XCIV - Descolagem
Partira rumo às estrelas. Deixava para trás o planeta azul. O silêncio do vácuo era reconfortante, fazia crescer o vazio da solidão porém. Estava só numa imensidão negra. Os pontos luminosos à sua volta pertenciam ao infinito. Navegava célere, quase à velocidade do próprio Universo. Os pontos passavam a traços luminosos. O sistema solar não passava de mais uma particula na sua visão adimensional, desapareceu e misturou-se nos restantes. Todos eles intocáveis. Longinquos. Adormecia e congelava aos poucos, até restar um minimo de vitalidade. Suficiente para acordar algures. Ali. Numa dessas luzes que pairavam. Iria sonhar? Não sabia.
O tempo passou, o espaço também. O sono quase intemporal, retirava-lhe as memórias e as sensações. Esquecia-se donde vinha e a que espécie pertencia. Os hábitos, as emoções humanas apagavam-se. Faziam parte de recordações vagas e sumidas. Distantes mesmo.
Acordava. Sentia uma força gravitica. Tinha aterrado algures. Os mostradores nada indicavam. espreitou pela escotilha fechada. Boiava num mar gorduroso e amarelo que se espraiava para lá do horizonte. Um céu cinza brilhava. Não sabia se era respirável aquela atmosfera. Encontrava-se fraco. A custo fechou a viseira. Abriu a porta para o exterior. Um bafo denso e quente entrou pelo veiculo. Acto continuo o veiculo afunda-se de subito. O liquido meloso penetra pela capsula invandindo todo o cubiculo. Entra em panico! Não tem tempo de se isolar. Está imerso e descendo a uma velocidade vertiginosa! Parece não ter fundo aquela substancia... Acaba por bater num fundo luminoso de cor alaranjada. Fecha a escotilha a custo e faz a descompressão. O liquido sai, deixando tudo gorduroso por dentro. Espreita para fora. A luz agora vem debaixo e não de cima. Passam pequenas bolas pretas por ele. Parece que o olham e desaparecem. Mas não! Chegam mais!Uma a uma vão observando tudo. A sua cabeça sente-as. Parece que comunicam. Milhares de sensações surgem no seu pensamento. Imagens vindas do exterior entupindo-lhe o cérebro com imensa informação. Sente-o prestes a explodir. Arrepende-se da viagem que fez! Sem volta.... Sozinho num mundo que não compreende. Vê faces humanas nessas imagens. Vozes em linguas estranhas. Risos. Alegrias alheias. Ideias de alguém. Dialogos complexos. Tertulias de gente. Sabores conhecidos. Toques humanos. Memórias. Lembranças de situações. Caras sorridentes. Gritos de extase. Orgasmos em cascata. É-lhe tudo desconhecido mas estranhamente familiar. Tudo demasiado forte. Intenso demais! Não aguenta...Desmaia.
Ao abrir os olhos tudo desaparece. Está fora da capsula...Como? Dentro duma bolha negra que reflecte o seu corpo sem fato nas paredes. Onde está agora?Levanta-se e sente-se como no centro do universo, a cabeça cheia de conhecimento. Sem dúvidas nem nervosismos histéricos. Uma calmaria fisica, uma sensação de alegria tremenda, como se estivesse em harmonia com tudo aquilo que sentiu. Com todas a emoções do mundo dentro dele. Grita chamando por alguém!
Aparece uma mulher nua, com lindas formas, de cor cinza que lhe sorri! Que lhe diz: "Bem-vindo!"
Ela estende-lhe a mão. Ele à cautela retrai-se, a mulher solta uma gargalhada e aproxima-se mais fazendo sinal com a mão. Não sente receio e dá-lhe a sua.
- Quem és tu?
- Sou quem tu quiseres!
-Onde estou?
-Onde queres estar?
-Não entendo, como vim aqui parar?
-Chegaste. És o primeiro!
-E tu quem és?
-Sou um teu desejo"
- Meu?
-Sim...Tua....
-E este lugar?
-É teu!
-Mas...não pertenço aqui...
-Talvez daqui nunca tenhas saído!
-Tudo me é estranho!
- Diz-me, como o queres? Como o desejas?...Diz-me!?
A mulher puxa-lhe pela mão, saiem os dois da bolha. Para lá dela nada existe. Só lhe sente a mão, a alegria transmitida, a paixão, o amor, uma enorme energia, olha e tudo vê. Toca e tudo sente. Aperta-lhe mais a mão e tudo lhe pertence. Desfaz-se em luz e numa gargalhada.
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
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