Nós com os africanos e os ingleses e americanos com o Mundo. Infelizmente em nome da guerra ao terror e em nome da liberdade continuam a invadir paises como fossem os grandes portadores do estandarte da razão e da paz...

12 fevereiro 2008

Atmosphere - Joy Division( só mais esta juro!)


Walk in silence,
Dont walk away, in silence.
See the danger,Always danger,
Endless talking,Life rebuilding,
Dont walk away.
Walk in silence,Dont turn away, in silence.
Your confusion,
My illusion,
Worn like a mask of self-hate,
Confronts and then dies.
Dont walk away.
People like you find it easy,
Naked to see,
Walking on air.
Hunting by the rivers,Through the streets,Every corner abandoned too soon,
Set down with due care.
Dont walk away in silence,Dont walk away.

o video está em www.myspace.com/joaocruz30 assim como anterior. Bem-vindos!

O superman - Laurie Anderson (sempre actual)


O Superman. O judge.
O Mom and Dad.
Mom and Dad.
O Superman. O judge.
O Mom and Dad. Mom and Dad.
Hi. I'm not home right now. But if you want to leave a message, just start talking at the sound of the tone.
Hello? This is your Mother. Are you there? Are you coming home?
Hello? Is anybody home?
Well, you don't know me,but I know you.And I've got a message to give to you.
Here come the planes.
So you better get ready. Ready to go. You can come as you are, but pay as you go.
Pay as you go.
And I said: OK. Who is this really?

And the voice said:
This is the hand, the hand that takes.
This is the hand, the hand that takes.
This is the hand, the hand that takes.
Here come the planes.
They're American planes. Made in America.Smoking or non-smoking?
And the voice said:
Neither snow nor rain nor gloom of night shall stay these couriers from the swift completion of their appointed rounds.
'Cause when love is gone, there's always justice.

And when justive is gone, there's always force.
And when force is gone, there's always Mom.
Hi Mom!
So hold me, Mom, in your long arms.

So hold me,Mom, in your long arms.
In your automatic arms.
Your electronic arms.In your arms.
So hold me, Mom, in your long arms.
Your petrochemical arms.
Your military arms.
In your electronic arms.


Este post tem fins educacionais e medicinais

www.youtube.com/watch?v=CvyIvBW3L9k

Mensagem


Abrigo, dd/mm/aa desconhecido

Espero que por aí esteja tudo bem, nós cá vamos tentando sobreviver.
o tempo tem estado cinzento, as particulas e a radiação continuam a afectar a atmosfera e o solo.
Ontem saímos para tentar arranjar alguns viveres e água, pois já não há qualquer tipo de alimentação. A saída à noite traz muitos perigos e a visão é quase nula.A tempestade continuava e tinhamos de nos deslocar rápido. Não levávamos protecção para o sol e dos sete só dois tinham armas. Mesmo assim não correu mal, conseguímos voltar quatro e recuperamos um corpo. As ruas continuam cheias de escombros e não é possivel a deslocação por veículo de rodados ou lococomoção por tracção automotora. Além disso escasseia o combustivel. Tentamos deixar o minimo de vestigios da nossa presença. Estamos a usar gordura orgânica extraida dos corpos. Não avistamos ninguém, porém conseguiram matar dois dos nossos, quanto ao terceiro foi vitima da radiação, expôs-se demasiado tempo. O cansaço já é demasiado e as forças já são poucas. Temos de ser mais rápidos. Quanto ao que conseguimos, só meia duzia de ratos e dois cães, nem chegarão para esta noite. Resta-nos esperar que a cinza desapareça e que consigamos fabricar fatos mais eficazes. Estamos a tentar fabricar armas de longo alcance, pois não sei como eles continuam a apanhar-nos e nós a cair que nem tordos nas suas armadilhas. É dificil ver lá fora, e o barulho ensurdecedor impede-nos a comunicação. Temos de nos manter unidos e presos por cordas uns aos outros. Em caso de fuga desprendemo-nos e é cada um por si. Hoje tive sorte. Já se assam os animais e o ultimo corpo humano que encontramos, os outros já estavam em decomposição, sempre servem para combustível. Tenho de ir agora, espero que nesse paralelo as coisas estejam melhores. Aqui as condições estão longe de melhorarem, a água é reciclada da urina e do suor, já não temos iluminação, só a que vem das fogueiras para aquecimento, cada vez somos menos, as doenças atacam em cada momento e instante que passa, sem olhar a quem, já não há medicação, estamos reduzidos a 10%, tanto melhor, sempre há mais alimento. Ainda não descobriram o nosso esconderijo quando assim for seremos dizimados instantaneamente. Desejo-te melhor sorte meu amigo. Quando puder volto-te a escrever.

Saúde e Sorte meu Irmão! Abriga-te e não olhes a meios!

11 fevereiro 2008

Estética ou tactica?

Acho caricata a indumentária das gentes. A formalidade mistura-se com os gostos. O status com o politicamente correcto. terá a ver com o aspecto visual pessoal ou uma imposição laboral? Será a função exercida avaliada pelos adereços? O fulano do fato será mais apto que sicrano em ganga e t-shirt?dar-se-á mais valor ao colarinho branco que a camisola preta desenhada com Miró? o intelecto medido pelo sapato de crocodilo vs ténis made in China? A educação pela gravata em oposição ao piercing? Talvez seja uma forma de catalogar. O ser humano sempre gostou de criar nichos, de classificar, inserir em grupos. Vivemos num unico mundo mas há quem viva num à parte, especial, aquele do preconceito ou conceito das vestimentas e vivências mediáticas. Muito Fashion decerto. Até será bom haver gente que não vive assim, são os outros, aqueles que vivem para além dos juizos e senso comum. Gente estranha essa. Quase primeva, vive de acordo o funcional, sem preocupações visuais extremas, talvez nem vejam o Dr. Phil, nem a Oprah ou o sexo e a cidade. Séries de alto valor socio-cultural e inseridas perfeitamente na Europa do séc. XXI, correspondem aos nossos principios morais e éticos. Enfim...É só gente Bizarra! Mas também o mundo já é um Cliché e nós( os outros) um Dejá vu....

Tempo livre


Sem tempo pra chegar, nem partir.
Dois dias para mim ou para ti?
Mais um fim de semana perdido
mentes a ti e esqueçes os amigos, sem surpresa.
Sem esperança lutas com tudo o que passa.
A chuva não te limpa
o Sol não te aquece
Desces pela sarjeta, esqueces o sorriso
e largas a paciência,
Trazes a raiva e a angústia
espalhadas pela casa e rebolas-te nelas
sais.
Olhas-te ao espelho e nem tens certeza de quem vês

Na baixa

Chico vivia à margem, quase fora-da-lei. Vivia de biscates aqui e ali. Pedia trocos no Chiado, descia para a mouraria para se orientar. Subia para as escadarias sombrias onde viajava por minutos. O dinheiro foi-se mais uma vez, entrou pela mente e dissipou-se. Altura de o arranjar novamente. Cambaleava pela rua, seguia os carris na rua calçada e humida da madrugada. Passa pelo tasco do Zé, já aberto, pede-lhe os restos da noite anterior, come rápido e sofregamente num vão de escada, os dedos negros e agora gordurosos da comida gasta e fora de prazo. Retoma o caminho com a visão turva e a cabeça tolhida, o processo não pode parar. É cedo para a Baixa, vazia e fria, dirige-se ao rio, os 1ºs barcos trazem um mar de gente, que inunda a cidade, o dia de trabalho recomeça. Encosta-se nas arcadas do Terreiro. Tem de arriscar, segue a sua vítima, não se apercebe que tem alguém no seu encalce, vira a esquina em direcção à paragem. É altura! Corre e passa-lhe ao lado, puxa-lhe a mala, a vítima caí e é arrastada um metro, a mão não se abre, ameaça-a, rapidamente larga-a. Põe-se em fuga que nem louco, não ouve as sirenes que se aproximam, entra num prédio devoluto. sobe os degraus escuros, aqui não será visto, mas é melhor não arriscar. Sobe mais um andar e mais outro! Chega ao fim. Ultimo andar...entra pela porta meio partida. senta-se na sala poeirenta. Abre a mala e seu conteúdo. 5 euros! foda-se tudo isto por 5 euros! Vão para o bolso das calças. fecha os olhos... O barulho cá em baixo acorda-o...luzes, e vozes, rádios a sibilarem...os degraus ultrapassados...Tem de fugir, está preso ali numa casa pombalina decrépita, não pode ser apanhado! Sai luz da Janela, abre as portadas, há andaímes, que sorte! Gritam para ele, mandam-no parar! Desce rápido , a madeira cede, a queda é alta e não se segura, aterra no chão...Nada sente, nada ouve, a visão vermelha, a mente branca, a vida negra...Lentamente vê tudo passar-lhe à frente. Não! E a quarta??? Não pode ser assim, não por uma Milena!!...

claramente

um dia claro.Brilha o sol, ofusca a Terra, de luzes acesas em pontos luminosos e traços iluminados com gente brilhante de reflexos ilimitados numa luz eterna e tremenda claridade. Porque nem tudo é negro...

08 fevereiro 2008

"Um ponto sem nó"

Na folha um ponto. Apenas. Somente um ponto negro na folha branca. Uníco, pequeno, estático. Fechado por aquele plano infinito num horizonte delimitado pela dimensões do A4. SEm contacto com o exterior, sem saber da 3ª dimensão...Movimenta-se até ao vértice, percorre-o como se na corda bamba, olha em frente, nem um ponto de fuga. Nada se afigura, permanece eterno, estica-se, expande-se em linha! Cresce! Os horizontes encurtam-se, cria derivadas, paralelas, diverte-se e aumenta! Cresce novamente, a linha fecha-se ele próprio é infinito numa circunferência! Roda pela linha da folha, desliza pelo plano da mesma, já não é o mesmo! Não está em si de contente, e cresce novamente, incrível, em altura, trepassa a folha e a linha da circunferencia transmuta-se em infinitos planos fechando a superfície, é agora uma esfera! só um ponto toca no plano original! Não pode de tanto contentamento, tenta elevar-se..saltita..voa...sai da folha! E perde-se no espaço 3D...

06 fevereiro 2008

EH Carnaval!

Carnaval já foi o Natal também.
Os foliões pra casa e os 3 reis pra Belém.
O bilhete comprado numa viagem com volta.
Tanta reviravolta no meio da palavra solta
Gente mascarada uma verdadeira palhaçada
um Frenesim de canções
Um decibel a mais num chinfrim
Os auscultadores em mono
os inspectores a cores.
Intervalos optimos
Espaços com ritmos
dá-se azo a soneiras
e moscateis em turbilhões
assim como mexilhões
leite sem creme
Vinho com verde
Noites brancas
e gatas pardas.
Assim sendo
vamos vendo
Que Venha a Páscoa
que vou aparecendo

um post daqueles pseudo-intelectuais

Era um dia de Inverno estava pensativo à mesa que se espraiava pela brancura de lisboa e debaixo do timido mas quente sol. Perguntava-me o que as pessoas gostam de ler nos blogs. O motivo que leva a escrêve-los é varido, vai desde a exposição pública circunstancial, a um mostruário dos nossos sentimentos e ideais, à exposição de emoções e ideologias ou até a uma autoscopia e/ou confessionário aí de cariz mais pessoal e intimista. Aqui há histórias, estorinhas, contos, desabafos, devaneios, pensamentos sem sentido, construções e desconstruções dramáticas, tramas, ardis, traumas, doenças, psicoses, etc e tal. De repente,e no meio dum bafo dum cigarro, lembrei-me também de questionar sobre o que é que as pessoas gostam de ler nos mesmos blogs. Será isto uma extensão da nossa mente? Expor-nos para lá do alcance das nossas próprias verbalizações orais( passo a redundância)? Chegarmos mais longe? Dispôr a nossa informação que nos vai de sinapse em sinapse, em catálogos pesquisáveis por qualquer um, longe, para lá do nosso horizonte? Para lá do nosso alcance? Esticar o nosso horizonte? Tornar infinita a comunicação? Sem fronteiras nem barreiras físicas ou psiquicas? Sermos incomensuravelmente maiores e eternos? Hum?...Talvez sejam dúvidas existênciais, ou mesmo dejá vu...Quem sabe senão um cliché...Mas também, a partir do momento em que nascemos e crescemos e imaginamos já o somos. Somos reeintrpretações, reinvenções, fazemos por imitação, por experimentação e erro como um rato em laboratório. Será isto redutor? talvez seja. Ou então sejam apenas expressões e impressões literárias de alguém, de mais um. Se melhor? não! se diferente? também não! Se único? certamente!
A escrita seja ela cuneiforme, linear b, mandarim, árabe, latina, ou um qualquer derivado, está gasta mas é rica, são 5 mil anos dela. Agora com esta facilidade de passar os caractéres em números binários e enviá-los para qualquer lado, inclusivé para o espaço como no caso do Voyager que já saiu daqui em 1976, qualquer um é candidato a divulgador e contador de crónicas ou apenas a farol, monstrando que está presente, que existe, que é um ente pensante. E é bonito no fundo, salutar até, aprende-se lições, trocam-se ideias, ou pura e simplesmente se é. E se sente. Despeja-se para aqui o que vai para ali. Pois é. Bem-vindos ao meu Mundo. É pequeno, mas cabe toda a gente.
Entretanto, aquele dia de inverno, e aquela mesa...era só cenário...Um adereço...Eu gostei!

03 fevereiro 2008

Mais um dia - director´s cut


Escorria dos tapumes de contraplacado matéria disforme sem forma mas com conteúdo estranho. O solo empestado de térmites acéfalas que sonegavam comunicação distorcida e inaudível por sirenes de entes escondidos por detrás das portas da percepção. Um corpo eleva-se sem peso nem massa nem afectado pela gravidade. Sobe para lá da troposfera. Particulas solares faziam-no brilhar e entrar em incandescência. Empurram-no para lá da Nuvem de Oort. Circulava numa secante ao sistema solar e num angulo recto ao disco galactico. Uma aceleração assustadora, entre as particulas ionizantes e o silêncio surdo do calor a 3º graus kelvin.
Sem poder escapar, deixa-se ir...perde-se. A relatividade transforma-o, a energia expande-se através da luz, e a matéria escasseia. Sem surpresa é chamado e impulsionado ao centro gravitacional dum buraco negro. Nesse momento , toma consciência, abre os olhos e é consumido e transformado num fio ininterrupto de anti-matéria. Vê-se, isola-se e desfaz-se em fotões.
(continua...)

Mais um dia

corria das paredes a forma distorcida dum devaneio. o chão povoado de insectos que transmitiam as informações entrecortadas por assobios agonizantes de seres do outro lado da porta. O corpo eleva-se ao tecto não lhe tocando, como se enchido de hélio e afectado pela gravidade. Desprendido subiu à ionosfera. Particulas solares faziam-no brilhar e entrar em incandescência. Orbitava com uma tangente ao eixo terrestre, a velocidade alucinante, entre o azul e o negro celeste, sem chances de optar. as leis regiam-no. De repente..De repente chamavam-no. Era hora. acordou, levantou-se e tomou banho...Morreu.

02 fevereiro 2008

memórias difusas ou recordações confusas

Dias há em que o pensamento se tolhe e a razão se encolhe. Quer isto dizer que se sobrepõe à emoção? Nem por isso. Apenas instintos etilizados e comportamentos desonectados, um torpor no corpo, e acções derivadas de reacções disparatadas, visões que entram na mente porém sem qualquer fito depois de decifradas. São causas que provocam efeitos inesperados e até nunca esperados. São mensagens atiradas para o éter que ficam a pairar, causado a dúvida , temores desprovidos de sentido. Levam-nos a desviar da nossa direcção primordial, os princípios éticos e morais são olvidados, mesclados e alterados por ambientes que ultrapassam o nosso próprio nicho ecológico e até os parametros que nos fazem viver em sociedade.
Discurso complexo? Quiçá... Os momentos e instantes em que se envereda por certas situações causam depois a vergonha, o embaraço, e até disfunção mental. Desculpas? Não, apenas caminhos trilhados muitas vezes. Hábitos que demoram a sair, mesmo que se feche a porta e caminhemos juntos pela estrada. Como tudo na vida e tal como o cântaro que tantas vezes vai à fonte que se parte. É preciso uma cisão, uma fusão da nossa compreensão do mundo, não negar os nosso instintos nem aquilo que nos torna humanos, porém ter os pés assentes na terra embora a cabeça esteja na lua. Bato no peito, em penitência. Trilharei a estrada, seguro de mim, esperando que vejam as pegadas e que as sigam também. Note-se que sigo na peugada de alguém, sempre de atalaia aos sinais. Um mea culpa se por vezes não os vejo. Adapto-me e evoluo. Espero que haja reacção positiva, porque falhas todos as temos, e remorsos também, vejam o farol e sigam-no que também o farei.
Tanto no amor como na amizade a atenção é necessária, apuro os niveís de eficácia e eficiência, bem que tento! Haja fé e esperança, pois estou aqui, pé no chão, cabeça no ar, mas de mão estendida.

2008/02/0? 4:39 Am

é bom estarmos desafogados
e sentir a brisa noutros rios que não os tejos e os sados
viajarmos sobre foguetes prateados
andar em cima e até pelos lados
ver mercedes e ostros carros
viajar desorientados
porém sempre ligados
não haver noites que estejamos apeados
sentir a brisa mesmo atrofiados
questionarmos se estaremos mesmo marados
haver alturas que estamos contrariados
saber sempre e preservar esses novos achados

in João Cruz, Crónicas dos desamparados, 2008

31 janeiro 2008

http://www.myspace.com/100pessoas

Eu vi já faz tempo que nada havia para se sentir , tanto ao longe como ao perto e assim num dia daqueles negros mas claros com a água nos canos. "Escura? sim mas pouco" dizia alguém. não valia a pena a interacção dado que a fuligem do tempo desbotava as estações. aproximava-me da distancia à mesma velocidade que me fugia o tempo. Agarrei-me ao corrimão, corri pelo chão, voei pelo tecto! ninguém crê, mas sem ninguém a ver juntei uma pequena multidão composta de betão.

