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segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Hábitos 16/05/07

LXXXIII - Hábitos


Y. vivia como assombração naquele lugar já há mais de meio século. Uma terra árida aquela, mas com lembranças de vivências antigas. De muita folia, de o bar cheio em noites cálidas. do cinema com histéricas gargalhadas, das palmas e ovações de pé vindas do circo e do lugar dos concertos. De um marasmo imenso de sensações. Nem só de alegrias se vivia ali, ecoavam ao vento a tristeza da mágoa de quem perdia alguém, os golpes de traição, as injurias, a calúnia alheia, o mal-dizer e a inveja. Contudo era a sua terra, e o seu espírito dizia-lhe que era a altura de sair. De deixar aquele lugar, de abandonar. De esqueçer e definhar.
Y. não estava pronto. Sentia dificuldades em aceitar a sua nova condição. Em extinguir-se. As memórias eram demasiado fortes apesar do tempo ser passado. Haviam muitas raizes que o prendiam ali. Muito rotina vivida. Nada mais a descobrir nem a buscar. Tudo sabia. Tudo memorizado, cada traço da rua, cada vidraça partida, cada ruído estranho. Tinha tudo decorado. Era seu. estava dentro dele para sempre. Como podia agora abandonar? Que ambições ou motivações o poderiam fazer partir? Sabia que o teria de fazer, mas deixar de sentir aquele sítio era sofrimento a mais. Um novo começo. Um outro rumo. Novos cheiros. Outras gentes. Algumas adaptações e inovações.
Seria um desalento, uma morte da alma restante, porém necessário.
Y. respirou fundo, fechou os olhos, virou costas e desapareceu. Para sempre.

1 comentário:

Cruztáceo disse...

Explosões e sensações! São cores. Sons. Cheiros. Formas. Luzes. Reflexos. Brilhantes. Imagens em espiral. Labirintos. Gente animada. Todos em procissão. João. Teatro. Mas em verbo. E nós teatramos por ser fácil deixar-se levar pela história. Concreta, sem o ser. Diverte. Contagia. Efeito centrípeto. Somos ela. Somos os todos, e os cada uns. Num palco. Escorregar. Ir à feira de emoções. A sério e de brincar. Está tudo lá. Adereços, figurinos, cenários fáceis e difíceis. Azuis de muitos cambiantes. Cavernas, horizontes, viagens por dentro de gente. Contente. Às vezes. Ser feliz e estar triste. Telas e pincéis, quadros surrealistas aparecem na nossa frente– uma oficina enfim.

Aqui são as minhas impressões de algumas histórias do blogo. Se isso importa, digo assim, o que gosto mesmo muito MUITO, MUITO, sem ordem: desordem:
- jardim
- LXXXIV viagem
- Hábitos
- Imaginação
- Energia interna


Gosto menos (ai.. sinto o bardam#&£§ a bafejar no meu pescoço... :) de outras. Notas aparentemente mais concretas e com direcções. "A luz apaga-se. A Bússola aponta.." para alguém de pessoa, real, que se adivinha do outro lado da pena. Percebes? diz-me se percebes.

assim,

um

brinde, um fogo de artifício,
e tudo e tudo

a

ti


s.
(publicado pela Susana que está armada em mete nojo)