A Abelha vivia agradavelmente em simbiose com a sua flor. Uma margarida linda, atraente e que lhe providenciava tudo o que desejava para a sua existência. De quando em vez esvoaçava para longe, para espaireçer, por gostar de vaguear e errar pelos campos, falando com outras abelhas, admirando outras flores. Corria riscos por vezes pois era incauta e quase era apanhada por sapos, rãs e seus derivados. Se bem que em breve, voltava a circular célere perto da sua flor. Os dias passavam e a sua vida era bela. Não podia dizer que algo lhe faltava, sentia-se plena. À margarida por seu turno, agradava-lhe ter a abelha consigo, pois cuidava dela, tratava-lhe das pétalas e tudo parecia correr bem. A abelha contudo era muito volátil, gostava do néctar da sua flor, adorava o seu pólen, e idolatrava o seu carácter e atitude. No entanto, a margarida por vezes, via que a abelha era resmungona, pois era muito ciosa do seu espaço, reparava que era excêntrica, quando se punha a olhar curiosa para a vida alheia, ou simplesmente a contemplar o azul do céu como que em transe. Comportamentos bizarros estes para uma abelha, mas a flor nada dizia, guardava tudo para si.
Veio o dia em que a abelha, nas suas voltas erráticas encontrou um grupo de joaninhas, que também esvoaçavam e se alimentavam de flor em flor. Vieram em conjunto, poisar na margarida, pois a abelha queria-lhes mostrar quão bem vivia, como estava instalada, e que de tudo dispunha. A margarida mostrou-se desagradada, deu um raspanete à abelha. A abelha acatou e regressou só.
Os por-do-Sol passam e o inverno chega, a abelha sente necessidade de cada vez dar voltas mais alargadas, o Inverno, a escuridão e a chuva deprimem-na. Vai-se esquecendo das suas necessidades e das da Margarida. Volta um dia, rodeada dum enxame de abelhas, e ébria de contente por ter tanta atenção! A margarida explode de raiva, diz-lhe que descuidou o seu lar. Tornou-se desmazelada. Disse-lhe que não queria mais tê-la por perto pois quase que murchava com tanta falta de apreço.Disse-lhe para seguir o seu caminho.
A Abelha quase que não acreditava na sua sina, perguntava-se em que tinha falhado, que mal lhe fez, que poderia fazer mais?...Sem flor, voava baixo entre as ervas, acoitava-se nas colmeias abandonadas ou em casulos desertos de um qualquer insecto. Deixou de vaguear, de contemplar a natureza, caminhava apenas pelo solo da floresta, já nada havia a fazer, já tinha visto tudo. Chegou o dia em que acordou e as suas asas cairam, apenas rastejava, com o ventre junto ao chão, a muito custo.Tentou em vão voar até ao Sol para morrer assim cremada! Sem sucesso. Olhou uma vez mais o céu, e tomou uma decisão...Atirando-se dum casulo suspenso numa árvore, caiu veloz dentro dum formigueiro, sendo despedaçada em três tempos e devorada de súbito...A flor essa permaneceu fiel às suas convicções, fazendo a fotossíntese e naturalmente a florir e a desabrochar quando um raio de Sol a atingia.
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
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