Citação

Há sempre uma primeira vez para tudo. Apesar de já ter sido acusado de plágio nunca o fiz. Contudo aqui vai uma transcrição que me parece pertinente para a "altura sentimental vivida":

" A obstinação amorosa de Viola chocava com a teimosia de Cosimo, se bem que por vezes se desencontrassem. Meu irmão fugia à languidez, às molezas, as pequenas perversidades refinadas: nada lhe agradava para além do que fosse o amor natural.(...) Cosimo, amante insaciável, era simultaneamente um estoíco, um asceta, um puritano. Sempre em busca de felicidade amorosa, continuava todavia sendo inimigo da vontade. Chegava a desconfiar dos beijos, das carícias, dos afagos verbais, de todas as coisas que ofuscassem ou pretendessem substituir-se às saudações da natureza. Foi Viola quem lhe descobriu a exuberância; e com Viola nunca Cosimo conheceu a insatisfação após o amor, essa insatisfação que tantos teólogos predicavam, assim chegou mesmo a escrever sobre este assunto uma carta filosófica a Rousseau. Este, certamente perturbado, não lhe respondeu.
Mas Viola era também uma mulher requintada, caprichosa, viciada, actólica de alma e coração. O amor de Cosimo satisfazia-lhe os sentidos, mas deixava-lhe insatisfeita a fantasia. Por isso as suas súbitas alterações de temperamento e sombrios ressentimentos. mas tudo isto bem pouco durava, tão variada era a vida que levavam e o mundo que os rodeava.
Cansados, procuravam refugio escondidos sobre as árvores de copa mais frondosa: ramarias que lhes envolviamos corpos como folha que os embrulhasse, pavilhões suspensos, como panejamentos que ondeavam ao vento, ou colchões de penas. Neste pequenos pormenores se explicava o génio de Viola: onde quer que se encontrasse, a marquesa tinha o dom de criar em torno de si abastança, luxo e uma complicada comodidade; complicada à vista mas que ela obtinha como miraculosa facilidade, porque tinha o dom de tornar realidade todas as coisas que pretendia, ainda que a todo o custo.(...) Naquela altura iam-se descobrindo um ao outro, contando mutuamente as suas vidas, interrogando-se.
- E sentias-te só?
- Faltavas-me tu.
- Mas pergunto-me se te sentias só, não em relação a mim, mas ao resto do mundo?
- Não. Porquê? Tinha sempre qualquer coisa a fazer com os outros: colhi fruta, podei, estudei filisofia com o abade, bati-me com piratas. Não acontece o Mesmo na vida de toda a gente?
- Não. Só tu és assim, e por isso te amo.

Mas o barão ainda não tinha compreendido bem o que Viola aceitava nele e aquilo que não aceitava. Por vezes, bastava um pequeno nada, uma palavra ou um tom de voz dele para fazer nascer irritação na marquesa.
Cosimo, por exemplo, dizia:

- Com o João dos Bosques, li romances, muitos romances; com o cavaleiro-advogado estabeleci projectos hidráulicos....
- E comigo?
- Contigo amo. Como o podar, como a fruta...
Viola ficava silenciosa, imóvel. DE repente, Cosimo reoprava que se lhe tinha desencadeado a irritação: os olhos tinham-se-lhe tornado subitamente de gelo.

- Mas porquê? O que foi Viola? Que tens? O que foi que disse?
Ela estava muito dsitante, dir-se.-ia que nada vendo nem ouvindo, cem milhas distante dele, com o rosto impenetrável como se fosse talhado de mármore.
- Mas não, Viola, Por favor...Mas que foi? Porquê? Viola escuta...
Viola erguia-se, ágil, sem necessidade de ajuda, e começava a descer da árvore.

Cosimo ainda não compreendera aquilo que tivesse sido o seu erro, ainda não tivera tempo para pensar e tentar descobri-lo. E talvez até de facto preferisse não pensar nele, não compreender, a fim de melhor poder proclamar a sua inocência:
- Mas não, não compreendeste com certeza o que eu queria dizer...Viola, escuta-me...
Seguia-a até aos ramos mais baixos.
- Viola, não te vás embora assim...não...Viola...
Então ela falava, mas dirigindo-se ao cavalo, e não a ele.
Montava, dizia breves palavras, e partia.(...) A certo ponto, imprevisivelmente também, Viola, assim como fora tomada por uma súbita irritação, assim também se acalmava. De todas a loucuras de Cosimo, que pareciam nem seuqer a ter perturbado um pouco, uma delas, uma qualquer, era suficiente para a encher repentinamente de piedade e amor.
- Não, Cosimo, querido, espera por mim! - Saçtava da sela e precipitava-se a trepar um tronco. Do lato, os braços ja estendidos de Cosimo ajudavam-na a elevar-se.
Retomava o amor com fúria semelhente à que havia desencadeado a discussão. Na verdade, era tudo uma e a mesma coisa, mas Cosimo não compreendia nada.
- Porque me fazes sofrer assim?
- Porque te amo?

Desta feita, era ele quem se irritava:
- Não, não me amas, não pode ser verdade! Quem ama deseja a felicidade e repele a dor.

- Quem ama deseja apenas o amor, ainda que para tal seja necessário experimentar a dor.
- Então fazes-me sofrer de propósito?
- Sim, para ter a certeza que me amas.
A filosofia do barão recusava-se porém a ir mais longe.
- A dor é um estado de alma negativo.
- O amor é tudo.

- A dor deve ser combatida.
- ao amor nada se recusa.
- Certas coisas nunca as admitirei.
- Tens de admitir, inevitavelmente, uma vez que amas e que sofres.

Assim como os desesperos, clamorosos, eram também em Cosimo as explosões de alegria incontrolávél. Desde então, a sua felicidade atingia um ponto em que ele sentia necessidade de se afastar da amante e correr, saltando, gritando e proclamando as maravilhas da sua dama."

in O Barão Trepador, Italo Calvino

Titulo Original: Il Barone Rampante
Tradução: José Manuel falante
Tradução cedida por Editorial Teorema
Direitos reservados
ISBN:972-611-626-0
Dep. Legal: B.19.657-2000

Abril/Controljornal/Edipresse







29 janeiro 2008

Tremenda alegria

O Salário subiu 2,1 % e a vida corre bem! O pão subiu 10% mas também não gosto de carcaça...O leite aumentou mas faz-me azia...A carne de vaca está mais cara, mas também tenho o colesterol alto... Os bilhetes de autocarros estão com 5 centímos a mais, felizmente ando de comboio e o passe social aumentou 2 Euros e tal, de qualquer forma tenho de deixar de fumar. Ao cinema também não preciso de ir, dão tantas novelas na TV, além do mais vejo filmes todos os dias no metro, mini-séries no comboio e dramas na TVI. Saidas à noite são dispensáveis, uma pessoa diverte-se no emprego...Viajar para quê? A imaginação leva-me mais longe!
Enfim! Que orgulho eu tenho em poder estar vivo, pois um funeral está pela hora da morte!

11 janeiro 2008

Fábula

Os animais reuniram-se na floresta mais uma vez. As vozes cruzavam-se com os grunhidos, roncos, zumbidos, mugidos e rugidos. Uma cacofonia generalizada. O mocho do alto dum carvalho, chamou a atenção, todos se calaram olhando para cima: " Meus amigos calma! Peço-vos calma, não vejo razão para tanto alarido! Já vivemos situações piores que esta! Lembrem-se da seca aquando da migração das aves, e das cheias na altura das penultimas folhas caídas das árvores! É certo que nunca o ursos tinha sido roubados em sua casa, nem os porquinhos tinham perdido as suas casas, nem havia ninguém a gritar lobo às ovelhas! Amigos temos de nos juntar e fazer valer os nossos direitos! Esta situação não pode continuar! Isto é a exploração do nosso habitat, é a utilização dos nossos recursos, é o uso e abuso da nossa imagem, temos de dizer não à continuação desta farsa! Digam não à utilização dos animais nos seus dramas! Condenem o nosso aparecimento nas fábulas! Está na hora do homem contar às criancinhas histórias sem carochinhas, lobos maus, porquinhos, e etc e tal! Viajemos companheiros, partamos para longe, afastemo-nos dos humanos! Os pinóquios do mundo que ocupem os nossos lugares, os soldadinhos de chumbo, as brancas de neve, e outros que tais!" Terminado este diálogo todos os animais aplaudiram, uma tremenda ovação se ouviu pela floresta, barulhos e ruídos audíveis até nas cidades dos homens. A partir daí nunca mais se ouviu falar neles em contos, fábulas, ou histórias de embalar. Tinham desaparecido do imaginário do homem, viviam livres para serem o que eram: Animais! Séculos mais tarde, o Homem vivia triste e só, nas suas imensas cidades cheias de cinzento e negra poeira. E de vez em quando, precisava de sonhar, e ai recordava-se de ter havido na sua mente, uns seres selvagens, outros amistosos,alguns coloridos e outros amados. Traziam a côr e a alegria às suas vidas pardacentas, algo precisava de mudar. Fizeram-se abaixo-assinados, manifestações, greves, revoluções e minutos de silêncio! Nada parecia resultar, era excusado...Houve um dia em que o sol nascia, e começou a ouvir-se um chilreiar nos ramos e nos beirais, barulhos estranhos em cada esquina, sons que se sobrepunham aos ruídos citadinos que se esbatiam, os carros desapareciam, as casas desmoronavam-se, as raizes das àrvores cresciam à medida que os troncos subiam aos céus. Pequenos animais saiam dos seus esconderijos, os grandes pastavam nas ruas e nas praças. Nas estradas a erva aumentava, sumia-se o alcatrão sob o cheiro da fotossintese, até ao dia em que o próprio homem se extinguiu, a cidade deu lugar à selva e os animais reinariam para sempre...

