João Cruz Oeiras de Portugal adesão a portal.membros@spautores.pt

Nome

Email *

Mensagem *

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Realidades alternativas 10/04/07

LXXI - Realidades alternativas


Sem abrigo, sem familia, sem esperança, vagueiava pelas ruas. Tinha-se separado de toda a gente que gostava, a sua vida não lhe permitia estar com ninguém. causava vergonha e tristeza a todos. Ninguém queria estar com um sujeito que era contraproducente, sem valor, onde a unica coisa que sabia fazer era imaginar uma outra vida, ficar horas a fio olhando o vazio, fabricando personagens, fazendo historias, recriando cenários. Tudo lindo, onirico, utópico. Já ninguém queria saber, todos tinham os seus problemas, as suas familias, as suas casinhas para cuidar. Abandonavam-no à sua sorte, à sua sina, a um destino que não era o seu, mas sim provocado pelo sistema onde se inseria, segundo as vontades da autoridade, e de seus autoritarismos. Vivia de esmolas, de cantigas de rua, da sorte. Devia dinheiro a todos, pequenas quantidades. Precisava do seu fundo de maneio diário.Em troca fazia favores a todos. Embora todos desdenhassem dele, e das suas funções futéis. Já não o achavam necessário, nem era preciso. Havia a Tv, que divertia mais. Os Jornais e as palavras cruzadas. A rádio e suas playlists. Estava portanto antiquado, desfasado da realidade. No fundo era um animal em vias de extinção. ninguém queria ser visto com ele. A harmonia do sistema dispensava-o. Um dia construiu, um novo mundo. Imaginou de olhos fechados uma outra categoria de gente, aqueles que amavam só por amar, aqueles que não questionavam o outro, aqueles que viviam sintonizados e de mãos dadas. Onde ninguém tinha nada a apontar ao outro. Onde quem chorava era apoiado, quem ria era estimado, quem nada fazia era estimulado. Esse mundo nunca chegou a aparecer. E quando morreu, a ideia morreu com ele. Ninguém mais de recordou dele. Apenas se lembravam que tinha ficado de pagar as suas dividas. e de encantar as suas crianças com suas historias. Deixou toda a gente aborrecida por ter desaparecido assim. " Há gente que não merece a nossa consideração!", diziam.

Sem comentários: