LVIX - Tolos
O Rapaz era o tolo da aldeia. Um entretem para toda a gente.
Um dia decidiu atirar-se ao rio. Foi ter à foz.
Aí não era conhecido mas continuava tonto. A vantagem é que ninguém sabia disso. Decidiu permanecer, e até que foi bem recebido. Entrava na Casa do Povo, bebia uns copos. Davam-lhe de comer. E de Dormir. Lavavam-lhe a roupa. Tomava banho em casa deste e daquele. Um dia conheceu outro tonto. O saloio. Davam-se bem. Comunicavam apenas balbuciando silabas. Babavam-se de quando em vez e formavam uma boa parelha. Começaram a dar espectáculos. Representações de situações absurdas. Como público tinham os intelectuais da praça. Abriram uma sociedade e tudo. A principio as criticas eram boas. Depois chegaram os primeiros apupos. Subiram até à nascente, Aí eram desconhecidos. Espectáculos de marionetes, fogo posto, assaltos à mão armada. Sempre seguidos de grandes ovações de pé, pelas gentes autoctones. O brio profissional decaiu. As dependencias de substancias estranhas ao corpo e à mente entravam-lhes frequentemente. Os discursos sempre iguais deprimiam os locais. Pela calada da noite, possuiaram os bens emocionais de todos. A aldeia acordou. Ninguém era capaz de sentir, ou de emocionar. O toque era neutro. O sabor incipiente. A cor, incolor. O Raciocionio, redundante. Tinham roubado tudo. As sensações inclusivé. Incapazes de discursar ou ter pontos de vista proprios, as gentes tornaram-se também elas, vazias. Incapazes de tudo. Impotentes para algo. Corriam de um lado para o outro qual galinha acabada de se cortar a cabeça.Veio o inverno. Ninguem acendia as lareiras. Inaptos para se moverem ou tomar qualquer decisão. O intelecto definhou. Os corpos estáticos. As gente imóveis. Não passavam de uma maquete. Eram feitos de gesso. Todos os observavam. Olhavam para cima incapazes de expressar opinião. Os outros que os miravam, davam classificações à perfeição dos pequenos humanos, com seus pequenos carros, casinhas, cães, eiras, quintais, etc. Não passavam de bonecos. Chegava o dia em que a exposição era desmontada. No dia seguinte, nesse mesmo espaço, expunha-se a Nauticampo. Foram desmontados, arrumados em caixotes. Empilhados num armazem longinquo. Os anos passaram. Veio o esquecimento. Os tolos da aldeia circulavam aqui e ali, cantando e rindo. A aldeia, a maquete, destruida. O armazém veio abaixo. Sobre ela, um campo de golfe, 27 apartamentos de luxo e uma piscina de 25 metros. Os tolos nadavam e bebiam margaritas, o sol descia, era hora do jantar. Recolheram a casa. Estava na altura de criar mais uma aldeia. O tempo passou. Mudaram de cenário. Desce o pano. Faz-se a entrevista. Combinam-se estratégias. Mais uma volta.Compram-se recordações. Partem. Pró ano há mais.
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
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