09 janeiro 2008

estorinha

um conto do rapaz que estava no seu pequeno barco no mar,
ia pescar no meio do verde do mar,
sem uma onda
uma pequena brisa humida que tirava e afastava dele os poderosos raios de sol que iluminavam o mar tornando-o esmeralda,
um silêncio só cortado às vezes pelo rasgar dos golfinhos que saltavam por cima do seu barquinho e o vinham cumprimentar,
o rapaz esticava-se para lhes tocar na sua linda pele cinzenta e esguia,
mas eles fugiam e brincavam com ele rindo!
mais ao cima as gaivotas voavam esperando pela pescaria e aterrando no mastro olhando para ele, como que a perguntar: "Então?! E nós?! não comemos nada?!"
ao longe um grupo gigante de baleias azuis...
quase que se confundiam com o horizonte não fosse o seu forte exalar, expelindo a água do mar como se fossem pequenos vulcoes
fazendo arco-iris a contra-luz e criando elas proprias uma nova paisagem colorida
com sua majestosa passagem
o rapaz observava todo este espectaculo de cor, luz e som
como se fosse um pequeno teatrinho criado apenas para ele
a sua pescaria contudo...
o seu balde.... vazios
baloiçava com o barco na fraca ondulação
deixava-se encantar
deixava-se ir ao sabor da maré
vermelho como o sol
salgado como o mar
feliz como os golfinhos
aproximava-se da terra
já via sua mae que o esperava
pequenina que estava no extenso areal branco a contrastar com a grandeza de toda a paisagem
mas era sua mãe, logo quase que não cabia naquele universo tao grande que era seu amor,
aproximou-se
e atracou
a mae pergunta-lhe
ricardo? que pescaste tu?
algo grande?
ao que o rapaz responde:
enorme minha mãe!
cacei um sonho lindo!e que todo o meu mundo tinha todas as cores do universo
combinadas no verde do mar
no azul do ceu
no branco da espuma
no vermelho do sol
e que a falava com os peixes e que me encantavam
e cantavam pra mim e pra ti!
e até ao final da vida cantavam estorinhas de embalar!
the end

08 janeiro 2008

Dor

as mãos apertam e sufocam-me, o azul prende-se à face, a respiração falha-me. O coração pulsa mais rápido. Atam-me as mãos e por detrás as costas picam-me e rasgam-me a carne, o sangue jorra no chão, depois faz escorregar, perco as forças nos braços, caio mas não atinjo o chão, as cordas cortam-me os pulsos, gritos de impaciência nos ouvidos, pedidos de ajuda na mente, uivos de dor no corpo, pressinto a morte que não chega. Só um sono ao de leve se aproxima e mergulho-me nele assim como no meu proprio sangue, o silêncio, a distância, uma paz que não vêm, um desconforto que desperta, que me atormenta, é o fim, um último espasmo, a falta de entendimento, e enfim a paz.

18 dezembro 2007

Divagar ao longe

Um pranto de ausencia
um riso de presença
um torpor na alegria
um frémito na harmonia
um esgar de agonia
um sentir no advento da sintonia
um breve ferimento
um despertar em contentamento
um desejo de reencontro
numa realidade sem qualquer tormento
um sonho belo
e um permanente sentimento

17 dezembro 2007

Espirito Natalicio



Há gente que vê sempre o mundo de cor cinzenta. Para esses, os outros são: gentalha, que se deve rotular e que é inferior.Que veste mal, que não tem a sua moral, que nem se comporta em conformidade.
Para essa gente(os cinzentos) o mundo é igual, envolto em nevoeiro, sem ideais, sem propósito, e que cá caminham com o único objectivo de julgar o próximo com aquela atitude cristã, que mais se aproxima dum juízo final do que o amor ao próximo ou ao seu semelhante. Mostrar a essa gente que o mundo é extraordinário, colorido, e que ao virar de cada esquina é surpreendente, demonstra ser uma tarefa hercúlea. daí que as vezes é fácil baixar os braços ou desistir. Não digo isto para ninguém em particular, nem para a humanidade em geral, apenas o faço pois sinto necessidade de o expressar hoje. É uma segunda-feira como outra qualquer, e o frio entorpece-me os movimentos, mas felizmente não me tolhe a mente. Contudo ao passar pelas gentes na rua, apenas vejo figuras apóstatas, e rostos lívidos. Se tiver de os catalogar num sentimento, vejo indiferença e talvez desprezo pelo seu semelhante. Calha esta crónica ser no Natal, talvez ainda mais indicativo seja, ver a solidariedade a pairar, a distanciar-se, sentir o amor a fugir em extinção. O Natal é mais um dia, assim como é o dia do animal. E não é por isso que as gentes os acolhem em seus braços e os afagam...

16 dezembro 2007

divagações

passos trocados em Palavras incertas cheias de Jogos de azar numa Personalidade bifida com linguagem incompreensivel sem Maneiras de ser no estar. aponta-se pela sexta, não se acerta uma. parte-se a segunda, deitam-se fora pedaços de história. Uma semana vegetal um fim de semana anormal. Que se não tem? Que é esta força que falta? que Energia se dissipa? Que bruxedo atormenta? Porque demora a passagem? Porque se força a paisagem? Quem conta o segredo? quem diz o ditado? quem aponta o norte? quem espera pela hibernação? Quem nos adormece? Quem me conta uma história? e me encanta? e me recorda? lembras-me? Memorizaste?...

#5


Acaba a estrada;
o trilho dissipa-se
e um penhasco abruto em seu lugar.
A Nuvem negra cai
como uma asa tremenda dum corvo negro.
Assola a escuridão.
Cai o pano.
O silêncio
sem aplauso nem vida
Um deserto
uma morte.
Canta o cisne.

11 dezembro 2007

Um breve contentamento( Historinha infantil)

O esquilo guardava nozes para o Inverno. Tinha uma caverna só para ele. Totalmente equipada com tudo do bom e do melhor que se arranjava naquela floresta e nas restantes! Andava sempre atarefado com a organização das nozes por tamanho, forma e data de apanha, cumprindo as normas internacionais. à noite saia com os amigos e desciam à baixa, maravilhavam-se com uma árvore a que chamavam de natal. Faziam bicha para vê-la. Juntavam-se ali todos os animaizinhos da floresta. Havia animações, momentos de tertúlia, espaços dedicados à literatura e mesmo pequenos teatrinhos de marionetes. Quando o sol nascia de novo era altura de se passearem à beira-rio enquanto os raios de sol ainda aqueciam as suas peles. Os banhos eram uma grande diversão, quase todos participavam, fazendo até concursos de natação. Faziam piqueniques e assavam pequenas delicias encontradas na terra ou nos ramos ainda verdes. Uma alegria sentia-se naquele mato! Quase 5000 anos de vivência conjunta. DE equilibrio. De verdadeira ecologia! Houve um dia porém que o deserto invadiu aquele lugar, a solidão abraçou aquela gente, e a tristeza apoderou-se de todos. Foi o dia em que inventaram o centro comercial.

Bom ano novo!

Viva! Uma guerra acabou! O terrorismo já tem nome. O eixo do mal é reconhecido. As armas de destruição maciça nas mãos dos bons e as injustiças combatem-se no papel, em pequenos desenhos A4 nas mãos de um qualquer miudo da primária.Vendo bem as coisas, parece que nada se vislumbra.Analisando as equações da sociedade, não se encontra solução.Compondo métodos para realização de estruturas na civilização, há uma luz ao fundo do túnel. Se bem que tem tendência para apagar-se. De candeia em punho o homem saí das trevas, entra porém na escuridão. Não será bem de um negro profundo ,talvez mais algo baço, translucido e não transparente. Os Finais do Mundo passam e permaneçemos, tal como mais um final de ano. Sempre aquela esperança anunciada contudo futil e fatalmente morta à partida. Mas é de esperanças que vive o povo, como de pão para a boca. fazem-se Tratados e ninguém vê melhorias. Há Cimeiras e no entanto poucos avanços. Vai-se dando rebuçados e estendem a mão. O mundo esse continua a girar, indiferente a reuniões e decisões futeís. O sol nascerá na mesma, depois do último de nós perecer. Bom ano novo!

06 dezembro 2007

Visão distorcida ligeiramente utópica demasiadamente poética

eu hoje acordei e saí, vi a minha gata espreguiçar
olhei para o ar
vi céu de branco a azul passar
Entrei no comboio e vi
o rio correr para o mar
Vi o verde e o cinzento a correr
desci o tunel e num metro via escuridão aparecer
subi as escadas a correr
a luz a aparecer
e cá fora o sol a brilhar
voltei para casa
e antes de adormecer hei-de ainda ver as estrelas nascer
e a noite reaparecer.

05 dezembro 2007

Desconto de Natal - Versão 2.1


No monte e nas oliveiras encontravam-se rebanhos tresmalhados. Perguntavam-se sobre questões filosóficas e existêncialistas. Na planície e sobre o calor tórrido a vida não era fácil. Principalmente nos periodos de extrema seca. Manuel Jesus, pastor da zona e por opção, deambulava na recta que cruzava o horizonte. Tinha sempre questões a colocar aos seus animais, sobre o sentido da vida e o objectivo de se organizarem em grupo. Não sabia porque o faziam nem tão-pouco porque lhe obedeciam tão prontamente. Sentia a natureza a invadir-lhe o espaço. Apesar de muitas vezes o seu estado etilico tresandar para lá dos limites do seu mundo conhecido, era capaz de divagações extremamente complexas sobre o seu Universo, onde cada chaparro era um amigo, e um encosto, cada riacho um momento refrescante, onde se mergulhava e renovava os votos de um novo e bom dia.
A vida solitária e campestre que fazia provocava a inveja a todos os que ao longe o vislumbravam de relance ao passarem no Ip8. Mas ele, impávido e sereno, invejava apenas a tenra e verde erva que ruminavam seus animais. Trajado com um grande capote e de alforje à tira-colo sempre procurou ser mais. Chegar a um estado de evolução diferente, quiçá até primevo. Apesar de não balir esforçava-se por melhorar a comunicação com o nicho ecológico que se rodeava. Um dia despojou-se de tudo, largou o capote e restante indumentária, desfez-se do alforje, e deixou-se adormecer aquecido junto a lã fertil de seus companheiros. Na madrugada seguinte e com o raiar do sol, pastou. Passou dificuldades nas primeiras semana de digestão, com fortes cólicas e adaptação à celulose. complementava a alimentação com pequenas bagas e frustos silvestres. O discurso oral deixou de ter sentido, as frases e demais pensamentos racionais também. Limitava-se a seguir instintos primários, foi aceite pelos demais, deixando para trás a posição eréctil, e o polegar oponível. Esqueceu-se do seu eu, e da verbalização. Mantinha no grupo uma posiçao subserviente ao macho alfa do seu novo grupo. Cresceu como ser, e evoluiu como ente de um sistema antigo de organização de espécies. Era igual a tantos outros, numa sociedade sem classes, com uma hierarquia primária e uma sabedoria secular. O rebanho ganhou um membro, a humanidade perdeu um elemento. Os primeiros não se importaram, os segundos nem se aperceberam...

