LXX - Visão
Acordou num espaço exiguo. Confuso, sem memória do seu passado. O Corpo dorido do chão de madeira bolorento, com cheiro a bafio. Levantou-se e olhou em volta. Onde estava? Desconhecia. Um quarto rectangular todo de madeira, com janelas no topo, tentou olhar para fora, mas eram altas demais. A porta fechada, sem puxador, nem fechadura, apenas um prego e uma argola faziam essa função. Olhou pela fresta, um corredor. Com o mesmo tipo de janelas. Tentou abrir a porta, ela cedeu e abriu-se com ruido, tudo rangia. Saiu à cautela. Nesse corredor comprido via a luz de uma porta aberta para o exterior a uns 50 metros. Do seu lado esquerdo várias portas iguais, algumas delas abertas, do outro, janelas pequenas e altas, por onde era impossivel espreitar. Avança aos poucos e em silêncio. Na primeira porta aberta, espreita. Vazio. A segunda também, assim como a terceira. Faltam-lhe meia duzia de portas, até à do lado direito, essa sim com luz, talvez a liberdade.... Noutra, um corpo cinzento deitado, imóvel, abriu mais a porta, tentava perceber o que ali estava, o que era aquele corpo moribundo, de repente mexe-se! Geme! Mas sem se dar conta que estava a ser observado. Assustado, encosta a porta e prossegue... Não pára em mais nenhum cubículo, acelera o passo em direcção ao que pensa ser a saída. A madeira range sobre os seus pés. Os gemidos de várias divisões aumentam. Tam de sair dali rápido. O coração acelera, o medo também. Está junto à porta exterior, antes de sair baixa-se e tenta sentir o que se passa cá fora. O silêncio apenas. Enquanto cá dentro os gemidos continuam, em uníssono, sente que a sua presença foi descoberta. Saí. Cá fora pinheiros altos, repara que estava numa espécie de cadeia ou albergue antigo, com várias divisões internas, cada uma contendo sabe-se lá o quê. À sua frente outro pavilhão igual, do lado direito o pinhal adensa-se, é por aí que segue...corre em direcção ao mato, por baixo dele, o barulho da caruma que pisa, os paus que parte, as pinhas em que tropeça. Treme com receio de alguém o escutar. Baixa-se. Ouve vozes que gritam, por detrás do pavilhão. Passadas em corrida na sua direcção pensa. Não é possível foi cuidadoso. O medo apodera-se. Corre em direcção contrária. A uns 100 metros uma casa de pedra, com umas janelas largas de portadas fechadas e uma chaminé fumegante. Dirige-se para lá. Os passos seguem-no assim como os gritos, nada vê. Entra em panico. Chega à casa, bate à porta com força.. Vêm gritos lá de dentro tenta espreitra pelas portadas. Não! É melhor fugir...contorna a casa e esconde-se por detrás. Já nem percebe a direcção das passadas que o perseguem. Parece que o rodeiam. Corre para longe...Uma clareira ao fundo, segue por aí, corre mais rápido. O mato cerra-se, quase intransponível, apressa-se a custo a passá-lo...Mas alto! Adiante uma rede alta com arame farpado por cima...Meu Deus! Está encurralado!.. Nâo vê ninguém... A barulheira continua, decide voltar para trás, passa a casa em direcção ao pavilhão donde saiu. Vozes e passadas, seguem-no, não sabe donde! Entra para o pavilhão. Continua em frente, e fecha-se no seu cubículo, encostando-se à porta. As vozes param, os passos deixam de se ouvir. A sua respiração ofegante. A transpiração corre-lhe pelo corpo e pinga no chão. A excitação e o pavor fazem-no tremer. Acalma e encosta-se. Abre os olhos e olha para o tecto, de um branco angelical. Do seu lado direito a infermeira injecta-lhe mais morfina pelo soro ligado ao seu braço.Á sua frente pra lá de uma vidraça 2 homens fardados e 3 homens de bata branca olham-no. Suspira. E fecha novamente os olhos encostando a cabeça à almofada. Não passava de um sonho mau, um pesadelo doentio.. Está seguro outra vez!
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
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