Desconto de Natal

os coelhinhos de chocolate roiam os fios electricos, ávidos do curto circuito na árvore. As renas lançam-se pelos penhascos dos fiordes descontentes com a desclimatizazão global. Estrelas rodeiam as lareiras e gentes vê a 3D. Os palhaços ingerem o Lsd enquanto os leões mastigam pequeninas passas de grandes potes na sala de estar. A lareira crepita falando aos mais novos do tempo em que o aquecimento era nuclear. Soldadinhos de chumbo afogavam-se na calda de açucar. Cerejas afundam-se no caldeirão a ferver. A ebulição engole a batalha naval. Os jogos derretem-se junto à radiação. A família à ceia, fossiliza e mantêm o espírito natalicio por mais de dois séculos. O comboio de brincar apita, todos entram. A sala vazia e a glória aleluia.

Causas

desmorona-se o edifício mental
emaranha-se o fio condutor
constroi-se um novo ideal
cria-se um outro torpor

As janelas interiores escancaradas
AS portas da liberdade abertas
os olhos semicerram
os sonhos encerram

A aurora renasce
a esperança cresce
o fulgor reaparece
enquanto o fio do tempo a aranha tece

22 novembro 2007

Curta lenga longa

No principio era o Verbo, um fotão num mundo deserto. Um átomo e pouco depois uma molecula. Num ápice e sem qualquer ordem, a gazela foge e a chita corre. O abutre aproveita-se. O elefante invade o charco. O crocodilo espera. Os búfalos desesperam pelas pastagens que não chegam. Os répteis aguardam. Os insectos reagem a impulsos binários da sobrevivência e propagando-se de súbito.
No ar viajam partículas que servirão de nicho ecológico. No solo espalham-se as espécies que havemos de extinguir. No mar floresce a vida que haverá de estar na base da cadeia alimentar. Um instante após, chega o pensamento e a consciência de existir. Reclama-se o espaço todo, até o próprio universo de seguida. alguém configura. outro reconstroi e adapta. aquele transforma e divide. alguns reinam e idealizam. Chega à Terra quem sente. Arrepende-se porém e repete o erro antigo. Domina mas é ultrapassado por Gaia, que está um passo à frente da decisão e do protocolo. Predisposta a reformular o formulável. Configurando o ideal, ultrapassado no momento em que surge. Num momento extingue quem lhe aprouver. Sem contemplações. Sem dó nem piedade. Sem misericórdia no vocabulário. A destruição de quem chega. A criação doutra coisa inimaginável. Sem dono, nem denominação. Pertença dela própria Um fim e um inicio. faz um balanço e de repente o equilíbrio. Vira-se a página. e faz-se luz pela primeira vez.

19 novembro 2007

Noticia alarmante

Num relatório recente, elaborado por uma equipa de Investigadores Privados Europeus, concluiu-se não haver noticias de Jesus Cristo. No momennto do alegado desaparecimento e aparição em Fátima. Tal facto tem sido escondido da opinião pública, sendo apenas conhecido das empresas de Comunicação que asseguram a boa imagem pública da religião...Com efeito, tendo ficado demonstrado nos processo de investigação que José não é o seu pai biológico, existem fortes indícios de que as amostras de ADN não sejam de qualquer criança, mas apenas de sua mãe.Tal situação explica, segundo os investigadores, a correspondencia do sangue encontrado no Monte das oliveiras, alugado 21 dias depois do forjado "desaparecimento", com o da pretensa "mãe" de Jesus.Por outro lado, e segundo revela o relatório, não há qualquer indício de que o casal tenha entrado em Jerusálem com a criança, nem foi até agora descoberto qualquer registo de nascimento de alguma criança com o nome de Jesus, filho do casal.Esta convicção dos investigadores assenta ainda em informações prestadas por amigos pessoais que saudando o Papa quando este circulava a pé, junto do público que semanalmente enche a referida Praça quando das audiências publicas.As autoridades policiais estão a analisar com a máxima descrição este relatório, procurando encontrar conexões entre os doadores dos fundos com redes internacionais ligadas ao tráfico de armas e de estupefacientes e bem assim, a investidores imobiliários de Israel e do Sul da Babilónia

Bloqueio

Um belo bloqueio deixou boquiabertos todos os que caiam no barranco. O batelão bateu na boca. Estava na berlinda e debandou ao ver a bronca que criou. Bastas vezes tentou sair em vão. No vão de escada caiam as vigas, as traves vigorosas murchavam. A Planta viçosa estava rancorosa. Rasgos de ternura atentavam a fotossintese. A luz murchava criando um breu brilhante. Cloroplastos incineravam a atmosfera composta de ácido carbónico. Uma primitiva terra avançava ao sabor de um antigo saber. Criações espontaneas de existencias inatas surgiam num cosmos caotico que acabava de começar. As plantas erguem-se, os barrancos formam-se, o batelão esfuma-se e a espuma do mar cria-se num ambiente do bar, pelo meio de escoamento liminar e turbulento que se formava no tecto bolorento e saia da boca de alguém que fantasiava a imaginação como se debutasse, de branco trajado e de fato fardado com o sapato encardido.
E assim foi que saiu pelo caminho, caiu e esmagou-se, afundando-se na argila margosa e desaparecendo....

Entidade espectral


Estando no final dos tempos somos assoberbados pela grandeza medíocre da nossa tecnologia enfadonha! O hamburguer pré-concebido, o bebé geneticamente alterado, a comunicação instantânea em qualquer lugar. O credito por telefone, os sms, o mail em cadeia, a cadeia alimentar adulterada, a extinção diária e a extensão da humanidade na aldeia global.
O Quim que qual quimera questiona-se pelo sentido da vida. Avança na vida sem qualquer objectivo senão a sobrevivência mesquinha juntamente com os milhares que não se questionam e que absorvem a informação mediática tele visionada, cheia de contradições, contra-informação, e contraproducente. Vive com o Gps, localizando-se mas não sabendo onde se situa social e culturalmente. Sabe as horas pelo relógio digital mas ignora o tempo que tem. Sabe a previsão do tempo, com temperaturas, pressão atmosférica, direcção e intensidade do vento, grau de humidade relativa, altitude. longitude e latitude mas nunca sabe onde está nem para onde vai.
Vida preenchida por noticias de calamidades à distância e mortes em directo. Brinda a mais um dia com mais um bagaço e pastel de bacalhau. E entretanto...
Confunde-se, Ilude-se, concretiza-se, subjectiva, abstraciona, sonha, idealiza, sente, pressente, fantasia, realiza, virtualiza, materializa, constroi, acrescenta, projecta, destroi, transcende, pensa, paraliza, sintetiza, desfragmenta-se, funde-se, consome-se e decompõe-se...Contudo não existe nem é!

14 novembro 2007

Bah!


O homem tem um problema, pergunta-se sobre o absurdo da existência, desloca-se ao centro de atendimento. Fazem uma triagem. É questionado. Interrogado e catalogado. É reconduzido. Chega a sua vez, é levado pelo interior do edificio alvo, imaculado, com tectos altos preenchidos por luzes neon continuas. Chega a uma grande porta, abrem-na. É empurrado lá para dentro. Fecham-na. Lá dentro uma fila enorme de gente onde ocupa agora o ultimo lugar. Da primeira pessoa retiram o cérebro, que religiosa e sistematicamente é colocado numa pequena caixa de metal reluzente e azulada. É inserido na parede, cheia de gavetas numeradas de alto a baixo. O corpo é quimicamente tratado e reciclado. Novamente a sua vez, o processo é o mesmo. Já não sente nada, nem existe. Contudo na manhã seguinte acorda com o despertador, faz a barba, veste-se, apanha o eléctrico, pica o ponto e produz! O mundo é belo novamente!

13 novembro 2007

O passeio pela vida


Corpos transpirados dentro dum escritório urbano. Os prédios em volta cresciam, inundavam-nos de pó que entorpecia os movimentos. Obrigavam-se a trabalhar maquinalmente. O objectivo cumprido. Os números batiam certo. A alegria contagiante de mais um dia de imensa produtividade ineficaz e insuficiente.
À saída todos se dirigiam para os sinais indicadores. Atropelando-se. Conduziam-nos aos destinos diversos. Sempre fugazes. As plataformas cresciam de gente. Amontoavam-se os percursos. Aumentava a velocidade da partida. Enquanto outros havia que procuravam a chegada, Movimentos constantes e freneticamente desconjuntados. Os tais percursos conhecidos feitos de aglomerados desconhecidos. Gente adormecida circula pelas ruas. Outros acordam e gritam, falam da chegada do absurdo da vontade própria. Em vão. São esquecidos. passa-se por eles e o semáforo muda para verde, as portas abrem e os carris seguem o seu caminho pelo tubo negro e vazio de sentimento. Pára mais uma vez e sobem as escadas. A multidão expectante observa os painéis. O tempo continua e o comboio arranca-os do espaço. Para longe. Num lar por instantes. Saiem novamente esperando pela buzina. Trocam olhares a medo. Estranha-se o lugar vagamente conhecido. seguem em frente. As pálpebras fecham-se. Os carris em linha recta, comunicações em todos os sentidos e diálogos por todos os lados. Pensamentos cruzados. Inúmeras vidas juntas pulsam com a energia eléctrica que os alimenta e consome. Vivem viciados na rotina do amanhã que chega hoje. Mentes pesadas transportam a carruagem, nas paragens à frente sente-se a dor e o riso. Misturam-se numa mescla explosiva de demência prestes a acontecer. Rasgos de sanidade entremeados por loucura calculada e à distância de um banco ou de mais um lugar vago. E uma mente vazia. Passou-se o dia. O indicador luminoso aponta e a sirene assinala.

07 novembro 2007

#4

Para se estar sempre em maioria basta ser um

#3

O primeiro passo para a queda é levantar o pé

#2

Tudo é simples quando numa discussão só há uma pessoa...

#1

Para criar um conflito basta disparar uma bala para o ar

06 novembro 2007

tédio animal

Por vezes dá-me vontade de nada fazer, então escrevo linhas, quem sabe para fazer um novelo e tricotar um pouco. Um comportamento humano. É aquela sensação que talvez se tenha quando se dá milho aos pombos. Vê-los correr pelos ares e a debicar aqui e ali. É um passatempo sui generis. Noutro dia vi um homem que o fazia, parecia empenhado!Como se a tarefa fosse honrosa e honrada. E é decerto, são conceitos. Há quem dê aos patos nos lagos do parque, ou até ao peixes no rio. Mas estes gostam de se amontoar junto a pequenos riachos de esgoto e ali deglutir pequenos manjares, falo das tainhas que também observei no domingo. Divertiam-se imenso e estavam a atarefadas a galgar-se mutuamente e de quando em vez giravam em torno de si mesmas e dava pra ver o brilho prata do fundo escuro da água. Um efeito bonito. são dias assim de national geographic ao vivo e em directo. Até os cães participam nisso! Quando andam juntos a cheirar os cantos e esquinas obscuras com cheiros nauseabundos, outros mesmo imperceptiveis para nós, mas decerto que levam ou trazem com eles notícias doutros lados. Os actos sociais caninos são interessantes para quem se encontra aborrecido, correm atrás dos gatos, cheiram o rabo uns aos outros, rosnam-se, ladram às gentes, levantam a pata na roda do carro, dormem ao sol,e roem o osso gigante dum fémur de bovideo, que deve ser o correspondente canino ao nosso sudoku. Os pardais são caricatos, quando o sol se põe juntam-se todos na mesma árvore e fazem uma barrulheira descomunal, são tantos que se confundem com as folhas, esvoaçam, e marcam lugar e presença, ocupam um galho para adormeçer mas logo em seguida são incomodados pelo vizinho e dão mais uma voltinha pela copa. De todas as direcções chegam mais, e é dificil imaginar como cabem todos ali naquele espaço. é a teoria do caos em aplicação natural. Uma comunidade alada similar aos peregrinos em meca que rodam e rodam! Engraçados os bichos. Os bichanos(gatos) também, com os seus bizarros afazeres, entre dormidas, perseguem osgas e lagartixas, fazem esperas a passaros incautos e divertem-se arrancando patas a gafanhotos. Crueldade? nahh...Natureza. Será o equivalente ao nosso tricot. Pensando bem o nosso ócio é bem mais futil, conversas infinitas à mesa de café, regadas a alcool e/ou cafeína, visitas a centros comerciais, tardes em que se desdenha o resto do povo mas acabamos sempre por nos juntar todos. Natural também, somos gregários, vive-se assim então.
cada macaco no seu galho, o Pombo com o seu grão, a tainha com o seu pedaço personalizado de esterco, o cão espoja-se, o pato pavoneia-se, o gato embeleza-se. os pardalitos poisam por cá, e nós, aqueles que falam, invejam-nos. E passa-se o dia.

02 novembro 2007

Percepção galactica

o ceú encontrava-se nublado assim como a mente, tentava-se a aterragem, os sensores não respondiam. as informações sobre as condicões exteriores não chegavam ao painel de controlo, navegava-se às cegas, as respostas externas eram ignoradas. Era como uma concha, sectarizado e ostracizado em si. só se via para dentro, a luz era enorme e queria escapar-se mas não conseguia. Nenhum comando dado era cumprido, nenhuma informação coerente, o solo aproximava-se vertiginosamente a aterragem forçada e a queda abrubta, a força era gigantesca devido à aceleração da massa. Chocara na superficie, respirava apesar de tudo e finalmente sentia a gravidade. só isso era capaz de sentir. Abrira os olhos levantara-se.
Saia pelas ruas ignorando toda a gente, não era autismo, não era falta de compreensão apenas alienação. Continuava assim até ao final do horizonte e adiante.
Um ser bizarro numa civilização incompreensível. A adaptação era impossível, a comunicação fragilizada, o seu estado além de sólido encontrava-se sobre pressão. Uma sociedade de dificil acesso, uma ideologia de imperceptivel moral. Liga-se à base e transmite: "conseguimos contacto, no entanto os sentidos encontram-se avariados. As emoções sem bateria. os sentimentos queimaram-se aquando da reentrada na atmosfera. Possuímos apenas os comportamentos inatos, a razão básica e o senso comum"

30 outubro 2007

Joaninha ( Poesia Naif)


Uma Joaninha voa
Uma flor na alma brota
e uma sirene cá dentro soa
um força imensa me tenta

um festival de emoções
uma acaso e muita sorte
Um corropio de sensações
Ai que nunca mais chego ao norte

Oh tempo passa rápido!
oh espaço encurta!
não aguento mais
ja tenho a mala pronta

Os caminhos que nos separam
mas estradas que nos juntam
e nos trilhos que se preparam
as viagens que me encantam

Segundos de prazer
Instantes distantes a sofrer
Minutos de amor
e momentos sempre a manter

a distancia causa a saudade
e tanto desejo a arder
aumenta ansiedade
de tanto mas tanto que fica por dizer!

Um fim de linha e uma estação terminal

(Principio da situação)
Num breu branco e no buraco daquele barranco, Bruno alvo e calvo decide descer a pique pela picada, cai do cavalo, mas ergue-se do céu. Distancia-se de poente enquanto passa pela ponte, larga o lastro e embarca no embaraço do novelo de lã das ovelhas tresmalhadas e trituradas pelo tractor a motor, sem dó mas com piedade, e no pico distante cresce, não em tamanho nem em valor acrescentado, quase evita a Iva, que parecida com a Eva, evade-se, partindo a melhor parte e partilhando a dor e distribuindo a cor, avança pelo corredor estreito no Magalhães, e alonga-se pela longitude dilatando-se na latitude e na quietude da manhã, queda-se por ali, encanta-se maravilhado pelas 7 do mundo e por um quarto com vista para o meio da cidade, que num terço do tempo, reza, e preza por dias melhores. No mesmo instante em que pensa, perde-se no espaço e cobre o tempo, numa velocidade estonteante, rodeia o planeta e órbita em volta das paisagens mentais, e passagens para peões que dum xeque ao rei, depositam sem cobertura, nem sequer com rede artesanal ou de um qualquer artesão com problemas sentimentais, recorrendo a tratamento social e procurando um ideal de dimensão irreal. Enquanto vagueia pelo campo virtual pouco vulgar e nada normal fica transtornado com tanta mensagem subliminar, e deformado com a distorção particular da razão pura, sem corantes, nem conservas em lata, e soldadinhos de chumbo que o cercam, a pouca altura e em qualquer momento. Explode sem rebentar, foge sem pagar o preço da sua condição.Uma má conduta decerto e um bom passageiro por perto, contudo ao longe, vê o horizonte à boleia e põe-se como um ovo a poente, cacarejando numa constante irritação da pele. E pelo pouco passeio em balão num domingo onde adormece, sem eira nem beira alta, que lhe causa uma vertigem vergonhosa, para quem de elevada estatura se reduz ao vácuo e preenche de luz, tendo a visão da cruz como bússola e um compasso de espera, desespera na solidão da ira da multidão que o morde mais que o simples mortal, salta com uma pirueta invertida, donde sai com pontos luminosos e excelente pontuação. Fechando para balanço e saltando dum baloiço.
( fim de citação)

24 outubro 2007

momentos


há dias em que sou atingido por um raio fulminante de lucidez
o mundo foge como areia entre os dedos.
sinto que sou o único aqui
um estrangeiro numa terra desolada
entro em corrosão pela tristeza
em que nada tem sentido
em que o acto de levantar é absurdo
as pessoas são espectros
os sítios desconhecidos
a direcção a tomar confunde-me
o caminho é infinito
e caminhar queima-me os pés
falar cansa-me a alma
e olhar fatiga-me o cérebro
sou castigado por existir
Fustigado com informação banal
sofro com todas as maleitas
assoberbado por conteúdos fúteis
todos os acasos se concentram em mim
sou esmagado pela pequenez
e reduzido a ser quem fui

Reparticão ( Semelhanças com a ficção é pura ficção...)

Manuel entra na repartição, a porta automática encontra-se fora de serviço e lê-se na mesma: "Utilize a entrada pelo 4 B CV- Dir do edificio ao lado". Desloca-se até lá.
Um portão de madeira de pinho com uma tranca de metal ferrugenta. "Para abrir toque no 1º Esq". Procura a campainha desejada, encontra-se avariada. Bate no portão, 5 minutos depois abre-se o postigo:
"Bons dias. Que deseja?"
"Procuro a repartição.."
"Já tirou senha?"
"Não..."
"Tem então de se dirigir ao nº6, no segundo andar"
"Mas não a tiro aqui?"
"Claro que não, é preciso fazer uma triagem dos utentes, sabe-se lá se é para aqui! Pode ser no terceiro andar!"
"Mas onde me posso informar sobre a senha a tirar?"
"Deveria ter pensado nisso não é?! Tem de ir ao fundo da rua, ao edificio que se encontra em obras, e pergunta pelo Senhor Costa da Repartição"
Fecha-se o postigo. Manuel desce a rua e entra no prédio. Encontra-se um homem a colocar cimento nas paredes, e outros dois a instalar a canalização.
" Bom dia, sabem-me dizer onde se encontra o Senhor Costa por favor?"
" Não está, saiu em serviço"
" Mas disseram-me que o encontrava aqui..."
" Vem por causa do alvará?"
" Não! é para a repartição!"
" Isso é ao cimo da rua no nº4!"
" Mas onde se tira a senha?"
" Ah! O senhor Costa da repartição?!"
" Sim..."
" Podia ter dito pah! é aqui no prédio ao lado!"
" Obrigado"
Sai e anda até à rua, vendo que há outro prédio igual. Entra. Lá dentro, na escuridão, ouve um rádio tocar, vai em direcção ao som. Noutra porta vê uma luz pergunta por alguém, não há resposta. Avança e no fundo de um corredor em tijolo, vê uma secretária iluminada por uma vela, com um homem afundado numa cadeira, fumando um cigarro e colocando carimbos, em papéis.
" Senhor Costa da repartição?"
" Sim que deseja?"
" Uma senha para a repartição..."
" Muito bem! Aproxime-se homem! Para que dia pretende?"
" Para hoje certamente"
" Humm..já não há, sabe que isto às segundas e sextas tem muita saída. Pode ser para um outro dia?"
" Não! Não pode! preciso de ir à repartição já!"
" Caramba homem, não se irrite! Tem urgência é?"
" Pois com certeza"
" Senhas de urgência tem de vir de manhazinha...Essas ainda é pior!"
" Não posso acreditar! quero o livro de reclamações!"
" Bom, aqui não tenho, e com isto em obras...Mas pode-me dizer a mim que eu depois transmito!"
" Isto é inadmissivel"
" Ora agora é que falou bem! Vê-se que é um tipo porreiro, olhe tome lá uma senha d`hoje mas diga que a arranjou ante-ontem!"
Depois de carimbada, sai. E entra no nº6. a senha tem o nº20-D. Num quadro a giz, está desenhado o seu nº...dirige-se ao balcão com 3 funcionários cujas cabeças tocam o tecto. Apesar do seu metro e oitenta quase não chega ao guichet.
" Sou eu" diz suspirando.
" é o quê?"
" sou o nº20-D"
" A senha de informações portanto"
" Sim! não me vai atender?"
" Não! terá de aguardar a sua vez, tem várias pessoas à sua frente"
" Mas eu tenho a senha 20-D"
" Todas possuem o mesmo nº! 20-D. a senha de informações"
" Não posso acreditar! Desejo o livro de reclamações se faz favor!"
" Muito bem dirija-se ao guichet #2 e aguarde a sua vez."
" Mas há gente à espera?"
" Não, mas o senhor tem a senha 20-D terá de aguardar a sua vez e para a próxima venha mais cedo pois já não é atendido hoje, venha segunda-feira e retire a senha"
" a 20-D?"
" Claro que não! Segunda será a 05-F! Antes de voltar faça mas é o favor de ler as instruções antes"
" Quais instruções?"
" Não vai para a secção?"
" Não! venho para a repartição!"
" Ah! Já podia ter dito! A repartição fechou, as novas instalações são no centro da cidade! Isto aqui andava uma confusão e mudaram-na! Agora é tudo muito melhor!"

19 outubro 2007

O que verão de São Martinho

São Martinho saiu de madrugada, tinha de chegar cedo ao mercado. O metro ainda não tinha aberto, apanhou o eléctrico até ao Cais do Sodré. Antes tinha de ir ao Multibanco, toma o pequeno almoço junto ao tejo, um chá de tília e meia torrada, andava nervoso com os negócios, a competição cada vez mais feroz, e os preços nada apetecíveis. Antes de entrar no mercado da ribeira, fuma um cigarro e toma uma bica com um bagaço no largo de São Paulo, conversa um pouco, os tempos estão mudados é certo, e já nada era como dantes. Despede-se e agradece a companhia. Os comerciantes já andam num rebuliço, dirige-se à banca do Sr. Manel, " Seja bem aparecido" diz este, " há que tempos que não o via! Não se preocupe que para o Sr. há sempre! tenho aqui guardado! oh pra isto!? maravilha não! vai o mesmo de sempre? Ora aqui tem, até pro ano!". "E traga o verão, ha ha ha!" graceja. Martinho sai carregado, pensa em ir a pé pela rua do alecrim, mas desiste da ideia, tem que se despachar, entra na Gare do metro, já é hora de ponta, um mar de gente para entrar com ele, apressa-se a ir para as portas da dianteira para guardar lugar. chega ao Rossio e saí, o seu carrito já se encontra junto à fonte. Traz consigo as acendalhas e as brasas. Ateia o fogo, o fumo com cheiro a carvão sai pela pequena chaminé. Apregoa por elas " Quentes e boas!É a 3, uma dúzia!" A praça cheia de gente que passa, ignoram o chamamento. Debaixo da capa tira o garrafão, enche a caneca e bebe tudo dum gole. O vasilhame cheio arrefece, come-as sincopadamente, saca da caneca novamente, a visão fica turva, a voz rouca e trémula. Apregoa novamente, aparece um primeiro cliente, leva 2 duzias, chega outro e outro! O saco esvazia-se. O garrafão quase. Enche-se com um sorriso. Já tem o dia feito, coloca a ultima fornada, que rápidamente entrega a outro freguês. Por hoje já chega, conta os trocados e dirige-se à caixa, com as notas no bolso, senta-se no Nicola e pede outra bica e mais um bagaço. Acende um cigarro. Aproxima-se dele alguém que pede esmola e tem frio. Martinho torce o nariz mas é incapaz de dizer que não. Abre a carteira e dá-lhe uma nota de 50. Levanta-se, rasga a sua capa e divide-a com o pedinte. Despede-se e entra no 12. Chega à meia-laranja pelo meio-dia, orienta-se de duas quartas e dilui-se na multidão. Amanhã há mais.

O dia

Pardais voaram espantados e avisando-me em surdina que o dia tinha começado.a um palmo do chão, salto cá para fora e o azul abarca-me a visão. O cão que ladra à caravana conversa com as árvores do território, conta-lhes as novidades do sol que nasce lá atrás. As folhas caem na minha direcção, evito-as correndo para cima e para os lados, os ramos que crescem até ao caos, vão-se ordenando na natureza que se estende e alarga, tentando agarrar o mundo inteiro. Descanso no ninho à sombra, sou conduzido pela toca da raposa que sábia, prepara-se para o Inverno. Sigo em direcção à luz reluzente dos brilhos de mar, envolvem-me e arrefecem-me. A superficie flutua e leva-me à foz. A água esconde-se na gruta, aquecida pela fogueira dum ancião contador de histórias antigas. O bardo transporta-me pela aldeia, avisando ao mundo que cheguei, um arauto da existência, que distribui e espalha a mensagem. Conta como a vida chegou, começou e conquista tudo e todos! Conta o frenesim das moléculas que se formam, a agitação dos átomos que se juntam, a alegria das células que se multiplicam, a felicidade dos genes que se transmitem, o contentamento da amiba que aparece, e a explosão de energia vibrante da criação! O dia começou! E com ele vem os sons, as imagens, as cores, as emoções, e a harmonia do Ser!

17 outubro 2007

Dois funcionários numa fabrica de inventos. Um igual, outro diferente. O Igual trabalhava de forma diferente, o diferente de forma igual. Quando era necessário fazer algo diferente ninguém fazia igual. Quando todos faziam de forma diferente, ninguém trabalhava igual. Chegava uma nova remessa de matéria prima, o diferente diferenciava, o igual fazia como o nome indicava. O diferente não sabia como começar, mas sabia como acabar. O igual começava e terminava da mesma maneira. O diferente inventava formas e géneros, pensava conteúdos, imaginava séries, falava em fazer, elaborava mentalmente. O igual fez. O diferente olhou. Um deu em louco, outro ficou indiferente. A fábrica já não inventava, os inventos já não saiam. Não fechou as portas, mudou de ramo, e tornou-se uma feira de variedades e de atrocidades. Mas diferente claro está.

12 outubro 2007

Outro Cartaz!?!?!?

Lá vêem os radicais novamente com mariquices: " os assassinos, os violadores e os pedófilos cá fora e nós os nazis lá dentro"

Até tem piada.... E lembra-me umaa musica dos Delfins numa versão masterizada e remisturada com melodia do calimero praí....

Qualquer coisa como isto:

"Ai!Soltem os prisioneiros!
que matarão os paneleiros!
OH Pah! Libertem os skins
coitadinhos!
é boa gente, é de cascais e muito In...
Desamarrem o lider
que a gente só mata pela surra e quem puder.

Se dá na coca,
não é drogado
está é cansado de estar na toca.

Se esteve no Brasil emigrado,
foi por querer saber o que era ser explorado.

Se nos 80`s andava no Bairro com tacos de baseball
é porque não teve chances neste pais de singrar no paintball

Se mataram gente do Psr
pois não dava jeito fazê-lo aos Gnr

Refrão:

liberdade pro companheiro
O gajo nem é paneleiro
soltem o Fulano
o gajo é um bacano
Morte a quem não nos grama
e a ver se prá proxima ninguém nos trama!"


Aqui fica a minha homenagem a gente tão nobre gentil e justa!

Obrigado por existirem e preencherem o nosso vazio xenófobo!

Allekum Sallam & Shalom pra todos vós

E um rezem uma Avé Maria que amanhã é o 13 de outubro!

Palhacitos...

11 outubro 2007

Demolição

Faz a malas, retira os quadros, guarda as fotografias, acondiciona os armários e transporta tudo para a rua. Entra para ver as paredes vazias, o esqueleto da estrutura. O silêncio absurdo, a falta de movimento. A ausência de vida. Não só o lugar se extingue, mas também são os momentos, os instantes fotograficos, as emoções impregnadas em cada fresta, os cheiros instalados em cada canto, as sensações vividas em cada divisão. Tudo implode. Será cremado. Esmagado. Desfragmentado. Recriado para outro alguém. Uma imitação, um ser apóstata. Acabou. Terminou tudo. Há que continuar. Sim começa uma nova vida, sempre lá esteve, mas este vazio permanece. Paira no ar. Persegue-o. Vira costas e segue o seu novo caminho. Escuro, incognito, estranho, bizarro, kafkiano... O horizonte não se mostra, as expectativas crescem, o desconhecido aproxima-se. Olha mais uma vez para trás, recorda e memoriza. Sorri e manda tudo às urtigas. Despe-se, põe um máscara e corre sem direcção mas com um destino.

Mais uma volta!

Vamos seguir! Apita a sirene! Gente a sair! Povo a entrar! Sempre a Rodar! Troca o dinheiro por fichas, armas, mulheres e crianças! Saldos de ocasião! liquidação total! Segregação social! A economia global! Desemprego aqui, riqueza por aí. Compra e vende! A bolsa a descer! A toalha estende. O sol a crescer. O mundo a girar! Uns a comer, outros a definhar! Um foguete a caminho da Lua, outros na rua a dormir! A invenção dum novo engenho, a Criação duma tecnologia no Ocidente, a propagação duma epidemia a Oriente. O equilibrio! A ajuda humanitária. A crise identitária. A anorexia. a ausencia de profilaxia. O desiquilibrio! Mais uma volta! Dietas para a linha! A fome e a morte como moda. A Guerra de outono/inverno a Sul. uma nova consciencia. A paz a Norte. As promessas eleitorais, o fraco raciocinio. As farsas socias. Um novo exterminio! Opulência Mundial, pobreza espiritual! e Mais uma volta! A farra Universal e o mundo gira! Mais uma volta!

10 outubro 2007

Visão II


Encontrava-me em Fátima. A nossa senhora sinalizava as barraquinhas de "comes-e-bebes", pedi um coirato e uma mini. Serviu-me com profissionalismo e com uma aura mística que não sei explicar. Parecia que caminhava pairando sobre o chão, com uma pequena nuvem a cobrir-lhe os pés e um manto dourado que parecia divino, um canto celestial saia-lhe por detrás, pela frente, por todo o lado como se omnipresente. Paguei e agradeci. Nada disse. 3 pastorinhos observavam a cena, embasbacados, descrentes, ou melhor crentes noutra coisa que não esta. Ao passar por eles, pedi-lhes lume, ajoelharam-se pouco depois. Segredavam-me. Revelavam-me um quarto...desconfiei. parti de cigarro apagado. Entrei no carro estacionado. Deixei-me dormir. Um arrumador bate no vidro, e acorda-me em sobressalto, dou às chaves, sigo. Já não sei onde estou. O nevoeiro em tons celestiais adensava-se. Ao longe ouvia-se o sibilar do comboio. Uma multidão na estrada impedia-me de largar este lugar. Segui por um caminho de cabras. Os faróis de pouco serviam. Havia luz que parecia brotar do chão. Atravessa-se um cavalo branco na minha frente. Um grito de comando à minha frente. Salta um rapaz de armadura reluzente, de espada na bainha com outro grito e um relincho. Páro e abro o vidro. Pergunto onde vai dar o caminho.
Aponta-me o Mar. O céu abre e a paisagem muda. Afasta-se rápidamente a galope. A areia impede-me agora de prosseguir. Continuo a pé em direcção à costa. O calor aumenta. Um Arbusto em chamas tenta-me. Uma visão de sereias impele-me a correr para lá. Um labirinto e umas asas de cera. Vôo pra cima, livre! Em direcção ao Sol, nada oiço, apenas flutuo e caio. Alto! Tombo rápido. Desisto. Acordo. É hora de arrancar. Dou às chaves e continuo a Auto-estrada.

A sala

Sentavam-se esperando que alguém começasse o diálogo. Alguém gritou um bom dia! Mexeram-se nas cadeiras, em silêncio com movimentos frenéticos. Alguns levantaram-se e mudaram de lugar. A mesa estremecia, os papéis arrumados, voavam pelo ar. Ninguém se olhava, apenas corriam em redor, evitando o contacto. cada um no seu canto, todos em rebuliço, uns gemiam de pavor, outros tremiam de horror, tocavam-se por vezes causando arrepios e gritos que mais pareciam uivos. Um barulho ensurdecedor. O torpor aumentava a cada momento, a correria tornava-se compulsiva, o medo instalava-se. Atiravam as cadeiras às paredes. Rosnavam-se. O caos reinava. Só a mesa continuava de pé. Penduravam-se nos candeeiros, arrancavam as estantes e puxavam os armários, pegavam fogo aos livros. O Presidente da assembleia sentou-se. os outros seguiram-no. Encerrava-se a reunião. Os objectivos atingidos, o consenso alcançado. Abraçavam-se e riam-se em êxtase. Aplausos. De pé. As luzes apagam-se. Corre o pano.

09 outubro 2007

Outono

Partem em bando as aves, voando alto e para longe. No seu conjunto fazem descer as nuvens negras sedentas de se abaterem no solo. Quebram-se as folhas das árvores desnudas, e esvaiem-se as cores dos céus. Os animais em terra escondem-se, fogem da escuridão que se apodera das flores, os cheiros tornam-se rudes e agrestes. O mar revolta-se e cresce para as margens, a água inunda e conquista novos espaços. A luz esconde-se. As gentes carregam o semblante. Já é certo e definitivo, o outono chegou.

Corpo são em mente vazia

O individuo encontrava-se ciente aquando da sua entrada no bar. Os clientes olhavam-no curiosos. Sentou-se. Pediu uma cerveja e amendoins. O empregado negou-se a servi-lo. Apresentava sinais notórios de consciência, de lucidez e de percepção clara da realidade. Sem mais demoras a gerência chama a policia mental. O Cliente debate-se e discute com quem o prende. É levado à esquadra. Amarrado a uma cadeira, com uma venda nos olhos, e de boca tapada. Fazem-se os preparativos, o material esterilzado, o psicóloo a postos, os visores em espera. Entubado, electrocutado e perturbado. Era este o seu estado. As mensagens subliminares, as emoções controladas, os estados de consciência induzidos por imagens e sons. Estava pronto. Calmo. De olhar vazio, sem expressão... Pronto para sair para o Mundo. Iniciar uma nova vida. Um homem novo. Não mais criticaria. Nunca mais poria em causa o sistema, jamais veria as injustiças e crueldades. Incapacitado de ter qualquer ética ou moral que não a imposta. Um homem novo! E o mundo continuaria seguro.

08 outubro 2007

Dúvida

* cumé? tás fixe?
* ah...aborrecido!
* Xiii! e que vais fazer?
* não sei
* Mas tens ideia?
* tá fraco isto...
* e agora?
* tou ca neura
* inova pah!
* Hmm. aborrece-me
* Quem? eu?
* Não
* atão?
* Já viste?
* onde?
* o poço é fundo
* ya..
* vais-te atirar?
* não sei. tu vais?
* se tu fores eu vou..
* é alto...
* oh!
* vens?
* vou, mas vai tu primeiro
* ok, ciao
* eh! também vieste?!
* Pois...não queria ficar sozinho
* curtiste?
* nem por isso
* vou bazar..
* atão?
* só vim pq tu vinhas,
* pfff!
* e tu?
* Eu vou atirar-me outra vez
* para quê?
* para ver como é
* outra vez?!
* oh! a primeira foi por imitação...
* tá bem.
* e tu?
* eu fico
* gostas disto?
* Não, mas é diferente

A emissão segue dentro de momentos

Grato ao fantástico por criar novas situações
ao fabuloso por inventar novas personagens
e ao surreal por trazerem a novidade ao Mundo
Obrigado pela oportunidade de viver com muita mágica
e alguma fantasia que me vai ofertando
Felicitações pela imaginação prodigiosa
pelo Sonho visionado diariamente
Agradecimentos aos demais rituais que servem de suporte e me fazem levantar!

Paixão

Ali fui eu a caminho de Viseu. tu e eu. nós, castanhas e avelãs! Rotundas cortadas, tracejadas a tinto ou branco. Açorda, marisco, e picada, um pitéu. Flores e cores. Já cheira a lareira, com a serra por perto. Um sono relaxado, um prazer demasiado, um deleite, um torpor tremendo. Uma vontade de parar o tempo, uma ansia de criar mais espaço, uma esperança do reencontro ser imediato. Expludo por dentro, grito por fora, agarro o ar e chamo por ti!